A criação do Estado de Israel, em 1948, serviu para o povo judeu retornar a uma região em que pudesse se estabelecer e se proteger de perseguições vividas ao longo da história. Nem por isso a nação surgiu com ideias discriminatórias ou de exclusão.
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Na declaração de Independência, o próprio fundador do Estado judaico, David Ben-Gurion disse, impregnado de emoção, que o país judaico surgia com mãos estendidas para se relacionar com todos os povos.
“Nós fazemos um apelo — em meio ao duro ataque lançado contra nós há meses — aos habitantes árabes do Estado de Israel para manter a paz e participar da construção do Estado na base de igual e completa cidadania e através de representação em todas as suas instituições provisórias e permanentes”, disse.
Um único território, de 22.070 km², em meio a mais de 7,2 milhões de km² do mundo árabe, passou a ser habitando por algumas centenas de milhares de judeus. Muitos deles eram sobreviventes de um dos maiores, senão o maior, massacre da História, o Holocausto nazista.
“A ideia do Estado judeu é para o povo judeu ter um lar nacional, autodeterminação, segurança e não ser mais perseguido e precisar fugir enquanto está na diáspora”, disse a Oeste André Lajst, doutor em ciências políticas e presidente da StandWithUs Brasil. “Foi feito para o povo ter no seu país de origem um lar nacional, não é visto pelos israelenses que o Estado judeu tem que ser um Estado conservador religioso.”
Neste sentido, a população árabe, que constitui cerca de 20% do país, está incluída.
“Os israelenses vivem em uma sociedade ampla, há os de direita, de esquerda, de origem árabe, drusa, etíope, capitalista, socialista, progressita, conservadores, religiosos, laicos, a inclusão está sempre presente.”
Com o surgimento de Israel, ao mesmo tempo em que a população precisava se proteger, seria uma insensatez pensar em desejo de oprimir, vingar-se, causar ainda mais hostilidade. Israel nasceu justamente como um sopro que produz alívio. E o maior alívio é a paz.
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Qualquer comparação entre Israel e o regime de apartheid na África do Sul (1948-1994) é baseada, senão na má intenção, em um desconhecimento histórico e da realidade atual. Ambos os fatos surgiram no mesmo ano. Mas tomaram caminhos completamente diferentes.
Sociedade israelense
Desde a fundação, a minoria não judia de Israel sempre teve os mesmos direitos da população judaica, conforme mostram dados da organização StandWithUs. Na primeira eleição para o Knesset (Parlamento), em 1949, foram eleitos 12 deputados árabes. E, desde então, partidos árabes concorrem em todos os pleitos.
O deputado Mansour Abbas, por exemplo, do Lista Árabe Unida (UAL, em inglês), fez parte do governo de união nacional que antecedeu o do atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. O partido tem 13 parlamentares, entre os 120 eleitos.
Na África do Sul, ao contrário, a população negra, que era maioria, era segregada em todos os aspectos da sociedade. Pelas leis locais, os negros não podiam frequentar estações de trem, praias, banheiros, escolas nem restaurantes direcionados à população branca.
Em Israel, as liberdades religiosas e individuais são protegidas pela lei. Na África do Sul, liderada por Nelson Mandela, durante décadas de brutal opressão, a maioria negra (80% da população) lutou por sua liberdade e pelo direito a voto. E conseguiu, em 1994.
Guerra atual
A atual guerra de Israel contra o Hamas, depois dos ataques atrozes do dia 7 de outubro, é direcionada exclusivamente aos terroristas. E não aos palestinos. Foi isso que ressaltou o atual embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, nesta quinta-feira, 26, em discurso na entidade.
Desde 1948, cerca de 750 mil árabes se tornaram refugiados depois da guerra. A partir deles surgiu a denominação palestinos. Eles deixaram Israel por vários motivos, que não se resumem apenas à expulsão. Alguns milhares saíram durante os combates, para não serem atingidos.
Outros foram incentivados a sair por líderes comunitários árabes, com a promessa de que voltariam depois do fim de Israel. Uma grande quantidade de árabes vendeu terrenos para o Fundo Nacional Judaico, antes mesmo da guerra.
Foram os casos, por exemplo, do kibutz Degania e do moshav Nahalal, terras inóspitas, pântanos disseminadores da malária. Ambos foram comprados por entidades judaicas de proprietários árabes e se desenvolveram ao superar as adversidades do terreno.
Degania foi comprado em 1911 do xeque Majid a Din. Nahalal foi comprado pouco antes dos anos 1920, de um grupo de proprietários árabes de nome desconhecido hoje em dia. O líder israelense Moshe Dayan (1915-1981) nasceu em Degania e viveu em Nahalal.
Outra parte da comunidade árabe foi realmente expulsa pelo Exército israelense em disputa por regiões que os militares consideravam estratégicas. A grande maioria dos árabes que deixaram Israel se transferiu para a Cisjordânia e para a Faixa de Gaza, sem terem tido nenhum acolhimento de países árabes.
Desde então, principalmente a partir dos anos 1970, conflitos começaram a ocorrer, por meio de ataques terroristas ao território de Israel. Primeiro eles vieram com a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), fundada em 1964. A partir de 1987, o movimento Hamas surgiu e passou a encabeçar os ataques.
As regiões, no entanto, nunca fizeram parte do território israelense. Nessas décadas, o objetivo de Israel era, enquanto combatia o terrorismo, trabalhar para um acordo que culminasse, gradativamente, na criação de um Estado Palestino. Isso foi feito principalmente nos anos 1990, com os acordos de Madrid, em 1991, e de Oslo, em 1993.
“Os palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza nunca foram cidadãos israelenses nem desejam ser. Eles têm o próprio movimento nacional de autodeterminação e são um grupo nacional separado, assim como os mexicanos, os norte-americanos e os canadenses são grupos nacionais separados”, afirma a StandWithUs Brasil.
Com o aumento dos atentados terroristas promovidos por alguns palestinos vindos de Gaza e da Cisjordânia, Israel criou barreiras de inspeção, separando os territórios. Mas era uma situação que visava a impedir a entrada de uma minoria de terroristas. Não havia nenhuma questão racial.
“O apartheid na África do Sul basicamente não tinha barreiras físicas, os sul-africanos negros tinham seus passes verificados sempre que estavam em bairros brancos”, ressalta a StandWithUs. “Já em Israel, há uma barreira física construída para proteger cidadãos israelenses do terrorismo.”
Não há relação nenhuma com os objetivos nem com as características do apartheid, pelo fato de dividirem dois grupos nacionais, e não raciais.
“Há judeus e árabes em ambos os lados da fronteira”, diz a StandWithUs.
Legislações do país
Há também os que atacam Israel por causa de novas legislações que surgiram no país nos últimos anos.
A Lei de Cidadania e Entrada em Israel, de 2003, não permite que cônjuges de cidadãos israelenses obtenham automaticamente vistos de residência nem cidadania se forem procedentes de territórios palestinos ou de países considerados hostis, como Irã, Líbano, Síria e Iraque. Muitos críticos esbravejam sem levar em conta que não existe a proibição, apenas foi incluída a palavra “automaticamente”, por questões de segurança.
A Lei do Retorno dá cidadania isralenses a judeus de todo o mundo. No entanto, não estabelece nenhuma discriminação entre aqueles que já possuem cidadania israelense.
Outra lei criticada é a Lei Estado-Nação, que ressalta o teor judaico da criação do Estado de Israel. Mas não tem caráter constitucional, já que Israel não possui Constituição, nem há caráter discriminatório.
A Lei das Terras de Israel não permite a venda de nenhuma terra que pertença ao Estado.
Também não há caráter discriminatório, pois se refere a todas as instituições, judaicas ou não.
A Suprema Corte de Israel, além disso, protege os cidadãos árabes de qualquer prática discriminatória. Deu inúmeros veredictos de que o país e as instituições que administram as terras estão proibidos de discriminar não judeus.
A argumentação de que, no momento, Israel é um apartheid se baseia, portanto, em falsos conceitos.
Não levar em conta toda a complexidade da realidade local, a ânsia pela paz e a ameaça terrorista à sobrevivência do Estado de Israel é uma distorção semelhante a uma ilusão de ótica. Daquele que tem certeza de ver algo, mas no fundo apenas pensa que vê algo.
Também, em muitos casos, é uma manifestação de antissemitismo escondida na aparência do antissionismo. Sob o pretexto de atacar Israel, agride, distorce, nega a identidade judaica. Acusar atualmente Israel de apartheid equivale, na verdade, a realizar um apartheid contra Israel.
História e fatos se esclarecem. Basta ter a experiência e concluir no local.