O Ocidente está em crise, uma crise que — há tempos — se estende da moral à economia, mas agora está sob reais ameaças de guerra global. Segundo Douglas Murray e Spencer Klavan, cientistas políticos especialistas em Ocidente, o Oriente Médio e alguns países do Extremo Oriente, além dos já conhecidos sabotadores “progressistas” ocidentais, deliberadamente estão minando as raízes, virtudes e forças que fizeram do Ocidente o lugar mais seguro e livre dos últimos séculos neste planeta. E o que fazer quando os inimigos estão vencendo?
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Em momentos como esses, é comum — como já tinha sido depois da década de 1940 — procurarmos respostas assertivas sobre o que fizemos de errado. Porém, mais do que isso, procuramos lideranças que sejam capazes de enfrentar os problemas, dar saídas factuais para os entraves e combates que ameaçam as nossas seguranças, restaurar a vida comum e segurança dos indivíduos.
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Uma das formas mais eficientes de analisarmos no que erramos e o que devemos fazer para transformar o Ocidente num lugar livre e seguro novamente é revisitar aqueles líderes que venceram o mal político no século passado. Estamos falando especificamente de João Paulo II, Ronald Reagan e Margareth Thatcher, o trio que enfrentou os problemas geopolíticos, morais e econômicos do Ocidente na segunda metade do século 20, em seus tempos, sem buscar negociar com totalitarismos, sem amolecer as nossas convicções para caberem dentro das exigências de ditadores. Foram líderes que recolocaram seus países num rumo de prosperidade sem se preocuparem com populismos e interdições políticas de ideólogos.
Um livro sobre liderança
O presidente, o papa e a primeira-ministra é um dos melhores livros para entendermos como pessoas certas, nos lugares certos, nos momentos certos, são capazes de mudar o rumo da história e renovar uma civilização claudicante, reafirmando aqueles princípios de grandeza e retidão que foram perdidos com ideologias e políticas de apaziguamento catastróficas — aquilo que chamo carinhosamente de política de bundões.
John O’Sullivan, historiador e jornalista norte-americano, recriou em tom de saga uma biografia histórica e política desses grandes estadistas ocidentais, dando ao referido livro uma estrutura quase que de romance. O que o autor busca nos mostrar, no entanto, é como as histórias, ideias e ações parecem ter sido guiadas por uma espécie de providência histórica — ou divina, como quiserem —, a fim de finalmente vencerem o grande totalitarismo ainda restante no mundo: naqueles dias, a União Soviética.
O’Sullivan mostra-nos como — em três grande setores da sociedade, cada um encabeçado por um líder, Thatcher na economia, Regan na política e João Paulo II na religião e na cultura — esses colossos ocidentais desconstruíram e desacreditaram as bases do comunismo soviético no Ocidente, transformando cada dia mais o modelo russo-soviético — aos olhos do cidadãos ocidentais — numa espécie de entulho ideológico dispensável no mundo político moderno. Segundo o autor, os três — o presidente, o papa e a primeira-ministra — foram diretamente os grandes responsáveis pela queda do comunismo soviético no século passado.
As ações de três líderes ocidentais
Desde as lutas religiosas e culturais enfrentadas corajosamente por João Paulo II, ainda quando era um simples padre em Cracóvia, na Polônia, e depois como arcebispo e papa, contra o partido comunista polonês. A luta interna da Dama de Ferro contra a burocracia britânica e todo seu aparato socialista, que atravessava desde o Partido Trabalhista até o Partido Conservador. Até à coragem política de Ronald Reagan demonstrada em seus discursos únicos, que literalmente desencorajavam, quando não minavam, os apreços ocidentais com relação à União Soviética.
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O livro, assim, se mostra completo em narrar a história diplomática que o “progressismo” moderno ocultou até hoje, em especial aos brasileiros: foram os conservadores que consertaram o Ocidente quando ele estava a um passo de se desmanchar em ideologias desumanas e assassinas.
A obra, em linhas gerais, mostra-nos como Thatcher reestabeleceu uma economia liberal na Inglaterra, devolveu ao centro de comando da vida pública britânica o indivíduo, retirando os velhos sindicatos e os leviatãs burocratas dos seus castelos de poder e tirania.
O livro destaca como João Paulo II restaurou a fé católica naqueles valores centrais do cristianismo clássico, colocou a Teologia da Libertação em seu lugar ideológico, minando profundamente a sua expansão global como uma vertente religiosa de um sovietismo imperial, ajudando, inclusive, em especial, a Polônia a ser o país que iniciou a derrocada final do sovietismo, quando a população acossou os comunistas do seu aparato político.
E reforça como Reagan reestabeleceu a soberania retórica e moral do Ocidente, comandando a queda do Muro de Berlim como um estadista grandioso, devolvendo ao Ocidente não só uma sensação de segurança política, econômica e moral, mas trazendo para o centro do debate ocidental o fracasso do projeto comunista propriamente dito.
Produção mostra o que falta atualmente no Ocidente
Um livro que nos mostra, por fim, que o Ocidente, em seu momento mais desesperador no século 20, encontrou em três figuras corajosas, inteligentes e capazes a saída final do abismo que se desenhava logo ali. Com o passar dos anos, tendemos a nos esquecer que foram as afrontosas e inteligentes oposições desses três colossos que devolveram ao Ocidente a liberdade que tantos prezamos.
O apaziguamento, tal como o patético Neville Chamberlain tentou por quase duas décadas, mostrou-se como uma espécie de tobogã histórico para a desgraça geopolítica, fomentou o nazismo na Alemanha e a expansão soviética no leste europeu. O que os três personagens liberais-conservadores mostraram a nós naqueles dias, e que até hoje é válido, consiste no fato de que, diante do mal geopolítico, nós o enfrentamos, e não fugimos. Quando corremos do mal, ele nos caça, nos acha e nos engole. Os aduladores de erros, os terapeutas de terroristas, aqueles que se iludem na negociata moral com totalitários pela manhã, acabam sendo a janta deles pela noite.
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O Ocidente, mostra-nos John O’Sullivan, quando encontrou os líderes certos logo enfrentou o mal de frente, parando de incensar as bestialidades dos comunistas a fim de expor ao mundo o que o comunismo era por detrás de suas lingeries retóricas. O resultado foi — em termos históricos — a quase imediata desidratação desse mal político, a verdade vencendo a propaganda, a liberdade sobrepujando a servidão ideológica.
Análise final sobre o livro de John O’Sullivan
Eu me arriscaria a dizer, sem nenhum pedantismo ou falso louvor, que não há livro mais urgente para o nosso atual momento ocidental do que esse: O presidente o papa e primeira-ministra. Desde o advento da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, tornou-se premente lembrar o que devemos fazer diante do mal.
Lançado em 2022, pelo Clube Ludovico, aos seus assinantes, em junho deste ano a obra ganhou a sua versão em brochura e está à venda ao público geral sob uma nova revisão geral e trabalho estético feitos pela equipe da editora LVM. A edição que já havia circulado antes pelo Brasil tratava-se de uma portuguesa, da Alêtheia Editores, lançada em 2009 — a edição norte-americana é de 2006.
A editora brasileira adquiriu assim a ótima e já conhecida tradução portuguesa de João Tordo e adaptou a linguagem para o português brasileiro, quando necessário. A conclusão foi uma ótima edição geral.
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