O Catar, em 2022, atraiu os olhares do mundo. Pela TV, bilhões de pessoas acompanharam a Copa do Mundo de Futebol, maior evento esportivo do planeta.
Do Catar, no sábado 7, quem viveu sua “Copa do Mundo”, também pela TV, foi o terrorista Ismail Haniyeh, líder do Hamas, que comandou boa parte das ações, delegando outras ao líder militar.
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Haniyeh, que já foi prisioneiro em Israel, fugiu para o Catar porque o país, enquanto acena para o mundo com sorrisos simpáticos e diplomáticos, mantém uma política brutal e violenta. Em outras ocasiões, o Catar já foi acusado de financiar o terrorismo, o que levou nações aliadas da Arábia Saudita a romperem relações com o país entre 2017 e 2022.
Mas a prova maior e mais contundente veio no sábado, quando Haniyeh comemorava as mortes de bebês, os estupros, os assassinatos, os sequestros de criminosos do Hamas, vibrando como se assistisse a uma partida de futebol. Em um país que, pouco menos de um ano atrás, se dizia aberto ao mundo, em um tom diplomático repleto de hipocrisia.
“Estamos em um momento perigoso”, alerta o consultor internacional israelense Dori Goren. “É um momento de jogo duplo. Países como o Catar estão se vendendo para o mundo como parceiros, redutos abertos e, enquanto isso, fazem o mesmo que faziam em outras épocas, quando estavam isolados: apoiam o terrorismo.”
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Tanto quanto o Irã, o Catar dá ajuda financeira ao Hamas. Ao mesmo tempo em que comemora, com brindes e apertos de mão, bilionários acordos com países europeus, seduzindo-os com investimentos.
Estratégia de investimentos e penetração na Europa
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia também só atiçou ainda mais sua ganância em explorar mercados. Porque, para não dependerem de gás da Rússia, muitas potências fecharam negócios para a compra de gás natural catari.
Do Reino Unido, que importa cerca de metade do gás que utiliza, o Catar é seu segundo maior fornecedor estrangeiro. Representa quase 10% de suas importações de energia.
A Alemanha fechou um acordo com a estatal Qatar Energy, com a participação da multinacional ConocoPhillips. Segundo a BBC, Berlim está na expectativa que quantidades crescentes de gás do Catar cheguem à Brunsbüttel, local onde os alemães construíram um dos terminais para substituir importações da Rússia.
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E assim o Catar vai expandido seus negócios pela Europa. Enquanto fornece gás, aumenta os investimentos. O principal receptor dos investimentos do Catar tem sido o Reino Unido, cerca de US$ 49 bilhões.
Facilita o mecanismo a criação da Qatar Investment Authority (QIA), fundo de investimentos com um total de US$ 490 bilhões. Um dos braços da QIA é a Qatar Sports Investments, responsável, por exemplo, pelos bilhões injetados no Paris-Saint Germain. A França, aliás, é o segundo maior alvo de investimentos do Catar na Europa. E o futebol, seu cartão de visitas.
Origens diferentes, interesses iguais
Enquanto isso, na geopolítica do Oriente Médio, o Catar movimenta suas peças. A política, neste caso, está superando o que eram antes diferenças históricas. A questão da linha do islamismo, sunita ou xiita, já não é definitiva para separar ou unir culturas.
O Catar, por exemplo, é essencialmente sunita, mas é aliado do Irã, xiita, e tem diferenças com a sunita Arábia Saudita. Com o Irã, um fator de aproximação é que ambos dividem um imenso campo de gás marítimo no Golfo Pérsico.
E a animosidade em relação a Israel é outro fator de união. O Hamas, então, sunita como o Catar, acabou se tornando um grupo valorizado como um “irmão mais novo”. Nesse caldo de interesses em comum, o financiamento ao terrorismo é o ingrediente principal.
“O Catar financia o Hamas todos os meses, com robustos valores, milhões de dólares”, ressalta Goren, que já foi cônsul de Israel em São Paulo e embaixador israelense no Uruguai. “E o Catar se uniu ao Irã na tentativa de destruir Israel. Hanyeh é tratado como um rei por lá, mora em uma mansão de luxo e tem todas as regalias. Só isso já seria um imenso investimento no Hamas, mas ainda tem outros, diretos para o grupo.”
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Ele também considera que uma suposta política de segurança equivocada fortaleceu o Hamas para o ataque. Segundo Goren, o governo de Benjamin Netanyahu acabou se distanciando da Autoridade Palestina na Cisjordânia, para que ela perdesse força para o Hamas e inviabilizasse um Estado Palestino. Isso porque as duas regiões não tem uma ligação direta e, sem um governo único, ficaria quase impossível a criação de uma nação.
“Mas vimos que, mesmo sem querer, isso fortaleceu o Hamas”, observou. “Agora temos que nos recuperar e vamos conseguir. Mas é preciso que fique claro que, entre muitas boas alianças que os novos tempos trouxeram, essa maneira simpática de fazer terrorismo é uma realidade a ser enfrentada.”
Na modernidade do Catar, e seus arranha-céus de luxo, o desenvolvimento trilha em várias direções. O país quer abrir mercados a todo custo. A custo de dinheiro, de turismo, de gols, de lágrimas, de sangue. Na política do Catar, a mão direita, não sabe o que faz a esquerda.
É incrível como nestes países, a promiscuidade impera.