O chefe da diplomacia dos Estados Unidos para o Hemisfério Ocidental, Brian Nichols, disse que o candidato opositor na Venezuela, Edmundo González Urrutia, derrotou o ditador venezuelano, Nicolás Maduro. Ele deu a declaração nesta quarta-feira, 1°, à Organização dos Estados Americanos (OEA).
Maduro foi declarado vencedor na madrugada da última segunda-feira, 29, depois de diversas entidades e países contestarem a “reeleição” do ditador.
Nichols validou atas eleitorais compartilhadas pela oposição, que alega fraude.
“A tabulação desses resultados detalhados mostra claramente uma verdade irrefutável: Edmundo González Urrutia ganhou com 67% desses votos contra 30% de Maduro”, afirmou Nichols. “Simplesmente, não há votos suficientes nas atas de recontagem restantes para superar tal déficit.”
Observadores internacionais duvidam de “reeleição” de Maduro
Nesta terça-feira, 31, a organização sem fins lucrativos Centro Carter anunciou que a eleição na Venezuela não atendeu aos padrões de imparcialidade democrática.
A organização foi um dos poucos observadores internacionais no país depois que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano declarou Nicolás Maduro como vencedor.
“A eleição presidencial da Venezuela de 2024 não se adequou a parâmetros e padrões internacionais de integridade eleitoral e não pode ser considerada democrática”, indicou o Centro Carter, em comunicado.
Resultados oficiais e alegações de fraude na Venezuela
De acordo com o resultado divulgado pelo CNE na madrugada de segunda-feira, com base em 80% dos votos apurados, Nicolás Maduro obteve 5,1 milhões de votos (51,2%). Já o ex-diplomata Edmundo González Urrutia levou 4,4 milhões (44,2%).
Entretanto, a oposição afirma que González Urrutia recebeu 6 milhões de votos contra apenas 2,7 milhões de Maduro, menos de 30%.
“O CNE de Maduro precisa de tempo para preparar resultados falsificados para respaldar sua falsa afirmação”, disse Nichols.
María Corina Machado, principal figura da oposição, anunciou junto de González Urrutia a criação de um site com informações de todas as atas a que tiveram acesso, pouco mais de 80%. Segundo eles, as atas mostram uma vitória incontestável do candidato opositor.
Diversas organizações internacionais e representações diplomáticas pediram uma auditoria dos resultados e a divulgação dos dados totais das urnas, incluindo o Centro Carter.
Na segunda-feira, a organização pediu ao CNE que publicasse “imediatamente” as atas.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, insistiu para que o governo de Maduro conte os votos “com total transparência” e a liderança política a agir “com moderação”.
Lula “não vê nada grave” em eleições da Venezuela
O Brasil, por meio do Ministério das Relações Exteriores, solicitou a publicação das atas para dar “transparência e legitimidade” à contagem dos votos. Contudo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou não ver “nada grave” no processo eleitoral da Venezuela.
Em Caracas, o assessor especial para assuntos internacionais do Planalto, Celso Amorim, encontrou-se com Maduro e com González na segunda-feira para discutir a votação. Lula ainda reforçou a apresentação das atas pelas autoridades para “resolver a briga”.
O resultado causou uma onda de protestos pelo país. Milhares de pessoas tomaram as ruas com gritos de “vai cair, vai cair, este governo vai cair!” e “Que entregue o poder já!”.
Conforme a Promotoria-Geral da Venezuela, foram registradas mais de mil detenções nas manifestações, com a prisão de dois líderes da oposição.
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Segundo quatro organizações de direitos humanos, pelo menos 11 manifestantes e um oficial das forças de segurança morreram nos atos, além de dezenas de denúncias de desaparecimentos.
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O ministro da Defesa e chefe das Forças Armadas venezuelanas, Vladimir Padrino López, expressou “absoluta lealdade” a Maduro. O militar afirmou que os protestos “são um golpe de Estado” promovido “pela extrema direita”.
Leia também: “A aventura expansionista de Nicolás Maduro”, reportagem de Eugenio Goussinsky publicada na Edição 194 da Revista Oeste