Os esforços dos bancos centrais para controlar a inflação — principalmente pela elevação das taxas de juros — podem levar a economia mundial à recessão no ano que vem. O alerta aos formuladores de políticas econômicas é de um novo estudo do Banco Mundial divulgado nesta quinta-feira, 15.
Os bancos centrais de todo o mundo aumentaram as taxas de juros este ano, em um esforço para reduzir a inflação mais alta em décadas, que começou a crescer como decorrência das medidas econômicas e sanitárias para enfrentar a pandemia de covid-19, e se acentuou em razão da invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro, com a redução da oferta de gás. A China, que adotou e ainda mantém a política de covid zero, enfrenta uma crise no setor imobiliário.
Nos EUA, o Federal Reserve (Fed), está a caminho de elevar as taxas de juros em pelo menos 0,75 ponto porcentual em sua reunião da próxima semana, enquanto os bancos centrais do Reino Unido, Canadá e União Europeia também aumentaram as taxas recentemente, e estudam novos aumentos. Na UE, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, falou em novos e seguidos ajustes da taxa de juros até conseguir levar a inflação anual na Zona do Euro para a meta de 2%; no Reino Unido, o próprio Banco Central prevê recessão a partir do último trimestre; e o Canadá recentemente anunciou um pacote para conter a inflação.
Se os aumentos esperados das taxas não conseguirem reduzir a inflação para as metas dos bancos centrais, as autoridades de política monetária podem aumentar as taxas acima do esperado, o que pode causar uma recessão, escreveram os autores do estudo do Banco Mundial.
“O crescimento global está desacelerando acentuadamente, com probabilidade de mais desaceleração à medida que mais países entram em recessão”, disse o presidente do Grupo Banco Mundial, David Malpass. “Minha profunda preocupação é que essas tendências persistam, com consequências duradouras que são devastadoras para as pessoas em mercados emergentes e economias em desenvolvimento.”
O presidente do Fed, Jerome Powell, disse no mês passado que a instituição continuará aumentando as taxas para reduzir a inflação, mesmo que isso aumente o desemprego, abalando os mercados.
Como os formuladores de política fiscal e monetária dos países em crise estão tentando reduzir a inflação, é improvável que tentem aumentar a demanda econômica no caso de uma desaceleração, segundo o estudo. “Um aperto global sincronizado das políticas monetárias e fiscais provavelmente ajudará a reduzir a inflação. No entanto, como essas políticas são altamente sincronizadas entre os países, elas podem se somar mutuamente em seus efeitos — apertando as condições financeiras e aumentando a desaceleração do crescimento global mais do que o previsto”, diz o estudo.
Os autores do estudo do Banco Mundial orientam os bancos centrais a comunicar claramente suas medidas, o que poderia dar estabilidade ao mercado e reduzir a quantidade de aperto necessária.
Outra indicação do estudo é que os formuladores de política monetária mudem seu foco da redução do consumo para o aumento da produção, o que inclui esforços para gerar investimentos adicionais e ganhos de produtividade.