No fim de 2023, os principais índices das Bolsas de Valores do mundo todo estão alcançando seus máximos históricos desde 2008.
Com um cenário como esse, parece estranho falar de uma corrida para ativos considerados como “ativos portos seguros“, pois o apetite dos investidores para o risco deveria privilegiar compras de ações ou títulos.
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Entretanto, o “ativo porto seguro” mais famoso de todos, o ouro, está alcançando cotações jamais registradas nas últimas semanas.
Ele é impulsionado por expectativas que envolvem o fim do ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos e o início do corte de juros em 2024.
Os contratos futuros do ouro, com entrega para fevereiro de 2024, chegaram ao nível recorde de US$ 2.151,20 por onça no começo de dezembro. Esse patamar superou os níveis de agosto de 2020, no auge da pandemia de coronavírus.
Patamar psicológico de US$ 2 mil por onça de ouro
Nos últimos dois anos as cotações do ouro já haviam se aproximado dos US$ 2 mil por onça duas vezes nos últimos dois anos: em março de 2022 e em maio deste ano.
O patamar de US$ 2 mil continuou sendo uma espécie de imã: cada queda nos preços transformava-se prontamente em novas compras.
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Desde o começo do ano, a valorização do ouro foi próxima de 15%.
A orientação da maioria dos analistas continua positiva sobre os preços no médio prazo, com metas superiores aos níveis atuais, graças à possível mudança de direção da política monetária por parte do Federal Reserve (Fed), Banco Central dos Estados Unidos.
Os movimentos dos bancos centrais
Entre as razões que estariam levando investidores a preferir o ouro a outras classes de ativos poderiam estar as duas guerras em andamento ao longo deste ano: Ucrânia e Israel.
As incertezas geopolíticas poderiam justificar uma diversificação dos investimentos para ativos mais defensivos.
Todavia, o interesse pelo ouro é sem dúvida fortemente influenciado pelas orientações dos bancos centrais.
A última alta do ouro começou em outubro, depois de uma leve queda para cerca de US$ 1,8 mil por onça.
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A corrida para o alto da cotação do metal foi alimentada pela expectativa de uma taxa de juros dos Estados Unidos mais baixa nos próximos meses, graças aos dados positivos da inflação.
O mercado até começou a prever um corte nas taxas nos primeiros meses de 2024, e com isso a cotação subiu de forma expressiva.
O ouro não paga dividendos, e a perspectiva de taxas mais baixas alimenta as compras.
O aspecto surpreendente dessa dinâmica, todavia, é que o ouro permaneceu com uma cotação robusta nos últimos dois anos, apesar das taxas de juros reais em rápido crescimento, que passaram do território negativo para um nível acima de 2% nas economias mais avançadas.
Reservas de ouro reforçadas pelos Bancos Centrais
Um importante motor de sustentação das cotações do metal amarelo, apesar de um contexto monetário complicado, veio não apenas da procura constante de diversificação por parte dos investidores, mas também das compras maciças realizadas pelos bancos centrais.
Somente no terceiro trimestre de 2023 as reservas de ouro aumentaram 337 toneladas a nível internacional, enquanto a acumulação desde o início do ano chega a 800 toneladas.
Em comparação com o mesmo período do ano passado, as compras de ouro por parte dos bancos centrais aumentaram 14%.
Uma quantidade recorde no espaço de nove meses, o que corresponde a mais de um terço da produção mundial do ouro no mesmo período, que também foi também foi recorde.
O Banco Central da China foi o primeiro a agir, aumentando as compras.
Somente nos primeiros nove meses do ano, Pequim adquiriu 181 toneladas de ouro, segundo os dados do Conselho Mundial do Ouro.
Essas compras dependem provavelmente do desejo de reduzir o grau de dependência da China, em relação ao dólar. Em contrapartida, mostram o desejo chinês de reforçar as suas reservas internas.
O congelamento das reservas monetárias russas mantidas no exterior como resposta a invasão da Ucrânia mostrou para a China que manter apenas dólares como reserva pode ser uma vulnerabilidade frente as sanções internacionais.
A “fome de ouro” dos bancos centrais é um termômetro importante para a compreensão da tendência de alta das cotações. Um sinal que muitos investidores não subestimaram. E que poderá continuar ao longo de 2024.