Duas sobreviventes do naufrágio em São Vicente (SP) descreveram os momentos de terror que viveram na noite de domingo, 29. O incidente ocorreu na área conhecida como Garganta do Diabo, famosa pelas fortes correntezas.
Camila Alves, de 20 anos, e Vanessa Audrey, de 35, se salvaram depois de se agarrarem em pedras próximas à Ilha Porchat. “A gente nasceu de novo”, disse Camila ao G1.
O acidente aconteceu durante o retorno de uma festa em uma lancha. A embarcação menor que transportava as vítimas de volta à terra tinha sete pessoas e afundou. Cinco pessoas foram resgatadas, enquanto Beatriz Tavares da Silva Faria, de 27 anos, e Aline Tamara Moreira de Amorim, de 37 anos, seguem desaparecidas.
As buscas foram retomadas na manhã desta segunda-feira, 30, pela Estação de Bombeiros Guarda-Vidas de São Vicente. O Corpo de Bombeiros foi acionado por moradores da região da Ilha Porchat e enviou ao menos três viaturas para ajudar no resgate. A Marinha do Brasil também enviou uma embarcação para auxiliar nos trabalhos.
Camila explicou ao portal G1 que ela, Vanessa e Aline viajaram de São Paulo para a Baixada Santista no fim de semana. No domingo, elas saíram de Santos para uma lancha em Guarujá, onde participavam de uma festa de aniversário.
Segundo Vanessa, havia pessoas desconhecidas na festa. O grupo aproveitou o dia em Guarujá, bebendo e andando em motos aquáticas.
O momento do naufrágio
Às 18h, quando o período de uso da lancha terminou, combinaram de se encontrar no Rocket Sea Club, na Ilha Porchat, para retornar a Santos por terra. As três amigas, junto com Beatriz, embarcaram em um dos barcos menores. O barco foi atingido por uma grande onda durante o trajeto para São Vicente, causando o naufrágio.
“A gente tentou subir no barco, só que ele afundou. Aí, um menino conseguiu espalhar coletes e galões de gasolina”, relatou Camila. A correnteza a levou, junto com o piloto do barco, para uma região de pedras. Mesmo com o colete, que ela não conseguiu vestir, as ondas passaram por cima deles, causando desespero.
“A gente via que não ia aguentar por muito tempo, bater o pé e engolir muita água. A nossa solução foi se jogar nas pedras para tentar se agarrar e se salvar”, recordou. Vanessa, que se agarrou em um colete com uma jovem desconhecida, explicou que naquele momento o objetivo era sobreviver. “Todo mundo subiu em cima do barco desesperado, só tinha três coletes e dois galões”, disse.
Assim como Camila, Vanessa foi levada para perto das pedras, abaixo da Ilha Porchat. Ela viu pessoas lá em cima e gritou por socorro enquanto se segurava nas rochas. “Chegou um momento na água que ninguém conseguia ver ninguém. Estava lutando pela vida”, lembrou Vanessa. Um homem conseguiu vê-la de cima e acionou o resgate.
Resgate e recuperação
Os bombeiros chegaram até ela e a levaram para a terra firme. Camila disse ao G1 que bateu o corpo com força nas pedras, causando um corte na cabeça e ferimentos nos joelhos e pernas. Ela precisou levar pontos na cabeça.
“Aí, eu fiquei vendo o menino [piloto] lá se afogar, eu não consegui voltar para salvar ele. Ele sumiu e eu comecei a gritar ‘socorro, socorro’, aí ele apareceu. Tinha tipo uma trilhazinha. A gente subiu e o Samu já estava lá em cima”, afirmou Camila.
“A gente nasceu de novo, o Samu falou para a gente. Estavam muito fortes [as ondas], a gente quase morreu. A gente não sabia nadar”. Na entrevista, Camila falou de sua preocupação com o desaparecimento da amiga Aline: “Ele falou que viu ela de colete e tudo, só que ele conseguiu se salvar e não acharam ela ainda. Tem outra menina [Beatriz], que está desaparecida também, que a gente não viu na hora”, disse. “A outra menina ninguém nem sabe, ninguém viu ela”, acrescentou.
“Cinco pessoas conseguiram chegar nessa pedra, e ela estava de colete. Então, a esperança é de que ela esteja lá”, concluiu Vanessa. As duas amigas receberam atendimento médico e ainda não retornaram para a capital paulista, pois, de acordo com elas, ainda prestarão depoimento à polícia.
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