Embora tenha se difundido a ideia de que a Cannabis possa ter efeito decisivo no controle da dor e tenha sido, de fato, indicada para tratamento de dores crônicas, um estudo divulgado na quinta-feira 28 demonstra que o placebo teve efeito mais significativo do que a Cannabis. O estudo foi publicado na revista científica Journal of the American Medical Association.
Desenvolvido por pesquisadores do Instituto Karolinska, na Suécia, o trabalho analisou resultados de 20 ensaios clínicos randomizados nos quais a Cannabis foi comparada com um placebo para o tratamento da dor clínica.
Os resultados mostraram que a dor foi classificada como significativamente menos intensa depois do tratamento com placebo, com efeito moderado a grande, dependendo de cada pessoa. No entanto, o efeito das substâncias derivadas da Cannabis não se mostraram superiores a isso.
Essa conclusão corrobora os resultados de outra metanálise, publicada em 2021, que mostrou que estudos de maior qualidade tiveram respostas placebo mais altas.
As 20 pesquisas analisadas no estudo sueco envolviam cerca de 1,5 mil pacientes, sendo a maioria (62%) mulheres com idade entre 33 e 62 anos, e foram feitas majoritariamente nos Estados Unidos, no Reino Unido ou no Canadá, mas também foram incluídas pesquisas realizadas no Brasil, na Bélgica, na Alemanha, na França, na Holanda, em Israel, na República Tcheca e na Espanha.
Também foram analisados diferentes tipos de produtos de Cannabis — incluindo THC (sigla para tetrahidrocanabinol, substância responsável pelo efeito psicoativo da maconha), CBD (sigla para canabidiol) e Cannabis sintética (como nabilona). Esses tratamentos foram administrados de várias maneiras, incluindo pílula, spray, óleo e fumaça.
Falhas nos ensaios
O estudo sueco sugere que alguns desses 20 ensaios com Cannabis controlados por placebo falharam em garantir o cegamento correto, ou seja, em impedir que o paciente soubesse se está tomando o medicamento ativo ou o placebo. O conhecimento sobre o produto administrado pode interferir na resposta.
O novo estudo também revelou que muitos participantes podem distinguir entre um placebo e a Cannabis ativa, apesar de ambos terem o mesmo odor, sabor e aparência. De acordo com os pesquisadores, essas falhas podem ter levado a uma superestimação da eficácia da Cannabis medicinal no tratamento da dor.
O estudo sueco avaliou, ainda, que a esmagadora maioria das notícias publicadas na imprensa, de modo geral, e nas revistas científicas retrata, de maneira “relataram que a Cannabis teve um efeito positivo no tratamento da dor”. “Isso significa que a cobertura da mídia em relação à Cannabis tende a ser positiva, independentemente de quais foram os resultados de um estudo”, ressaltou Filip Gedin, pesquisador no Instituto Karolinska, em artigo publicado na Science Alert.
Esse tema foi abordado no estudo sueco porque pesquisas mostraram que a cobertura da mídia e as informações disponíveis na internet podem afetar as expectativas de uma pessoa em relação ao tratamento.
Apesar das evidências, a equipe sueca afirma que não é possível afirmar que a cobertura da mídia é responsável pela alta resposta ao placebo observada nos estudos.
“Mas, como os placebos demonstraram ser tão bons quanto a Cannabis para controlar a dor, nossos resultados mostram quão importante é pensar sobre o efeito placebo e como ele pode ser influenciado por fatores externos — como a cobertura da mídia. Para tratamentos como canabinoides, que recebem muita atenção da mídia, precisamos ser mais rigorosos em nossos ensaios clínicos”, escreveu Gedin.
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