O mês de setembro e pelo menos duas semanas do começo de outubro de 2023 registraram situações com quadros meteorológicos bem marcados sobre a Região Sul, parte do Sudeste e parte do Centro-Oeste.
Em alguns momentos, tínhamos temperaturas elevadas, alternando a situação rapidamente. Houve quedas de temperaturas, que poderiam atingir até 15,0oC em 24 horas, chuvas intensas, seguidas ou não de trovoadas isoladas e ventos fortes.
Os totais pluviométricos, especialmente na Região Sul, foram suficientes para desencadear o encharcamento de solo, dificultando a drenagem e aumentando o risco de enchentes. A rápida sucessão de quadros análogos mal permitia uma recuperação do evento anterior, recém ocorrido.
Pois bem, como retratamos aqui, tratava-se do intenso gradiente que fixou sua localização exatamente sobre essas regiões (discutido no artigo “Quadros Meteorológicos de Agosto e Setembro sobre o Brasil”). No artigo, discutimos a ocorrência do embate de dois sistemas que atuavam totalmente antagônicos e que persistiram até outubro. Os efeitos justamente na linha de confronto são sempre mais severos, pois quanto maior for o gradiente mais intenso serão os ajustes necessários para que possa ocorrer uma estabilidade momentânea na atmosfera, posterior ao embate.
Para o caso, tivemos uma repetição quase que cíclica entre os estados atmosféricos onde as áreas mais ao Norte da região demarcada anteriormente eram dominadas por uma condição de alta pressão atmosférica em superfície, provocada pelo anticiclone semipermanente que atua na estação sazonal de inverno.
Como explanamos, ocasionalmente, a condição pode ser persistente e permear sua existência pela entrada da primavera por muitos dias, atrasando as chuvas do Sudeste e concentrando a precipitação na Região Sul. O quadro atual de El Niño pode ocasionar a maior permanência do sistema, estendendo-o para vastas áreas do território brasileiro, especialmente o Nordeste e até a Região Norte, enquanto a Zona de Convergência Inter-Tropical ainda permanece no hemisfério Norte.
A situação da persistência do anticiclone define o tempo meteorológico como mais seco, pouca ou nenhuma nebulosidade, portanto totais pluviométricos baixíssimos ou ausentes e, principalmente, alta incidência de radiação solar sobre a superfície. Com o número de horas do período diurno aumentando, conforme o tempo segue para a entrada do verão no Hemisfério Sul, e com muita radiação solar incidente pela ausência de nuvens, o reflexo nas temperaturas é evidente. Não se trata de “aquecimento global” causado pelo fadado “efeito-estufa”, mas pelo elevado saldo de radiação solar incidente. Até o final de outubro ainda vimos isto acontecer.
Os ciclones extratropicais
A radiação de onda longa terrestre emitida é subordinada à incidente radiação solar. Se ela subiu foi porque a sua geratriz elevou-se significativamente. Se não fosse assim, logo após a passagem de qualquer sistema frontal, como ocorreram várias vezes neste período que analisamos, as temperaturas deveriam se manter altas. Contudo, tivemos quedas abruptas, fazendo boa parte do Sul e do Sudeste ainda “recordar” os tempos de inverno — como alertamos que iria acontecer, bem como iria se estender por parte do mês de outubro.
Tais quedas de temperaturas foram ocasionadas pelas passagens de sistemas frontais, ainda bastante ativos, justamente porque a Trilha das Depressões, um grande corredor de ciclones extratropicais que circunda toda a região sub-antártica e médias latitudes, ainda operava intensamente na área das latitudes mais baixas, situação corriqueira durante o inverno do Hemisfério Sul. Devemos lembrar que a retaguarda dos sistemas frontais é mantida por outro anticiclone, mas de origem fria e de alta mobilidade. O intenso gradiente de temperaturas é o principal responsável pela severidade dos sistemas, favorecendo a formação de ciclones.
Neste ano, em particular, alguns ciclones extratropicais tiveram maturação continental (onde o centro de baixa pressão atmosférica em superfície está muito próximo da costa ou até mesmo sobre o continente). Não foi isto que determinou um maior gradiente, mas, sim, o tamanho dos ciclones, todos de proporções sinópticas planetárias, cujas frentes que os ocasionaram tomaram dimensões significativas, ocupando extensões da superfície também de grande vulto.
O embate do setor quente com o setor frio, em faixa mais “estreita”(quando comparada às dimensões continentais do Brasil, do anticiclone e de todo o sistema frontal conectado ao seu respectivo ciclone extratropical) geraram trovoadas de vulto por toda a linha do setor frontal, onde nuvens Cumulonimbus (as próprias nuvens de trovoadas) ocasionaram muitas chuvas e intensas frentes de rajada. A ocasião também pode gerar fenômenos de meso e micro escala, incluindo pequenos tornados, que não são nenhuma novidade para as regiões interioranas dos Estados do Sul do Brasil, já devidamente mapeados pela Força Aérea Brasileira (FAB), desde os anos de 1980. Assim, atribuir a sua existência às “mudanças climáticas” é apenas mais um engodo do discurso alarmista.
A farsa das mudanças climáticas
Contudo, o mais interessante de toda essa sucessão dos estados meteorológicos, ou ritmos, conforme denomina a Escola da Climatologia Geográfica do Brasil, foi que ela permaneceu tempo suficiente sobre determinado lugar para ser registrada pelos satélites e, assim, confirmar dois pontos que sempre elencamos para todos: que a situação que ocorreu no Brasil nestes meses tratou apenas do embate de dois sistemas meteorológicos de vulto, que “estacionaram” sobre determinadas regiões; e que as temperaturas medidas pelos satélites envolvem processos atmosféricos e seus quadros evolutivos temporais de médio período (pelo menos 30 anos), não tendo nada a ver com a lastimada hipótese de “aquecimento global”, travestida de “mudança climática” para esconder a derrocada do vexame da anterior. Assim, o que se mede é a resultante de vultuosos processos de grande escala na troposfera, especialmente os que envolvem a baixa troposfera (primeira camada atmosférica de baixo para cima).
Entenda | O que ESG significa de fato?
A Universidade do Alabama em Huntsville (UAH) abriga o Departamento de Atmosfera e Ciências da Terra, que trabalha com os dados satelitais de temperatura da National Oceanic and Atmospheric Administration (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica). A série originou-se em dezembro de 1978 e vem sendo confeccionada com novos dados todos os meses. Além do professor Roy Warren Spencer, climatologista que também trabalha na série, a UAH tem sua representação e atuação realizada pela equipe do professor John Raymond Christy. No fechamento do mês de setembro, a Carta Global de Anomalias de Temperatura da Baixa Troposfera acabou registrando esta persistência geográfica dos sistemas que descrevemos, mostrando claramente que o peso marcado nos registros são os fenômenos atmosféricos de larga escala.
Notamos, na carta, as duas anomalias nas temperaturas. A de núcleo quente, que persistiu nas regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste, com picos mais centrados nesta última região, e a anomalia fria, nucleada ao sul da Argentina, mas ocupando uma faixa extensa — desde o sul do Pacífico ao sul do Atlântico, local onde percorreram os ciclones extratropicais. Entre elas, o gradiente ficou bem marcado, sendo justamente a localização dos maiores embates verificados no mês de setembro.
Provavelmente, a carta de outubro, assim que estiver confeccionada com os dados consolidados, também deverá apresentar alguma semelhança com a carta de setembro. Vamos aguardar, pois além desta interessante comparação, também veremos que os valores das anomalias foram muito significativos, especialmente porque o El Niño está muito ativo e deve persistir até o final do ano.
Com algumas escolas e iletrados palpiteiros que temos por aqui, se no exame do Enem perguntarem por que ocorrem as mudanças climáticas no Brasil é possível que algum candidato ‘explique’ que é porque El Niño só queria tomar uma cervejinha.