Impactos devem ser sentidos, inclusive, em indicadores como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb
A cada dois anos o governo federal divulga o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que apresenta um retrato da qualidade da educação no Brasil.
Desde 2007, quando foi criado, o cenário não tem sido nada animador. Em 15 de setembro foram divulgados os resultados de 2019.
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O Brasil avançou em todas as etapas, mas apenas nos anos iniciais do ensino fundamental, do 1º ao 5º ano, cumpriu a meta de qualidade nacional.
“Não adianta crescer um pouco a cada ano, nossa defasagem no ensino é gigante. Se quisermos acompanhar o mundo lá fora, será preciso dar um salto”, diz a Oeste o secretário-geral da Frente Parlamentar Mista da Educação, deputado Professor Israel Batista (PV-DF).
O gerente de políticas educacionais da organização da sociedade civil Todos pela Educação, Gabriel Corrêa, destaca que os resultados dos anos iniciais do ensino fundamental registravam uma trajetória ascendente, mas o ritmo de avanço diminuiu ao longo das últimas edições.
“O destaque positivo e inusitado foi o ensino médio, que, depois de anos estagnado, agora em 2019 deu um salto importante de 0,4 ponto”, destaca Corrêa.
Para mostrar que o Brasil não apresenta um cenário de “terra arrasada”, ele destaca os bons resultados de alguns Estados: São Paulo, Ceará, Paraná, Goiás, Espírito Santo e Pernambuco.
Ideb 2019
- 1º ao 5º ano — O índice passou de 5,8, em 2017, para 5,9, em 2019, superando a meta nacional de 5,7, considerando tanto as escolas públicas quanto as particulares.
- 6º ao 9º ano — O índice avançou de 4,7 para 4,9. No entanto, não atingiu a meta fixada para a etapa, 5,2.
- Ensino médio — O índice evoluiu de 3,8 para 4,2, ficando também abaixo da meta, que era 5.
Pandemia e fechamento das escolas
O deputado Professor Israel Batista destaca que muitos alunos de escolas particulares mantiveram uma regularidade de ensino remoto, enquanto 5,8 milhões da rede pública não tiveram a mesma oportunidade, por não possuir banda larga ou internet móvel.
Vários órgãos e instituições internacionais já se manifestaram favoráveis ao retorno presencial às aulas, mas a situação do Brasil tem especificidades.
De acordo com o deputado, das 181,9 mil escolas da educação básica, 16% não contam com banheiro dentro do prédio; 49% não estão ligadas à rede de esgoto; 26% não possuem acesso à água encanada.
“Me pergunto qual nível de segurança sanitária existe para estudantes e comunidade escolar em um ambiente desses. Creio que nenhum. Cada caso é um caso, mas ficar sem agir é o maior erro. Mas acredito que um ensino on-line e ineficaz, que não alcança a todos, com certeza não é a educação que o Brasil merece e precisa”, afirma o deputado.
Gabriel Corrêa, da organização Todos pela Educação, explica que o Ideb é formado por dois indicadores: desempenho, que mede a aprendizagem dos alunos, e rendimento, que calcula as taxas de aprovação, reprovação e abandono escolar.
“O fechamento prolongado das escolas vai afetar esses dois componentes. Todas as pesquisas mostram que a suspensão de aulas presenciais por muito tempo afeta muito a aprendizagem dos alunos”, diz Corrêa.
Segundo ele, ações de ensino remoto são importantes neste momento, mas não dão conta de superar todos os desafios. “Também há um risco muito grande de aumento de abandono e de evasão escolar.”
“A única coisa que a gente não pode fazer é jogar para 2021 uma discussão tão importante só porque ela é complexa de ser feita”, diz Gabriel Corrêa, sobre a volta às aulas presenciais.