Quando o empreendedor Marcus Loew se juntou aos produtores Samuel Goldwin e Louis B, Mayer, eles estavam dando vida a figuras que se misturariam ao imáginário e à realidade das pessoas, por meio dos filmes. Da união, por exemplo, surgiu a paixão de Doutor Jivago (Omar Sharif) por Lara (Julie Christie). E o próprio Tema de Lara, melodia marcada pela ternura e leveza, inspirada em Tchaikovsky.
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Vieram dela também as aventuras de Dorothy (Judy Garland), no Mágico de Oz. E o rugido do leão, Leo, mais famoso da história, antes de cada filme. Naquele acordo, formalizado em Nova York, em 1924, era fundada a Metro-Goldwin-Mayer (MGM), que, nesta quarta-feira, 17, completa cem anos.
O estúdio foi concebido em meio a um contexto que fez do cinema uma verdadeira fábrica de sonhos para imigrantes, desempregados ou trabalhadores. Eles passavam horas a fio na função de auxiliares de escritório, mascates, engraxates, enquanto vislumbravam um futuro promissor, a realização pessoal. O cenário dessas fábulas reais era Nova York ou as principais cidades norte-americanas em processo de intensa urbanização.
Do outro lado do país, Los Angeles, em sua vastidão, se tornava o palco onde essas iniciativas cinematográficas, esgotadas nos quarteirões de metrópoles apertadas, se concretizavam. Localidades como Hollywood, coloridas pelo sol californiano, tinham muito espaço para a construção de amplos estúdios.
Foi essa a trilha desses três fundadores, que mergulharam no mundo da vaudeville (apresentações em salas), em que se conheceram, e depois dos nickelodeons (pequenas salas de projeção). Estes expressavam a alma humana de uma maneira tão intensa que, ainda mais do que um meio de subsistência, simbolizavam a esperança.
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Os três proprietários, de origem judaica, deram início ao empreendimento ao juntar características específicas. Marcus (1870-1927) tinha uma rede de cinemas e havia comprado a Metro Pictures, em 1920, para poder produzir filmes.
Incorporou à aquisição, alguns anos depois, a Goldwyn Picture Corporation, com problemas financeiros, que na época era controlada pelo empresário teatral Lee Shubert.
Era a Goldwyn Pictures que detinha a marca registrada Leo the Lion, possuía expertise e mantinha um estúdio em Culver City, Califórnia. Seu fundador, Samuel Goldwyn, teve dificuldades em gerir a companhia.
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O primeiro leão foi Slats, nascido no Zoológico de Dublin, na Irlanda. Estreou em 1924, quando a Goldwyn Pictures era uma produtora independente. Quem o criou foi Howard Dietz, chefe da publicidade do estúdio. A ideia era dar uma identidade de força para a produtora, baseada no logotipo das equipes esportivas da Universidade Columbia, onde Dietz estudou. Outro leão que marcou época no papel de Leo, foi Jackie.
Para cuidar das finanças e da gestão, Marcus se uniu a Louis B. Mayer, que também tinha a Louis B. Mayer Productions e, excelente administrador, deu sustentação e glamour, com métodos rígidos e às vezes crueis, ao estúdio cinematográfico depois da morte de Marcus, decorrente de um infarte.
Louis, com sua personalidade forte, se tornou um dos homens mais marcantes da história cinematográfica, ao levar o estúdio aos seus anos de ouro.
Crise e novos caminhos para a MGM
Na fase embrionária do cinema, quando a MGM foi criada, a origem de muitos estúdios se mistura. Goldwin, por exemplo, havia emprestado dinheiro para o seu cunhado, Jesse Lasky, estruturar a Famous Players, pouco antes de Lasky fundar, com Adolph Zukor, a Paramount.
A união centenária para a formação da MGM foi responsável por grande parte das maiores produções do cinema, entre elas Rocky, Ben-Hur e as sequências de 007.
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A partir dos anos 1960, os conceitos de muitos dos filmes se estagnaram, e a empresa entrou em crise. Foi comprada pelo milionário Kirk Kerkorian, pelo empresário Ted Turner e, em 1990, pelo financista italiano Giancarlo Parretti.
Nos anos 2000, a Sony e a 20th Century Fox se tornaram parceiras em distribuição e negociaram para adquirir a MGM. No entanto, a empresa iniciou um processo mais intenso de reestruturação a partir do momento em que foi incorporada à Amazon, por US$ 8,5 bilhões.
Séries como The Handmaid´s Tale e Origem compõem a lista de sucessos atuais. O streaming se tornou a nova forma de a centenária MGM fabricar sonhos.