Antes de prefeitos e governadores imporem medidas restritivas na tentativa de frear o avanço da covid-19, o país tinha 105 mil lojas em 577 shoppings, com 1,5 milhão de empregos diretos. Agora, 13,2 mil estabelecimentos nos centros comerciais estão fechados e 140 mil pessoas foram demitidas, conforme o mais recente levantamento da Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop). Para complicar, administradoras decidiram manter a cobrança do aluguel. Haverá apenas descontos pontuais, depois de avaliação individual de comerciantes que atuam em setores cujas vendas ainda não se recuperaram bem, como vestuário, calçados, cosméticos e acessórios.
“Lockdown e toque de recolher são inconstitucionais, afirma desembargador”
Angelo Campos, dono da marca de roupas MOB, é um dos afetados. Ele tinha 360 funcionários em 29 unidades espalhadas pelo Brasil. Hoje, a realidade é outra. Campos conta com 250 colaboradores e 25 pontos de vendas — quase precisou encerrar mais lojas. “Faltou gestão do poder público”, resumiu o empresário. “Quando a pandemia começou, o fechamento era necessário e compreensível. Mas o confinamento se prolongou demais. Atualmente, os lojistas não sabem o que fazer porque há insegurança por parte das autoridades”, acrescentou, ao criticar o governo do Estado de São Paulo. “Não prorrogaram a cobrança de impostos e ainda mandaram para o cartório quem não pagou”, disse.
O empreendedor lamenta a crise do setor. “Suspenderam as atividades de quem respeita as medidas sanitárias, como a medição da temperatura, álcool em gel e uso obrigatório de máscara para todos os funcionários. Tudo isso tem em shopping”, observou. “Em contrapartida, vimos, diariamente, na tevê cenas de aglomerações no transporte público. Ônibus e metrôs lotados.” Campos queixou-se, também, da dificuldade de negociação com as administradoras dos centros comerciais. “Tem sido bem difícil. É preciso fazer redução de aluguel, o que não tem ocorrido na maioria das vezes. Perdemos tempo todos os dias mandando e-mails pedindo prorrogação dos pagamentos em vez de reerguer nossos negócios.”
A reclamação é a mesma de Daniela Archanjo, responsável pelas relações corporativas e expansão da marca de vestuário Central Surf há 20 anos. Das 14 lojas que tinha na cidade de São Paulo, mantém apenas quatro. “As tratativas [com as administradoras] têm sido desgastantes. Nos primeiros meses da pandemia, algumas suspenderam os aluguéis, mas jogaram a conta para o fim do ano. Outras deram desconto, porém, mesmo assim, houve cobrança. É algo fora da realidade. Desde 2014, o varejo vem perdendo força”, relatou, ao mencionar que estuda transferir suas lojas para as ruas. “É um pensamento forte que eu e colegas do setor temos em comum. Há muita gente passando o ponto ou migrando para fora do centro comercial.”
Presidente do Sindicato de Lojistas de São Paulo (Sindilojas), Thiago Sitta se junta aos empreendedores que vêm sofrendo as consequências do isolamento e das dificuldades em negociações de dívidas. Dono de 13 camisarias da Reno Fenutti, na capital paulista e no interior, precisou fechar cinco durante o isolamento. “Nos últimos 12 meses, perdemos 50% do faturamento. Nem sei dizer como meu negócio ainda existe”, afirmou. “O Sindilojas tentou o possível em São Paulo, entrando com ações judiciais para reativar a economia, prorrogar impostos etc. Fizemos o dever de casa. Contudo, não tivemos muito êxito na Justiça. Estamos defendendo, agora, um aluguel proporcional à venda.”
Socorro à economia
Luis Ildefonso, diretor institucional da Alshop, salienta que os shoppings são ambientes seguros. “Já demonstraram isso ao adotarem protocolos sanitários rígidos feitos por hospitais conceituados, a exemplo do Sírio-Libanês”, explicou, ao defender, no caso do Estado de São Paulo, um ritmo de abertura nos moldes da fase laranja. A etapa é mais branda, se comparada à vermelha, do plano de contingência da covid-19. “Sem receita, a inadimplência da empresa é total. Companhias estão sucumbindo e muita gente ficando sem emprego. Queremos a volta, o mais breve possível, das atividades normais. As pessoas precisam trabalhar.” De acordo com Ildefonso, a Alshop vem atuando para manter contato com as autoridades e articular-se pela liberação de linhas de créditos voltadas aos lojistas.
Na quarta-feira 24, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a medida que pavimenta o caminho para a reedição de iniciativas de proteção do trabalho. O Ministério da Economia informou que destinará R$ 15 bilhões ao Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, o Pronampe, e ao BEm, voltado para a manutenção do emprego. Os detalhes referentes à regulamentação dos pacotes de estímulo estão sendo avaliados pelos técnicos da pasta, que nos próximos dias devem anunciar mais informações. Em 2020, comerciantes criticaram a distribuição de recursos por parte dos bancos. Segundo o setor, as instituições financeiras privilegiaram os grandes empreendedores em detrimento dos menores. Ademais, impuseram altas taxas de cobrança em cima do valor emprestado.
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Tem que se ajudar as pequenas e medias empresas e nao esta associação de shopping sugadores de sangue
Esta situação é um beco onde não se enxerga a saida.
É urgente criarmos no Brasil o Empreendedorismo Institucional, ou seja, criar poderosas instituições e institutos de fomento das pequenas e médias empresas, que empregam mais de 60% dos brasileiros. Instituições financeiras e legislativas que garantam protagonismo ao empreendedores e seus empregados na sociedade brasileira.