Na Guerra de Independência israelense, em 1948, as Forças de Defesa de Israel (FDI), ainda em formação, quase não tinham armamentos. Com o embargo dos Estados Unidos, Europa e Rússia, incluíam em seu arsenal qualquer blindado que andasse ou avião que voasse. Ainda que com dificuldades, o país venceu a guerra com muitos equipamentos precários.
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Mais de 75 anos depois, com equipamentos de ponta, contra um inimigo muito inferior em termos militares, especialistas consideram esta guerra com o Hamas a mais difícil da história de Israel.
Na lista de conflitos que visavam à destruição do Estado judaico estão a Guerra do Sinai (1956), a Guerra dos Seis Dias (1967), a Guerra do Atrito (19170-71), a Guerra do Yom Kipur (1973), a Invasão do Líbano (1982 a 1985) e a segunda Guerra no Líbano (2006), entremeadas por conflitos e pelas Intifadas de 1987 e 2000.
Cada uma delas teve dificuldades específicas, mas, pela primeira vez, Israel prolonga combates contra um inimigo que não tem existência institucional em um local que não se configura um Estado oficial.
Este grupo terrorista, que iniciou o atual conflito ao invadir Israel e matar mais de 1,2 mil pessoas em 7 de outubro, tem transformado os combates em uma espécie de guerrilha urbana.
Mesmo acostumadas a lidar com atentados em cidades, as forças israelenses nunca prolongaram esse tipo de combate para além das fronteiras.
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Na guerra do Líbano, quando combatia a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), tropas israelenses ingressaram em um país institucionalizado, o que movimentava muito mais o lado diplomático do conflito.
“Temos que encontrar a infraestrutura, temos que empurrar o inimigo do subterrâneo e temos que combater numa circunstância normal, na superfície”, disse o tenente-coronel Erez Yerushalalmi, 45 anos, em documentário da Rede Globo, a respeito do sistema de túneis construído pelo Hamas.
“E (temos de) ter essas duas dimensões de guerra, uma no solo, outra no subsolo. É um campo militar totalmente diferente de tudo que experimentamos antes.”
Nos três anos de invasão do Líbano, entre junho de 1982 e junho de 1985, foram mortos 654 soldados de Israel, segundo a Associated Press (AP). Somente nestes três meses de guerra contra o Hamas, foram mortos pelo menos 170 soldados de Israel.
“Considero sem dúvida esta a mais difícil das guerras de Israel”, assegura a Oeste o reservista Jairo Gawendo, especialista em segurança, que já serviu na unidade antiterror Golani, uma das que estão em ação em Gaza no momento.
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“Por incrível que possa parecer, as guerras têm regras convencionais, códigos de honra, conduta, moral e ética. E esta é caracterizada pela ausência destes itens, no que diz respeito ao Hamas.”
Lista dos motivos
Gawendo enumera os principais argumentos para definir este como o conflito mais complicado em que as FDI se envolveram.
- Os reféns. “É a grande e principal dificuldade. Israel é um país que conta seus indivíduos de forma única. Todos são importantes, inclusive resgate dos corpos. Portanto em todo tipo de combate é considerada essa questão.”
- População civil palestina. “A grande densidade demográfica de civis dificulta as operações militares.”
- Escudos humanos. “O uso da população civil, casas particulares, instalações para fins humanitários e educacionais e instalações da ONU como abrigo para bases de ataques bélicos terroristas, requer alto índice de precisão dos serviços de inteligência e por vezes autorizações do alto comando militar e político do país.”
- Trincheiras subterrâneas. “Até bem pouco tempo atrás, uma técnica militar muito utilizada eram as trincheiras e, quando havia necessidade de abrigos antibombas, eram construídos bunkers no subsolo. Pois bem, o Hamas pegou a ideia do bunker e desenvolveu o modelo para quilômetros de trincheiras subterrâneas. Os túneis. Uma ramificação de mais de 5.000 metros de túneis interligados, permitindo de forma quase que invisível a comunicação, suprimento logístico e principalmente deslocamento de pessoas e veículos.”
- Terroristas em roupa de civis. “Os terroristas, propositalmente, não fazem uso de uniforme, para dificultar sua identificação, para se misturar entre os civis e para, se mortos, mostrarem à opinião pública que as FDI matam civis inocentes.”
- Opinião pública mundial. “Israel, em todas as guerras e operações militares desde sua fundação, mas principalmente pós-guerra dos 6 dias, em 1967, é o país que mais tem que explicar ao mundo o porquê de seus atos bélicos. Mas, neste caso específico, depois dos atos horrendos e indescritíveis em palavras ocorridos em 7 de outubro, quando parecia óbvio que o mundo acolheria e daria respaldo à resposta israelense, surpreendentemente entendemos que não seria o que esperávamos.”
Acredito que haja um equívoco com relação à distância coberta pelos túneis do Hamas. Segundo o próprio grupo terrorista, eles construíram uma rede de 500 km de túneis e não 5000 metros.