Segundo o Ipea, a cana-de-açúcar será a área de cultivo que mais impacto sofrerá em 2020. Distanciamento social causou mudança no consumo da população
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) prevê crescimento de 2,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) do setor agropecuário brasileiro. O resultado considera os efeitos da pandemia de coronavírus.
De acordo com a Carta de Conjuntura, divulgada nesta terça-feira pela entidade, o crescimento tem como base a previsão de safra anunciada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No caso da pecuária, o resultado leva em consideração o volume de produção previsto pelas Pesquisas Trimestrais do Abate de Animais, do Leite, do Couro e da Produção de Ovos de Galinha do IBGE e pelas estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, considerados no modelo econométrico do Ipea.
O levantamento do instituto vai além do cenário-base e, levando em consideração um eventual cenário de estresse, no qual parte da produção seja afetada por eventos relacionados ao coronavírus, chegou a um resultado em que o desempenho é positivo, mas com um crescimento menor, de 1,3% para 2020. De acordo com o Ipea, esse crescimento seria sustentado principalmente pela lavoura.
“A lavoura tem um avanço projetado de 2,8%, sustentado pelas produções de soja e café (6,7% e 1,5%, respectivamente). A cana-de-açúcar é a cultura que pode sofrer maior impacto decorrente da covid-19 e da redução do preço internacional do petróleo e, nesse contexto de estresse, pode ter queda de 1,9% na produção”, detalha o Ipea.
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Segundo o economista e pesquisador do Ipea Fábio Servo, foi possível observar que o distanciamento social imposto pela pandemia causou mudança nos padrões de consumo da população, com “picos de demanda” que impulsionaram os preços de produtos como arroz, banana, café e ovos. “Verificamos queda nos food services e preferência por cortes de carne menos nobres. Ainda assim, a produção da lavoura sustentou o resultado positivo do setor agropecuário.”
Com relação às exportações, os produtos agropecuários tiveram crescimento de 7% entre janeiro e abril de 2020, na comparação com o mesmo período do ano passado. Confrontando o primeiro quadrimestre deste ano com o de 2019, o levantamento mostra que as exportações de carne bovina elevaram-se “fortemente” e chegaram a 26,5%.
De acordo com o documento, parte do resultado é explicada pela reabertura da venda da carne in natura, em fevereiro, para o mercado chinês. As exportações para o país asiático registraram um crescimento de 138% entre janeiro e abril, na comparação com os quatro primeiros meses do ano passado.