Cidades do litoral paulista, próximas ao Porto de Santos, atraíram a atenção de criminosos do Primeiro Comando da Capital (PCC).
O porto é usado pela facção como o principal meio de embarque de cocaína para países da Europa. Na esteira desse crime, roubos, furtos, latrocínios e homicídios também são um desafio para a polícia.
Ao longo dos últimos 20 anos, a região viu diversos episódios de ataques a policiais e confrontos.
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Em setembro do ano passado, por exemplo, policiais militares foram recebidos a tiros no Morro do São Bento, em Santos.
Um bandido procurado pela Justiça acabou morto no confronto. Em represália, um grupo de criminosos incendiou um ônibus em uma avenida da cidade.
As facções criminosas e o Porto de Santos
Na última década, o berço do PCC também virou a “casa” de outras facções: Comando Vermelho (CV) e Família do Norte (FDN) estabeleceram suas bases em cidades da Baixada Santista.
O Porto de Santos, o maior da América Latina, é a principal porta de embarque no Brasil de cocaína destinada a países europeus e da Ásia.
De acordo com o levantamento realizado pelo Ministério Público, o PCC manda em torno de 1 tonelada da droga mensalmente para a Europa. Com isso, a facção alcança um faturamento de R$ 800 milhões, sendo a maior fonte de renda para a organização criminosa.
A máfia italiana
Na última década, a facção paulista uniu-se à máfia italiana. A descoberta foi feita em 2010 pela polícia do país europeu.
Conforme o Ministério Público de lá, a ‘Ndrangheta, a máfia da Calábria, é um dos principais compradores do PCC.
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Até o embarque no litoral paulista, a cocaína percorre longos trechos a partir da Bolívia e do Peru até galpões em Campinas e em Ribeirão Preto, no interior do Estado. De lá, é levada ao Porto de Santos, onde é embarcada em contêineres.
Nos últimos anos, a Polícia Federal e a Polícia Civil prenderam dezenas de traficantes. A maioria, apontada como liderança do PCC, estava radicada na Baixada Santista.
Na lista de presos também estão mafiosos da ‘Ndrangheta. Patrick Assisi e o pai dele, Nicola Assisi, por exemplo, viviam em uma cobertura luxuosa em Praia Grande até serem detidos, em 2019.
De acordo com o delegado Fabio Pinheiro Lopes, do Departamento Estadual de Investigações Criminais, o PCC cresceu na Baixada Santista por causa do porto.
“Os traficantes viram que fazer o tráfico internacional de drogas é mais rentável do que o tráfico no varejo dentro das comunidades”.
Ele citou como exemplo o caso do traficante André Oliveira Macedo, conhecido como André do Rap. O criminoso está foragido há mais de dois anos.
Em 2020, ele foi solto por uma decisão do Supremo Tribunal Federal, que no mesmo dia revogou o alvará e determinou sua volta à prisão. Porém, desde então, André do Rap nunca mais foi visto.
Segundo o delegado, o criminoso era um pequeno traficante que atuava na região do Guarujá, mas se tornou um dos mais poderosos narcotraficantes da América do Sul, gerenciando o envio de grandes remessas de cocaína à Europa.
Morte de soldado da Rota
Na semana passada, o soldado Patrick Reis, das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), foi morto durante um patrulhamento em uma comunidade do Guarujá, no litoral paulista.
O assassinato desencadeou a Operação Escudo, da Polícia Militar. Desde sexta-feira 28, as forças de segurança estão em cidades do litoral consideradas críticas na tentativa de sufocar o crime organizado.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, 16 suspeitos foram mortos em supostos confrontos com a polícia nesse período.
Ao todo, 86 pessoas foram presas na Operação Escudo na Baixada Santista, entre os dias 28 de julho e 1º de agosto. Outros quatro adolescentes foram apreendidos por tráfico de drogas. Até terça-feira, a polícia apreendeu 385 quilos de entorpecentes e 18 armas, entre pistolas e fuzis.
Suspeitos de assassinato presos
A Polícia Civil concluiu a investigação sobre a morte do soldado da Rota. Três criminosos foram indiciados pela execução.
O delegado responsável pelo caso, Antonio Sucupira Neto, da delegacia do Guarujá, afirmou que as autoridades já estabeleceram o papel dos envolvidos na cena do crime.
Erickson David da Silva, o atirador que se entregou às autoridades no domingo 30, e o irmão dele, Kauã Silva — preso na quarta-feira 2, e outro criminoso, conhecido como “Mazzaropi”, também foram indiciado. Todos são suspeitos de participarem da execução do militar.
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