O escritor e publicitário Paulo Peregrino, 61 anos, teve remissão completa de um câncer em apenas um mês a partir de uma terapia inovadora da Universidade de São Paulo (USP).
O tratamento chamado CAR-T Cell foi desenvolvido pela Faculdade de Medicina da USP e pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto em parceria com o Instituto Butantan e o Hemocentro de Ribeirão Preto.
Paulo Peregrino tinha linfoma não Hodgkin, um câncer que se origina no sistema linfático. Ele é um dos 14 pacientes que passaram pela nova terapia celular no Sistema Único de Saúde (SUS) — nove deles tiveram remissão.
O tratamento foi custeado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Paciente foi diagnosticado em 2018
O linfoma de Peregrino foi diagnosticado há cinco anos, em 2018. Ele já havia tratado outros tumores nos últimos 13 anos. O câncer no sistema linfático já estava tão avançado que Peregrino seria encaminhado aos cuidados paliativos — que aliviam o sofrimento quando a vida do paciente já está ameaçada. Ele deu início ao tratamento em dezembro do ano passado.
“Em abril de 2018, descobri meu primeiro linfoma”, disse Peregrino no Instagram. “Fiz dezenas de sessões de químio, internações, transplante de medula, quatro biópsias, tive hemorragia nas duas retinas, fui para a UTI. Inclusive, os médicos consideraram um milagre eu ter saído vivo de uma internação e uma cirurgia. Agora eu finalmente posso comemorar a minha terceira remissão. Obrigado, meu Deus, por mais essa oportunidade de vida”, completou.
Peregrino também agradeceu ao médico Vanderson Rocha e toda a equipe que cuidou dele. Nas redes sociais, o médico também comemorou o milagre realizado por meio da ciência.
Nas imagens pré e pós-tratamento, é possível observar a remissão dos linfomas. Conforme o médico, todos os pontos pretos são a doença, que havia se espalhado rapidamente pelo corpo do paciente. Na foto ao lado, do exame realizado em 23 de abril, os pontos que indicavam o câncer desapareceram. “Cadê a doença? Remissão completa”, comemorou o médico.
A terapia com células CAR-T só existia fora do Brasil, antes de ser implementada no SUS pela USP, pelo Instituto Butantan e peloHemocentro de Ribeirão Preto. Ela é um dos avanços mais importantes no combate ao câncer.
Na terapia, as células de defesa do paciente foram modificadas em laboratório para aprender a atacar linfomas e leucemia. Elas são introduzidas no organismo do paciente para que se reproduzam, e, assim, potencializam o combate feito pelo corpo contra o tumor.
Dados da pesquisa e da evolução do quadro do paciente ainda não foram publicados em revista científica nem revisados por pesquisadores independentes.
O primeiro produto de CAR-T Cell lançado no Brasil ficou disponível em novembro de 2022. O tratamento é indicado para pacientes adultos com linfoma difuso de grandes células B que não responderam a duas ou mais linhas de tratamento ou que voltaram a manifestar a doença após as terapias-padrão.
Também pode ser usado em crianças e jovens de até 25 anos com leucemia linfoblástica aguda de células B que não responderam ao tratamento-padrão, inclusive ao transplante de medula óssea.