Um fundo de investimento foi lançado recentemente nos Estados Unidos empunhando a bandeira da excelência de negócios em primeiro lugar. O Strive chamou atenção do mercado por prometer se afastar de supostos excessos do capitalismo progressista. Mais diretamente falando, ficando alheio ao modismo ESG, a sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa — um movimento que arrebatou o mundo corporativo nos últimos tempos.
Quem está por trás da ideia é Vivek Ramaswamy, empreendedor que fez sua fortuna em startups farmacêuticas. No entanto, o empresário ficou nacionalmente conhecido em razão de seu livro Woke Inc., em que se debruça sobre uma geração obcecada por consciência social. Respaldado por nomes como Peter Thiel, um dos fundadores da plataforma de pagamentos PayPal, o fundo diz ter levantado US$ 20 milhões para começar a operar.
A seguir, o diretor de governança corporativa da Strive, Justin Danhof, responde cinco perguntas sobre o que torna o fundo diferente num mercado orientado para a busca de virtudes.
— Vocês pregam o lema de ‘restaurar a voz do cidadão comum dos EUA’. O que isso significa?
No século 20, tivemos um problema de propriedade. Os donos são quem têm ações, mas as empresas são dirigidas pelo conselho de diretores. Mas então tivemos uma alteração de leis que determinou que o conselho deve administrar para os portadores de ações. Agora o que temos no século 21 é outra situação. Nos Estados Unidos, temos três grandes fundos de gestão de ativos, que são BlackRock, State Street e Vanguard, que administram fortunas imensas. Você olha para a maioria das grandes empresas dos EUA e esses três fundos estão lá. O que eles estão fazendo é usar seu voto, volume e voz, os 3 ‘Vs’, para mudar as companhias de uma maneira que os verdadeiros donos, os portadores de ação, não concordam. Quando você é membro de um fundo de investimento. Digamos, uma professora, uma enfermeira ou um bombeiro, você investe dinheiro em empresas como BlackRock, State Street e Vanguard, que estão fomentando ações de que o cidadão comum discorda. Por muito tempo, essas empresas se abstiveram de votar em questões de conselho. Mas, em 2018, a BlackRock se tornou a maior empresa do gênero. Seu CEO, Larry Fink, passou a mudar essa dinâmica. Ele falou: ‘Quer saber, nós vamos nos envolver cada vez mais em decisões de conselho’. Uma maneira em que isso acontece é por meio de ESG. Se você olhar para os números, menos de 2% de quem investe na BlackRock coloca dinheiro em fundos de ESG. Mas, quando Larry Fink vota em questões de ESG, ele vota com 100% do dinheiro, não 2% ou menos. É uma desconexão entre investidores e fundos.
— Você acredita que a notoriedade de Vivek Ramaswamy ajuda a atrair atenção para a empresa?
Acredito que a voz dele é única e muito necessária na nossa sociedade atualmente. Nós trazemos uma mensagem positiva, não somos uma empresa anti-ESG, somos uma empresa pró-excelência, acreditamos em coisas como meritocracia. Obviamente contar com uma figura conhecida é muito útil. Obviamente a publicidade é ótima, mas a cultura que ele está criando é o mais importante. Não somos uma operação política nem anti-ESG, temos uma mensagem positiva e podemos sentir isso trabalhando de dentro. Temos metas e uma montanha enorme para escalar. Mas acreditamos que, por volta de 2030, se seguirmos focados na rota certa, seremos um competidor do mesmo nível das BlackRocks da vida. É o nosso objetivo.
As pessoas querem aproveitar o consumo e se engajar no mercado de capitais de um jeito despolitizado
— Como tem sido a reação do mercado até o momento?
Tem sido fantástica. Tivemos cobertura de veículos como CNBC, Fox, Wall Street Journal, New York Times. Acho que o momento é ideal para essa iniciativa. Quando você olha para a economia atual, a inflação está machucando o norte-americano comum. Então podemos imaginar o ESG como um artigo de luxo. Quando todo mundo está ganhando dinheiro, podemos gastar com metas internas sobre ambientalismo e tudo mais. Mas os norte-americanos se sentam à mesa de jantar e têm de pensar: ‘Bom, o tanque de gasolina estava US$ 40, agora custa US$ 100. Temos de tirar esses US$ 60 de algum outro lugar’. As pessoas estão se dando conta de que o esforço ESG nunca fez parte da missão, e as empresas provavelmente precisam voltar às suas missões. Tudo nos EUA é político, do jogo de beisebol ao comercial da televisão. Mas sentimos que os norte-americanos de esquerda, do meio e de direita querem um espaço para se isentarem da briga política. E acreditamos que esse lugar é o mercado de capitais e o consumo. Não é preciso ter o refrigerante vermelho e o refrigerante azul. As pessoas querem aproveitar o consumo e se engajar no mercado de capitais de um jeito despolitizado.
— Existe algum caso simbólico de empresa que perdeu seu foco por se envolver demais em causas ESG?
Sim. Nós queremos construir uma economia de excelência, e para isso acontecer as empresas têm de ficar focadas em suas missões. Vamos olhar para o caso da Disney na Flórida. O que era a visão de negócios de Walt Disney? Era se envolver em discussões sobre o material exibido a crianças no jardim de infância? Acho que a missão de Walt Disney era ter a melhor empresa de entretenimento do mundo. As ações da Disney caíram e logo vamos ver o que acontece na divulgação de resultados do segundo trimestre, que foi quando tudo isso aconteceu. Acho que a Disney se desviou de sua missão e está sentindo as consequências. Nossa mensagem à Disney seria: volte para sua missão. A propósito, três das quatro principais detentoras de ação da Disney são BlackRock, State Street e Vanguard. O que eles disseram? Não há nada público sobre voltar à sua missão. Pelo contrário. A BlackRock votou a favor de uma questão sobre pagamentos de funcionários envolvendo questões raciais e de gênero.
— Vocês têm sede no Estado de Ohio, numa região mais central do país. Há alguma razão para não estarem na Costa Leste ou na Califórnia, onde os negócios geralmente acontecem?
Se você pensar na fatia da população que está sendo ignorada por Wall Street, ela está no coração do país. Se você andar 15 milhas em qualquer direção saindo de Columbus, Ohio, onde estamos localizados, você vai encontrar esse espírito norte-americano do coração do país. Toda raça, gênero, alta renda, baixa renda e média renda estão lá. Essas são as vozes que estão sendo ignoradas, e nós queremos restaurá-las.
Leia também: Corrida pela sustentabilidade, reportagem de Luis Kawaguti na Edição 96 da Revista Oeste.
É a minoria ditando regras para s imensa, bota imensa nisso, maioria
Totalmente certo. O mesmo ocorre no Brasil. No censo 1,9% da populacao se declarou homossexual ou bissexual. No entanto empresas como magalu, volkswagen, gerdau, fiat atuam como se fossem 99% da populacao. Onde ja se viu grandes empresas direcionarem seus esforços para atingir uma minoria ínfima da população? So os genios es1uerdopatetas das agencias de propaganda e marketing acham isso correto.