O novo ano começou com a notícia de que a fabricante chinesa BYD acaba de superar a Tesla como maior produtora mundial de carros elétricos gerou em muitos analistas uma dúvida: 2024 será o ano em que a China se tornará líder mundial na produção de veículos movidos a eletricidade?
Já hoje 1 em cada 3 carros vendidos na China é um veículo elétrico e a concorrência entre produtores locais é acirrada.
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Existem dezenas de grandes marcas produzindo veículos elétricos de todas as dimensões, gostos e estilos. Dos mais luxuosos aos mais baratos.
O preço mais baixo de um veículo elétrico na China está por volta de US$ 10 mil (cerca de R$ 50 mil).
Muito competitivo para os principais mercados consumidores internacionais, como Estados Unidos ou Europa. Mas até mesmo para mercados emergentes, como o Brasil.
Produtores chineses fora dos EUA, mas entrando na Europa e no Brasil
Entretanto, no momento, nenhum veículo elétrico chinês é vendido nos Estados Unidos, por causa de uma tarifa de importação de 27,5% sobre os automóveis chineses, que os manteve fora do mercado americano.
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O paradoxo é que o maior investidores dos EUA, Warren Buffett, foi um dos primeiros a acreditar na BYD e a comprar ações da marca.
No mercado europeu os produtores chineses controlam menos de 6% das vendas. Parece pouco, mas é o começo de uma “invasão silenciosa”.
As empresas chinesas demoraram três anos a atingir esse patamar, o mesmo controlado pelos fabricantes de carros coreanos após 20 anos de investimentos.
E essa porcentagem representa já metade da fatia conquistada, com muita dificuldade, em 35 anos, pelas montadoras japonesas, que hoje representam 12% das vendas na Europa.
No Brasil, as vendas de carros elétricos continuam crescendo. Em novembro passado foram comercializados 3.197 veículos da categoria no país. Um novo recorde de emplacamentos do segmento em um único mês.
O número representa um crescimento de 340% em relação ao mesmo período do ano passado, quando 727 unidades de carros elétricos foram vendidas.
O carro elétrico mais vendido foi o BYD Dolphin, eleito no Brasil como Carro do Ano 2024, com 1.694 unidades comercializadas em novembro. Metade do total.
Em segundo lugar, mais um modelo da BYD, o SUV Yuan Plus, com 286 unidades vendidas no mês. Em terceiro lugar o Volvo XC40, também chinês (a marca sueca é propriedade do grupo chinês Geely), com 207 emplacamentos.
Números ainda pequenos, mas produtores de carros elétricos chineses dominam
O resultado que a China está conquistando no cenário automotivo global é pequeno em números, mas impressionante em termos de velocidade e energia disruptiva.
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A indústria de veículos elétricos da China cresceu muito rapidamente na última década, graças a maciços subsídios governamentais.
O governo de Pequim ofereceu incentivos aos consumidores e apoiou os fabricantes diretamente, com subsídios na compra de veículos novos, o indiretamente, com os bancos chineses dispostos a fornecer crédito aos fabricantes de carros elétricos a taxas de juros mais baixas do que as do mercado.
Assim, enquanto cada vez mais motoristas realizam seu sonho de um carro elétrico tecnologicamente avançado e com um preço acessível, para os fabricantes de automóveis tradicionais a BYD personifica um pesadelo capaz de tirar o sono: a força dos novos desafiantes nessa frente de batalhas.
As tendências não ajudam. Estima-se que nos principais mercados automotivos globais – China, EUA e Europa – até 2035 os carros eléctricos gerarão a maior parte das vendas.
Bye bye Tesla
Durante anos, as inovações da Tesla marcaram as fronteiras a serem alcançadas pelo setor.
Hoje, as marcas chinesas são tantas, todas apostando na inovação, combinando preços acessíveis, envolvimento digital do cliente, design atrativo e sobretudo uma velocidade sem precedentes na introdução de modelos no mercado, que a Tesla parece ficar para trás.
As montadoras chinesas produzem novas marcas a um ritmo mais rápido do que os fabricantes tradicionais apresentam novos modelos.
Mesmo se isso significa abandonar processos de validação considerados padrão no setor.
Tudo em nome de uma estratégia bem pensada que visa minar para sempre os tradicionais ciclos da indústria automotiva.
Uma estratégia que resulta de uma abordagem menos cautelosa, talvez por isso com resultados mais incertos, mas corajosa e feita sob medida do novo consumidor, o asiático: só a China terá um mercado de mais de 50 milhões de veículos por ano até 2050.
O motorista ocidental está cada vez mais exigente e preparado, mas também cada vez menos decisivo para o destino do setor automotivo global.
Compradores de hoje serão os vendedores de amanhã
Em 2023, mais carros de marcas chinesas serão vendidos na China do que carros estrangeiros. Isso acontece pela primeira vez desde que o país começou a importar carros.
Essa dinâmica não vai se repetir tão cedo em outros lugares do mundo. Ainda será preciso esperar para ver a supremacia dos carros chineses. Mas subestimar esse sinal seria um erro.
Afinal, se existe um modelo de carro elétrico que ganha espaço na China por que não deveria se impor a nível global?
Em 2024, o vencedor do concurso europeu do Carro do Ano poderá ser chinês. Dos sete modelos finalistas, dois vêm da China: o BYD Seal e o Volvo EX30.