“O que é uma mulher?” Eis aí uma pergunta que está ferindo, de forma brutal, o progressismo e os ideólogos de gênero no Ocidente. Uma das obviedades mais aclaradas de nossa realidade costumava ser a binaridade sexual da espécie humana, mas, desde meados do século 20, isso também passou a ser relativizado na academia, e o que era profundamente aceito, testado e observado, foi envolvido numa bruma densa de ideologia pós-modernista por profissionais da confusão conceitual, por vezes, denominados de “intelectuais” ou “especialistas”. Mulher é — ou, ao menos, costumava ser — uma das variações sexuais do ser humano, uma realidade assente definida biológica, genética, psicológica e, até pouco tempo, socialmente, tudo isso sem muitas dificuldades e alardes. E era assim entendido não por influência de uma força patriarcal e branca como os identitaristas vomitam por aí. Acreditem se quiser, não é culpa do homem branco, europeu e hétero que alguns tenham vaginas ao invés de pênis, cromossomos XX ao invés de XY, níveis de hormônio naturalmente diversos e até mesmo preferências sociais diferentes.
Sempre foi tão claro o que é uma mulher e o que é um homem que questionar isso era como perguntar o que é a “vida” ou a “existência”. Tal obviedade, em outros dias, colaboraram não somente para a causa conservadora, como hoje alguns pensam; afinal, definir o que é uma mulher não se trata de algo feito para dizer, no final de um churrasco de trogloditas, que lugar de mulher é “na cozinha”, mas também para dizer que mulheres e homens gozam naturalmente de direitos naturais de igualdade política, jurídica e social. Aliás, o próprio feminismo só faz sentido se soubermos o que é uma mulher, não é mesmo?
Matt Walsh resolveu ir à fundo nessa questão, tanto em seu documentário What is a Woman, lançado nos EUA, pelo Daily Wire, em junho de 2022, quanto em seu livro homônimo O que é uma mulher? – A jornada de um homem para responder à questão de gênero, recém-lançado no Brasil pela editora LVM e editado por este que vos fala, ou melhor, vos escreve.
Assisti ao documentário de Walsh assim que foi lançado no Twitter/X, acompanhei desde o início o rebuliço que causou nos EUA e em certos setores progressistas no Brasil. O longa lembrou-me muito outro ótimo documentário: “Lavagem cerebral” (no original, Hjernevask), do sociólogo e comediante norueguês Herald Eia. Lançado em 2010, o documentário, dividido em sete episódios, investigou a mesma questão de gênero sobre a qual Matt Walsh se debruçou, só que em um dos países mais abertos à ideologia de gênero do mundo, a Noruega. Eia colocou, assim como Walsh, vários “especialistas” de gênero em maus lençóis e esclareceu o caráter anticientífico daquela ideia de “gênero fluido”.
Matt Walsh, jornalista e comentarista político norte-americano, no entanto, foi além de Eia. Ele escreveu também um livro que serve como aperfeiçoamento de seu documentário, e por isso é mais profundo que aquele; citando fontes diretas de suas investigações, bem como conclusões mais ajustadas e apuradas do que aquelas apresentadas no filme, Walsh amarra no livro aquilo que, por natural demanda de um roteiro de filme, fica solto ou inconclusivo. Confesso que acho o documentário norueguês mais completo, as entrevistas e perguntas do sociólogo me parecem também mais centrais, essenciais. No entanto, Matt Walsh, sem dúvida, foi mais certeiro no quesito “tirar a cobra do ninho”; como o próprio comentarista conservador havia dito em um tuíte, ele não queria investigar o tema de gênero “com pessoas que concordam com seu ponto de vista”, queria antes saber o que os ideólogos de gênero acreditavam e como definiam “mulher” por meio de suas próprias palavras. E é aí que o leite azedou para os progressistas…
É cientificamente interessante ver os acadêmicos, defensores da teoria de gênero, tendo que falar abertamente do bizarro experimento — por eles admirado em segredo — de John Money, no caso dos irmãos Reimer; e ainda Matt Walsh perguntando ao professor de psicologia, dono da cadeira do programa interdisciplinar de Mulher, Gênero e Sexualidade, da Universidade do Tennessee, dr. Patrick Grzanka, “o que é uma mulher?”, para em seguida vê-lo se engasgando e ficando vermelho sem conseguir responder diretamente à pergunta. É algo realmente impagável… Sim, é isso mesmo, o professor de Mulher, Gênero e Sexualidade de uma universidade norte-americana não sabia definir mulher…
Aliás, segundo Matt Walsh, a inspiração para o documentário, que culminou posteriormente no livro, foi o fato de que nenhum partidário da teoria de gênero conseguiu responder com o mínimo de coerência e inteligibilidade a pergunta que ele fez em um tuíte: o que é uma mulher? Valendo-se, assim, de uma mísera pergunta repetida a esmo tanto no documentário quanto no livro, o norte-americano conseguiu revelar a face do identitarismo acadêmico e midiático, conseguiu que os próprios ideólogos transparecessem suas confusões e a completa falta de senso lógico de suas crenças de gênero. Se Eia é mais profundo, Walsh é mais hábil e provocativo, sabe extrair dos teóricos a confusão ideológica que eles escondem atrás de termos técnicos e confusões linguísticas.
Especificamente no livro O que é uma mulher?, vemos a face investigativa séria do Matt Walsh, seriedade essa criticada no documentário por alguns progressistas norte-americanos e europeus. Com centenas de notas de rodapé, o comentarista político constrói um mapa histórico-acadêmico do surgimento, desenvolvimento, aceitação e propagação da ideologia de gênero no Ocidente. É justamente isso que faltou ao documentário Lavagem cerebral, de Eia: explorar as consequências reais, cruentas dessa ideologia bisonha. O livro de Walsh traz as transcrições de vários diálogos, entre os quais alguns com pessoas que passaram pela transição de gênero, que, desde pequenas, foram convencidas por professores, psicólogos e mídias de que teriam almas (psiques) diferentes de seus corpos, sujeitando-se em seguida a uma “carnificina cirúrgica” a fim de redesignarem seus sexos. A redesignação sexual ganha pelo menos três bons capítulos na obra, mostrando a sua crueldade e falta de aplicação efetiva ao que se propõe ser: mudança da aparência sexual em busca de tranquilidade psicológica.
Já li muitos livros sobre esse tema, e estou convencido de que essa ideologia será uma das vergonhas humanas daqui algumas décadas; quem pagará esse caríssimo boleto? Eis outra questão. Nós iremos nos lembrar com espanto e vergonha desse momento, pois os milhões de indivíduos que foram usados por essa ideologia não são partículas de poeira que podem ser varridas para baixo do tapete da história e esquecidos até que alguma faxineira intelectual sorrateiramente amenize o fedor, limpe a sujeira e saia com o lixo pelas portas dos fundos. Essas pessoas, esses indivíduos com dignidade e direitos, falam e, ainda que profundamente afetadas e anestesiadas pela retórica progressista de gênero, têm consciências funcionais e, mais cedo ou mais tarde, a usarão. Muitas delas despertarão em algum momento e contarão ao mundo o que viveram, falarão de tudo pelo que passaram em nome de uma agenda político-sexual universitária.
O que é uma mulher expõe as consequências da ideologia de gênero
O que é uma mulher? é o primeiro livro de alcance global que contou ao mundo não só onde nasceu e o que é a ideologia de gênero, mas as consequências reais dela — e essa é a sua importância maior. Já existiam livros bem fundamentados que desmascaravam a ideologia de gênero, mas nenhum deles de renome e alcance que mostravam os frutos práticos de tudo isso. Bestseller literário na Amazon, USA Today, The Wall Street Journal, Publishers Weekly e Seattle Times, o livro de Walsh foi sucesso de vendas nos em todo o país.
E é bom sempre deixar claro: que ninguém confunda aqui o direito natural de os indivíduos viverem as suas vidas e o dever cívico quase sagrado de respeitarmos as diferenças das escolhas individuais. O que aqui é denunciado por Walsh é muito mais profundo do que uma guerra reacionária contra gays ou espantos morais e religiosos ante fetiches sexuais de terceiros. O que é analisado em O que é uma mulher? é de uma engenharia social e política sem nenhum fundamento ético e científico, uma agenda ideológica transvestida de lutas sociais e porcamente pintada de ciência que busca um controle absoluto sobre os indivíduos, e quando digo “absoluto”, o digo sem nenhuma força retórica.
A acusação de Walsh — cujas provas figuram no documentário e no livro — é de que existe hoje um conglomerado acadêmico e midiático que, subvertendo a nossa percepção mais íntima de identidade por meio de uma ideologia, passa a ditar o que nós somos à revelia do que nossas próprias consciências têm a dizer a respeito, à revelia de toda ciência real, medicina testada e o mais básico senso comum. Uma ideologia que ante a qualquer oposição formal e informal, pede o cancelamento imediato e, não raro, a prisão dos dissidentes da agenda de gênero. A teoria de gênero é política, e não ciência!
Essa é a maior das tiranias contemporâneas — não tenho dúvida — e por isso insisto em denunciá-la; esse é um controle que nem mesmo Stálin e Hitler sonharam em ter um dia, um controle tão absoluto sobre nossa mais básica e óbvia identificação que não seríamos mais nós a dizermos quem e o que somos, mas sim ideólogos de jalecos e políticos em palanques. O que é uma mulher? é profundamente perturbador e urgente.
Algum progressista aflito que, por algum milagre, tenha chegado até aqui em meu texto, pode ter guardado seu protesto identitário para este momento: “Mas Walsh é homem, e qual direito tem ele de definir o que é uma mulher? Ele não tem lugar de fala.” Isso nos faria voltar à questão primordial, quase socrática nos dias atuais: mas afinal, caro progressista afoito, para dizer que somente uma “mulher” pode dizer “o que é uma mulher”, temos que saber antes… O que é uma mulher?
Leia também: O que é uma mulher?, artigo de Fraser Myers, da Spiked, publicado na Edição 159 da Revista Oeste
Muito bom!
O insolito para muitos é passar toda uma vida com uma pessoa e descobrir que a amada esposa jamais foi uma mulher. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Parabéns ! Nada como colocar a ciência no seu devido lugar. Deus Criador e ciência são inseparáveis. Aliás, todas as análises e conclusões de especialistas, tem um único objetivo: invalidar, dominar e destruir o ser humano.
Artigo pertinente. Foi interessante e esclarecedor o ponto de vista abordado.