O streaming chegou ao ápice? Há indícios para acreditar nisso. No mês passado, por exemplo, as ações da Netflix caíram aproximadamente 40% depois de a empresa perder assinantes, e a CNN+ morreu antes de nascer.
Estariam os telespectadores revoltados? Talvez a razão para esse descontentamento seja o conteúdo oferecido pelas empresas. Isso porque é difícil encontrar um filme, uma série ou um noticiário que não emplaque as chamadas “pautas sociais”. Até a Disney, anteriormente amiga dos bons costumes, está empenhada em promover a agenda “progressista”.
A ofensiva contra os nerds
Em artigo publicado no The Wall Street Journal, o colunista Andy Kessler mostra como as recentes produções de Hollywood demonizam os empreendedores do Vale do Silício. Super Pumped — A Batalha pela Uber, da Showtime; WeCrashed, da Apple TV+, que conta a história da empresa WeWork; e The Dropout, do Hulu, que trata da fraude praticada pela startup Theranos e pela empresária norte-americana Elizabeth Holmes, compõem a lista de séries que tentam macular a imagem dos empresários-nerds. “Suas estreias coincidiram com Inventando Anna, da Netflix, sobre a golpista Anna Sorokin”, lembra o articulista. “Hollywood parece equiparar empreendedores com golpistas, quase como se os cineastas tivessem um ressentimento com o sucesso.”
Kessler avalia que os consumidores de conteúdo serão influenciados por essa imagem distorcida que está sendo apresentada pelos serviços de streaming. “É uma pena que a indústria do entretenimento esteja empenhada em destruir a reputação do Vale do Silício, que está mantendo Hollywood viva”, observou.
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“Aqui está um tópico comum em todas as séries sobre o tema: os empreendedores do Vale do Silício são misóginos, adolescentes e narcisistas”, ressalta o colunista. “Eles consomem apenas tequila, suco verde misterioso ou kombucha [bebida fermentada feita a partir de chás]. Todas as festas da empresa têm um pula-pula. Banqueiros e capitalistas podem ser manipulados facilmente. Os membros do conselho são de borracha. Todos os fundadores de startups viajam em aviões particulares. E, finalmente, a motivação de todos é sempre a mesma: ‘Estamos salvando o mundo’. Tudo isso é clichê.”
Anna Sorokin, golpista que passou anos enganando a alta sociedade norte-americana, era uma vigarista. Travis Kalanick, co-fundador da Uber, não fazia ideia de como progredir em sua carreira. Elizabeth Holmes, criadora da Theranos, iniciou a vida empresarial com boas intenções. Rebekah Neumann, da WeWork, era uma vendedora ambulante que não acreditava em si própria.
“A raiz do problema é que essas empresas receberam muito capital para gastar”, afirma o colunista. “É como se esses fundadores tivessem roubado o talão de cheques da vovó ou tivessem um lugar no Congresso. O SoftBank disse à Uber e à WeWork que ‘gastassem para crescer’. Era crescer ou morrer.”
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Mas outras empresas também foram beneficiadas pela política de taxa zero de juros aplicada pelo Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos), que tornou o acesso ao capital praticamente livre. “As empresas cresceram e os fundadores estavam no controle”, explica Kessler. “Alguns atingiram a altitude de cruzeiro; a maioria, não. Por quê? Porque aquilo que é conhecido no Vale do Silício como blitzscaling — tornando-se maior primeiro — funciona apenas com empresas de alto custo, sem margem, como Google e Facebook.”
Kessler diz que Super Pumped, WeCrashed e The Dropout são semelhantes a Billions e Succession, que também definem os capitalistas como criminosos. “Estou ofendido pela visão negativa do Vale do Silício, porque devemos celebrar o sucesso e os produtos que contribuem para a sociedade”, salientou. “Isso vai além do mantra delirante mudar o mundo.”