Com disparada do preço do gás, empresas europeias migram para os EUA

Empresas europeias que fabricam aço, fertilizantes e outras matérias-primas da atividade econômica estão transferindo suas operações para os Estados Unidos, atraídas por preços de energia mais estáveis e incentivo fiscal do governo norte-americano.

Na Europa, extremamente dependente do gás russo, os preços da energia dispararam depois que o governo de Vladimir Putin reduziu e cortou o fornecimento. Além disso, as cadeias de suprimento europeias, profundamente afetadas durante a pandemia de covid-19, ainda estão com problemas persistentes.

Apesar de os EUA também enfrentarem a inflação mais alta em 40 anos e ameaça de recessão, a disponibilidade de energia e os preços mais estáveis estão fazendo com que as empresas europeias ampliem suas sedes ou façam a migração para solo norte-americano, conforme reportagem do jornal norte-americano The Wall Street Journal.

Além disso, o governo dos EUA também lançou um pacote com uma série de incentivos para a indústria e energia limpa, que atrai, principalmente, empresas que apostam em projetos para fabricar produtos químicos, baterias e outros produtos de uso intensivo de energia.

Segundo o WSJ, a empresa química OCI, com sede em Amsterdã, anunciou neste mês a expansão de uma fábrica de amônia em Beaumont, no Texas, e a redução da produção europeia. O investimento nos EUA é de “altas centenas de milhões” de dólares, disse Ahmed El-Hoshy, o executivo-chefe, ao WSJ.

No início deste ano, a joalheria dinamarquesa Pandora e a montadora alemã Volkswagen também anunciaram aumento das instalações nos EUA. A ArcelorMittal , com sede em Luxemburgo, informou neste mês que cortaria a produção em duas fábricas alemãs e relatou desempenho melhor do que o esperado por um investimento em uma instalação do Texas, que produz ferro briquetado a quente, matéria-prima para a produção de aço.

Na semana passada, a Tesla informou a suspensão dos planos de fabricar células de bateria na Alemanha e pretende buscar créditos fiscais de uma recente lei de incentivo do governo de Joe Biden. A empresa química alemã Basf, uma das maiores compradoras de gás natural da Europa, cortou a produção em plantas belgas e alemãs.

Os líderes dos países europeus começaram a se preparar para a possibilidade de que os fluxos de gás natural russo através do principal gasoduto — o Nord Stream 1 — não retornem aos níveis máximos. A Europa continua sendo um mercado desejável para manufatura avançada e possui uma força de trabalho industrial qualificada, dizem analistas e investidores.

Porém, economistas alertaram que os produtores de gás natural podem ter dificuldades para substituir totalmente a Rússia como fornecedora para a Europa no médio prazo. Se for assim, o continente poderá enfrentar preços altos, pelo menos para o gás, até 2024, ameaçando tornar permanentes os danos à indústria europeia e gerar a desindustrialização.

O executivo-chefe da austríaca do setor de siderurgia RHI Magnesita, Stefan Borgas, disse ao WSJ que se o continente não conseguir encontrar gás mais barato ou aumentar a energia renovável, “as empresas começarão a procurar em outros lugares”. Com a falta de gás, a RHI está investindo € 8 milhões (US$ 8 milhões) em suas plantas europeias para que certos processos funcionem com combustíveis alternativos, como carvão ou petróleo. “Estamos aumentando nossos investimentos [nos EUA] também para ficar com todos os nossos parceiros que estão investindo”, disse Borgas.

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