O Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciou nesta quinta-feira, 29, a decisão de mudar o regime da meta da inflação para o “modelo contínuo” a partir de 2025. Ele se dará em contrapartida ao modelo adotado hoje no país, que leva em conta o atual ano-calendário — de janeiro a dezembro.
Mas o que essa mudança realmente representa na análise feita pelos órgãos de Estado e reguladores na projeção? Vai afetar na divulgação e na manutenção da meta da inflação? E como isso pode afetar a taxa básica de juros, a Selic — hoje em 13,75%.
Com funciona a meta da inflação hoje?
Atualmente, a meta de inflação é projetada tendo em vista um ano-calendário, ou seja, um período de janeiro a dezembro de um ano. Na prática, o CMN — composto dos ministros da Fazenda, do Planejamento e mais o presidente do Banco Central (BC) — estabelece a meta da inflação para aquele ano.
A partir disso, a indicador é perseguido pelo BC, de acordo com as políticas propostas pelo Comitê de Política Monetária (Copom), formado pelo presidente da instituição, hoje, Roberto Campos Neto, e seus diretores. Eles têm autonomia para definir a taxa básica de juros, a Selic, que serve como um freio da inflação. Ela vai afetar diretamente o crédito, os investimentos, o consumo, a expectativa de crescimento e o câmbio da país.
Caso haja descumprimento da meta, no formato atual, o presidente do Banco Central deve divulgar publicamente as razões pelas quais o resultado não foi atingido. Isso se dá por meio de uma carta aberta ao Ministério da Fazenda.
Como ela será a partir de 2025
Com a meta contínua, aprovada hoje pelo Conselho Monetário Nacional, o país passa a buscar um valor permanente para a inflação em um prazo que será definido de maneira técnica pelo BC. Dessa maneira, para os anos de 2025 e 2026 a meta será de 3%, segundo o CMN. Os esforços do Banco Central serão para manter o índice todo o período dentro da meta. O entendimento é que, se o valor estiver dentro do intervalo de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, estará dentro da meta.
A mudança pode trazer reflexos na trajetória futura da taxa básica de juros. Como a meta estará projetada por um horizonte mais amplo, o BC pode não precisará efetuar ajustes tão rigorosos, como ocorre hoje no Brasil. Assim, eventuais cortes ou elevações de juros baseados no cenário de alta de inflação podem ser diluídos em períodos mais longos, diminuindo os impactos negativos que ambas as decisões podem ter sobre o plano macroeconômico.
Países como Nova Zelândia, Estados Unidos, Japão, Reino Unido, México e nações da Zona do Euro também adotam o sistema de meta contínua da inflação.