A indústria brasileira chegou ao fim do segundo trimestre com queda acima do esperado em junho, interrompendo quatro meses seguidos de ganhos relativamente positivos. Isso porque o setor enfrenta uma série de dificuldades para superar o aumento nos custos de produção e problemas de oferta. No primeiro semestre, o setor acumula queda de 2,2% e, em 12 meses, de 2,8%.
Em junho, a indústria teve queda de 0,4%, se comparado a maio. Economistas ouvidos pela agência de notícias Reuters previam redução de 0,2%. O cenário daqui para a frente não é muito bom, sobretudo por causa da alta da taxa básica de juros (Selic), o rescaldo dos lockdowns e o conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
O resultado negativo mais recente veio em janeiro, de quase 2%, perda que o setor ainda não conseguiu recuperar, já que nos quatro meses no azul a indústria acumulou alta de 1,8%. Em linhas gerais, o setor ainda está 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia de covid-19, de fevereiro de 2020.
Apesar da queda em junho, a produção industrial fechou o segundo trimestre com ganho de 0,9%, na comparação com janeiro a março, no terceiro trimestre seguido de ganho. “Temos uma indústria que não consegue uma trajetória sustentável de crescimento”, observou o pesquisador André Macedo, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em um estudo publicado pelo IBGE na semana passada, sobre os caminhos para a retomada da indústria.
Economia é o tema escolhido por Oeste nesta terça-feira, 16, dentro da série de reportagens “Desafios do Brasil”, que será publicada até 30 de setembro, sempre seguindo a seguinte ordem de temas na semana: segunda-feira (Educação), terça-feira (Economia), quarta-feira (Agro e Meio Ambiente), quinta-feira (Justiça e Segurança Pública) e sexta-feira (Saúde). Veja aqui as reportagens do projeto Desafios do Brasil.
Fechamento de empresas
Ao longo de uma década, quase 10 mil fábricas fecharam as portas no Brasil e 1 milhão de postos de trabalho deixaram de existir. A indústria automobilística se tornou um dos setores que mais encolheram. Segundo o IBGE, quase 25 mil pessoas pararam de trabalhar na produção de veículos entre 2011 e 2020. Em 2011, o setor representava 12% da indústria brasileira. Em 2020, 7,1%, uma queda de quase 5%. Durante a pandemia, 3 mil fábricas fecharam as portas.
Entraves e o caminho para retomada da indústria
André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton Investimentos, lista algumas causas que impediram a retomada da indústria. “Temos uma Selic elevada, de 13,75%, a inflação relativamente alta e diminuição da renda das famílias”, constatou, ao mencionar que o processo de estagnação da indústria se intensificou em 2014, sob o governo da então presidente Dilma Rousseff.
O especialista lembrou ainda de fatores externos. Em virtude dos isolamentos, ocorreu uma desorganização da cadeia global de fornecimento de insumos. Por ora, essa regularização ainda não ocorreu, atrapalhando a retomada.
Perfeito explicou que o crescimento tímido da indústria se deu na primeira metade do ano por causa das medidas do governo federal para incentivar o consumo, bem como da redução na taxa de desemprego.
Conforme o economista, a Selic deve começar a cair a partir do ano que vem. “Assim, a indústria deve ter um comportamento melhor”, disse Perfeito. “Por enquanto, não há muito o que o governo possa fazer, porque o Estado está endividado. Para o próximo governo, seja ele qual for, é preciso criar condições para a Selic cair o mais rápido possível, além da inflação.”
Posso possitivar, mas tenho medo de comentar minha alegria