O fundo do mar é um dos lugares mais misteriosos e complexos que o ser humano pode conhecer, especialmente pelo fato de cobrir 360 milhões de quilômetros quadrados da superfície da Terra. No entanto, mais de 80% dele nunca foi explorado, mapeado ou visto pelos olhos humanos.
Segundo informações do portal Earth.com, os mapas de fundo do mar existentes são menos detalhados que os da superfície da lua. As partes mais profundas do mar são geladas, extremamente escuras e possuem uma pressão que um ser humano não pode suportar — a menos que esteja dentro de um submarino especialmente projetado para encarar esse tipo de situação.
Em entrevista a Oeste, a professora adjunta Elisabeth Cabral Silva Falcão, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e doutora em Oceanografia pela Universidade Federal de Pernambuco, explica que a pressão do fundo do mar é “tão pesada” por causa do meio em que está, especialmente pelo fato de a densidade da água também cooperar para tal pressão.
“Aqui, na superfície, estamos sujeitos a uma pressão de ‘uma atmosfera'”, disse Elisabeth. “No oceano, no momento em que mergulhamos 10 metros, por exemplo, temos o aumento de mais uma atmosfera. Ou seja, dobramos a pressão, se comparado quando estamos na superfície”. A especialista explica que, “a cada vez que dobramos essa pressão, atingimos o peso de quase 1 quilo a cada centímetro quadrado do objeto. Então, se mergulhamos 100 metros, teríamos 10 quilos de peso para cada centímetro quadrado do nosso corpo”.
Como é o fundo do mar
O fundo do mar, assim como a superfície, possui ilhas, vulcões, cadeias de montanhas e fossas oceânicas (pontos mais profundos). Os cientistas estimam que a profundidade média é de quase 4 quilômetros. O lugar mais profundo conhecido é o Challenger Deep, na Fossa das Marianas, no Pacífico, com quase 11 quilômetros de profundidade.
Áreas com mais de 200 metros de profundidade abrangem cerca de 95% do volume total do oceano. No entanto, a maior parte da vida marinha está em ecossistemas costeiros, como os recifes. A professora Elisabeth explica que isso acontece porque eles “estão associados a áreas mais iluminadas, com luz para fotossíntese, e um aporte de nutrientes e alimentos que vem do continente. Assim, ajuda a enriquecer os ecossistemas na costa”.
O fundo do mar também contém regiões repletas de fontes hidrotermais, formadas quando a água do mar encontra o magma por meio de fissuras. Ao ser aquecida, é liberada e traz substâncias como sulfeto de hidrogênio. Para bactérias quimiossintéticas, esse elemento é uma espécie de substituto da luz do Sol. Essas bactérias são responsáveis pela formação de espécies únicas do ecossistema, como caranguejos, anêmonas, camarões e vermes gigantes.
A parte mais profunda do mar, porém, não é um total deserto. Como nessas áreas não há a luz em contato com a areia, não há chance de formação de algas ou fungos associadas a rochas, ou até mesmo corais. “Mas não significa que vamos ter um ‘deserto’, porque temos os organismos que vivem na coluna da água, em que entra o plâncton: organismos muito pequenos”, observou Elisabeth. “É um deserto se considerarmos o que pode ser visível. Mas, de forma geral, vamos ter uma comunidade com a predominância de organismos microscópicos, com o plâncton sustentando toda a vida, formado por organismos fotossintetizantes (fitoplanctons) e a presença de organismos heterotróficos, que precisam de moléculas orgânicas retiradas de outros seres vivos se nutrirem.”
Como o fundo do mar se formou
“Os oceanos se formam em pontos da crosta terrestre em que temos o afastamento de placas tectônicas”, constatou especialista. A crosta da terra é marcada por limites, como linhas em uma casca de ovo quebrada, e há processos geológicos de afastamento ou encontro das placas entre esse espaçamento. Quando há afastamento, em geral, o material do Núcleo Terrestre sobe e provoca a formação de novas crostas e vulcões.
Com a repetição desse processo de afastamento, por muito tempo, são formadas novas bacias oceânicas. Com o resfriamento, essas bacias ficam muito densas e começam a “subsidir” — quando a rocha “desce” e, assim, cria as partes mais profundas de um oceano.
“Haverá um momento em que as placas vão se encontrar e, no ponto de encontro, uma vai descer e outra vai passar por cima dela”, disse Elisabeth. “Esse fenômeno, quando ocorre abaixo da superfície oceânica, também forma essas grandes profundidades.”
Sobre os animais que habitam nas profundezas do oceano
Mesmo nesse ambiente hostíl, é surpreendente o fato de que há algumas criaturas que descobriram um modo de viver, e até mesmo prosperar, nesse lugar. As profundezas “místicas” do oceano são repletas de espécies raras e únicas, não vistas em nenhum outro lugar. Algumas parecem de “outro mundo”, enquanto outras são desconhecidas pela ciência.
Elisabeth explica que esses animais geralmente são bem pequenos, especialmente pelo fato de não existirem muitos alimentos que possam agregar para o desenvolvimento de um corpo maior desses seres. Além disso, essas espécies possuem quase nenhuma composição gasosa e possuem um corpo formado por água. Trata-se de seres “gelatinosos”. Esse tipo de corpo ajuda a resistir à pressão do fundo do mar.
Mesmo que os cientistas não explorem o fundo do mar, e muitos animais permaneçam desconhecidos, a Elisabeth afirma que há animais que podem habitar nesses lugares. Por fim, a especialista comenta que é importante conscientizar as pessoas sobre a importância dos oceanos, para uma compreensão melhor da vida na superfície terrestre.
Tive a impressão de que a reportagem poderia ter sido melhor pois o assunto é realmente fascinante.