O centro de Lusaka, capital da Zâmbia, tornou-se palco de uma investigação misteriosa. Em 14 de agosto, a Comissão Antidrogas (DEC) do país interceptou um avião privado com quase US$ 6 milhões em dinheiro, cinco armas, 126 cartuchos de munição, equipamento para pesar ouro, além de cerca de 127 quilos de barras de ouro.
Posteriormente, as autoridades da Zâmbia descobriram que as barras não eram de ouro puro. Na verdade, tratava-se de uma mistura de zinco, cobre e níquel.
A Comissão anunciou a prisão de dez pessoas pela posse de bens perigosos. Foram um zambiano, um espanhol, um holandês e um letão, além de seis egípcios que não foram identificados.
Declarações da Comissão Antidrogas
Em entrevista coletiva após a operação de 14 de agosto, o diretor-geral do DEC, Nason Banda, declarou que os investigadores do aeroporto receberam alerta acerca da carga suspeita do avião. Para Banda, “este foi um caso claro de fraude, fraude de ouro”.
O diretor-geral também relatou que a ação provavelmente tinha contado com o envolvimento de outros zambianos. De fato, pouco tempo depois de as investigações começarem, outros quatro foram presos.
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O jato apreendido, um Bombardier Global Express, pertence à Flying Group Middle East, cuja sede fica em Dubai. É subsidiária de uma outra companhia de mesmo nome, sediada na Antuérpia, que freta aeronaves privadas ou compartilhadas.
De acordo com o planefinder.net, o voo anterior do avião tinha sido de Amã (Jordânia) para o Cairo (Egito). Antes disso, a aeronave também tinha viajado para Dubai e para Tripoli, na Líbia.
As autoridades de Zâmbia também apreenderam uma segunda aeronave, menor, que pertence a um operador zambiano. Acredita-se que o avião tenha ligação com o Bombardier Global Express.
Na semana passada, os seis prisioneiros egípcios não compareceram ao tribunal em Lusaka. Segundo relatos da imprensa local, seus advogados justificaram a ausência por motivo de doença.
Ainda não há informações seguras acerca da origem das barras de ouro falsas.
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Repercussão no Egito
No Egito, diante de uma cobertura sucinta pela agência de notícias estatal, jornalistas independentes resolveram investigar quem eram os compatriotas que estavam no avião.
Os meios de comunicação egípcios divulgaram a suspeita de que servidores militares e da segurança do Egito estavam entre os detidos. Algumas iniciativas independentes supostamente conseguiram a informação e publicaram os nomes dos réus.
O site Matsada2sh, gíria árabe que significa “Não Acredite”, compartilhou que três deles pareciam trabalhar para o governo: um agente da polícia, um general militar e um antigo adido militar na embaixada do Egito nos Estados Unidos.
O canal estatal se restringiu a citar uma fonte anônima, segundo a qual o avião tinha passado “por todas as inspeções de segurança” no Aeroporto Internacional do Cairo.
Para tentar coibir a divulgação da notícia, no sábado, forças de segurança egípcias invadiram a casa de Karim Assad, um dos jornalistas do Matsada2sh.
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Os agentes o forçaram a apagar duas publicações da página do Facebook do canal. Sem acusação formal, as autoridades prenderam o jornalista e outra funcionária do site, liberando ambos no dia seguinte.
Saída de dinheiro do Egito
Muitos egípcios especulam que o acontecimento faz parte de uma operação internacional para transportar, para fora do Egito, grandes quantias de dinheiro. Ele pertenceria a empresários situados em vários países estrangeiros e, em particular, no Golfo.
A saída de dinheiro do Egito se transformou em uma preocupação crescente, uma vez que os ricos procuram retirar suas fortunas de lá para mantê-las fora do alcance do Estado.
A deputada Samira el-Gazzar convocou o governo para esclarecer os fatos para os cidadãos e abrir uma investigação.
A história já se tornou a de maior circulação nas mídias sociais do Egito, mas as autoridades, através da sua Agência de Notícias do Oriente Médio, negam qualquer relação do governo com o avião.
A versão foi alvo de questionamentos por conta de fotos nas mídias sociais que mostram o ministro do Interior egípcio, Mahmoud Tawfik, em frente à aeronave durante visita à Tunísia.
O que aconteceu
Informações locais sugerem que um zambiano, carregando sacos com o que parecia ser ouro, recebeu autorização da segurança para encontrar os egípcios recém-chegados no avião.
Não se sabe quem emitiu a autorização. Contudo, os meios de comunicação zambianos estão noticiando que alguns pagamentos em dinheiro ajudaram a facilitar o caminho.
Supõe-se que, já a bordo, o zambiano vendeu uma parte das barras de ouro que carregava para os tripulantes do avião, que teriam solicitado mais.
Não há informações se os compradores descobriram que as barras de ouro eram falsas antes que a equipe de segurança chegasse para revistar a aeronave.
Esses agentes também se tornaram alvo da investigação. Respondem à acusação de receber até US$ 200 mil, cada um, dos cidadãos egípcios que estavam no avião.
A quantia teria servido para subornar as autoridades e prosseguir a rota da viagem sem que ninguém fosse preso.
Suposições sobre o caso
O responsável por supostamente carregar os sacos de ouro falso do aeroporto até o avião teria se convertido em delator, colaborando com a polícia da Zâmbia para elucidar o crime.
Mais prisões devem acontecer. Isso porque, nos últimos dias, as autoridades zambianas encontraram vários zambianos em uma fábrica improvisada de processamento de ouro falso.
A curiosidade mundial que recai sobre o caso suscita uma série de especulações.
O Egypt Technocrats, um think tank formado por profissionais egípcios independentes que estão em diferentes países, calcula que mais de 300 empresas secretas dentro do Egito estejam envolvidas com operações de lavagem de dinheiro.
Muitos afirmam que, desde que o presidente Abdel Fattah al-Sisi assumiu, há nove anos, somas vultosas de dinheiro foram contrabandeadas para fora do país.
As informações são da BBC Brasil, do The New York Times e do The Jerusalem Post.