A Itália busca atingir, até 2030, a média exigida pela União Europeia (UE) para a quantidade de energia renovável estipulada pelo bloco.
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Em 2023, seis gigawatts (GW) desse tipo de energia serão instalados no país, de acordo com a agência Ansa. As estimativas foram divulgadas na segunda-feira 18, em conferência sobre energia eólica offshore, realizada em Roma.
A informação foi divulgada pela operadora do sistema de transmissão de energia Terna.
O maxi plano energético REPowerEU, da UE, estabeleceu 143 GW como a meta para a energia renovável instalada no país.
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Toda a movimentação em busca desse tipo de energia é uma verdadeira corrida contra o tempo, conforme afirma a Oeste o professor Giorgio Romando Schutte, da Universidade Federal do ABC, especialista em política internacional e em temas ligados à energia.
“A Europa está muito atrás do Brasil, que tem matriz energética com 53% de energia renovável”, disse o professor. “A elétrica é de 85%, com grande possibilidade de aumentar a oferta. A UE está com menos de 30%. O caminho é muito longo na Europa.”
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A Federação Nacional das Empresas Eletrotécnicas e Eletrônicas (Anie) e a Elettricità Futura (principal associação nacional da cadeia de abastecimento industrial do setor elétrico) informaram que 76 GW devem ser instalados na Itália no período entre 2024 e 2030.
Ao fim de 2021, a capacidade de energia renovável da Itália estava em 58 GW, segundo a operadora. Em 2022, a Itália instalou 3 GW, índice abaixo de outros países europeus, como a Alemanha (11), a Espanha (6) e a França (5).
Schutte afirma que, neste momento, a Europa vive uma espécie de impasse em termos de energia.
“A Europa tem um duplo problema: não há energia fóssil no continente, ao mesmo tempo em que o continente consome muita energia fóssil” observa o especialista.
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Situações como a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, nas quais as vendas de combustíveis (como gás natural e petróleo) ficam comprometidas, deixam o cenário europeu mais complicado. Isso porque o consumo vem aumentando.
Schutte ressalta que há tecnologias desenvolvidas para tentar lidar com a demanda, mas, em razão do aumento intenso desta demanda, as dificuldades são grandes. Ele cita a China como outro exemplo neste sentido.
“Assim como na Europa, a demanda por energia na China está crescendo muito”, constatou o professor. “O governo chinês vem diminuindo o porcentual do carvão na matriz até em 70%. Mas, em números nominais, não obteve queda. O bolo aumenta muito, a demanda aumenta. A cada ano o país consome mais petróleo, e fica estável o nível do carvão utilizado. Isso ocorre tanto na Europa quanto na China.”
Brasil pode aproveitar a oportunidade para ampliar mercados que precisam de energia renovável
Para o Brasil, tal situação é uma oportunidade para ampliar seus mercados no setor, de acordo com o professor.
“O Brasil pode aproveitar essa oportunidade”, disse Schutte. “Foi naturalmente abençoado com decisões lá atrás, com construção de hidrelétricas, entrando a tecnologia da biomassa, com o etanol. Isso ocorreu simplesmente porque não havia petróleo suficiente, nem carvão. Como o país queria desenvolver sua indústria, optou por consolidar o domínio tecnológico em energia renovável.”
Esse cenário vigorou em uma época na qual o debate sobre a sustentabilidade ainda não estava na pauta, segundo o professor. “Esse desenvolvimento da energia renovável nada tinha a ver com sustentabilidade”, afirmou. “Mas o resultado é que hoje isso fez o Brasil ficar à frente, de longe como país que domina essas tecnologias.”
As fontes de energia renováveis têm um ciclo de renovação dentro de uma escala de tempo humana. Não se esgotam, em tese, e se mantêm disponíveis para utilização. Entre as principais fontes de energia alternativa estão a energia solar, a eólica, a de biomassa, a hídrica, geotérmica (do calor do interior da Terra) e a maremotriz (por meio das marés).
Em relação a essas fontes, o correto é dizer que elas são fontes de energia renovável alternativas. As hidrelétricas não entram nesta lista, mas também produzem energia renovável, conforme ressalta Schutte.
“Energia renovável é tudo que tem como fonte o sol, o vento, a água e a biomassa”, explicou o docente. “A questão é que são alternativas também à hidrelétrica, que é renovável. Há um questionamento em relação à questão ambiental, mas isso é relativo, porque energia solar também tem problemas, com metais, baterias.”
Ele acrescenta que que “não existe energia limpa, existe energia mais limpa, sempre é relativo. A questão é que hidrelétricas, energia, solar e biomassa não geram emissão de gás do efeito estufa ao longo da cadeia”.