O bom desempenho da indústria brasileira no primeiro trimestre deste ano, mesmo diante das enormes dificuldades impostas pela pandemia de covid-19, se deve também a acertos do governo federal. Esta é a avaliação de especialistas ouvidos por Oeste, que falaram sobre a retomada econômica do país em 2021 (clique aqui para ler a reportagem especial completa).
“O governo acertou quando fez a flexibilização das regras trabalhistas permitindo a suspensão de contratos, redução de salário e jornada, com o complemento parcial de verbas públicas dos salários. Isso fez com que a gente sofresse menos perda de emprego formal e pudesse manter o poder de compra desses trabalhadores”, afirma o diretor-executivo de economia e estratégia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), André Rebelo.
Reportagem especial: “A resiliência da indústria”
“A outra coisa foi em relação ao capital de giro das empresas. Primeiro o governo atrasou o recolhimento de alguns impostos federais e esse dinheiro ficou nas empresas. Isso ajudou na travessia da fase mais aguda da pandemia. E depois fez linhas de crédito especiais, principalmente para pequenas empresas. Por fim, o auxílio emergencial colocou demanda nas famílias. O governo injetou quase R$ 300 bilhões, e isso virou consumo e gastos das famílias, o que fez a roda da economia voltar a girar. Com isso, entramos no ano com a indústria e o varejo em níveis acima do que estavam antes da pandemia”, completa.
Marcelo Azevedo, gerente de análise econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), afirma que foi necessário manter a atividade em níveis mais altos para suprir estoques baixos em alguns setores. “A recuperação forte foi muito acelerada e aconteceu com uma certa descoordenação das cadeias produtivas maiores. Estamos com um problema de insumos e matérias-primas, com estoques baixos. Então, a atividade vem se mantendo alta também para tentar acertar essa questão dos estoques”, aponta.
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A indústria automobilística, por exemplo, ainda vem sofrendo muito pela falta de insumos para a produção de peças. “O setor de veículos automotores foi muito prejudicado pela parte das exportações. Esse desarranjo de oferta e demanda nas cadeias [produtivas] é muito prejudicial. É uma linha longa, com ajustes apertados, em termos de fornecimentos e linha produtiva. Qualquer ruptura atrapalha bastante. Então, é um setor que realmente vem tendo dificuldades.”
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Rebelo fala em uma “engasgada” da indústria automobilística, que chegou a esboçar reação, mas vislumbra uma rápida retomada. “A indústria automobilística teve uma boa recuperação e agora deu uma engasgada, tanto por restrições no comércio em março quanto por falta de componentes, mas já está retomando. Os dados de abril mostraram crescimento de 8% e deve haver outro crescimento em maio. As vendas não caíram tanto com as restrições. Veremos uma aceleração na produção de automóveis nos próximos meses.”
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