O Irã está enfrentando uma das piores crises energéticas de sua história, o que obriga o regime dos aiatolás a impor restrições próximas de um lockdown para a população.
Em pleno inverno, com o frio intenso da região, muitas fábricas, escritórios e sedes da administração pública do Irã estão operando com horário reduzido. Residências particulares estão enfrentando apagões, enquanto escolas estão mudando para o ensino à distância.
O Irã é o segundo país do mundo em reservas comprovadas de gás e o quarto em reservas de petróleo.
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Todavia, atualmente o país enfrenta um déficit de 350 milhões de metros cúbicos de gás por dia, 20 gigawatts de eletricidade e 15 milhões de litros de combustível.
Falta de investimentos no Irã provocaram a crise
O Irã está enfrentando essa crise severa por causa da falta de investimentos em sua infraestrutura energética.
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O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, fez um apelo para que os iranianos reduzam a temperatura do seus aquecedores em 2°C.
O vice-presidente iraniano de Assuntos Executivos, Mohammad Jaafar Ghaempanah, declarou no dia 17 de dezembro que fábricas e oficinas em algumas zonas industriais interromperam as operações por causa da falta de gás natural.
Apesar da demanda do país de 945 milhões de metros cúbicos de gás, apenas 840 milhões de metros cúbicos foram produzidos.
Cerca de 94% da eletricidade do Irã é produzida a partir de combustíveis fósseis. As fontes renováveis representam uma pequena porcentagem do total.
A dependência significativa do gás natural, a falta de avanços tecnológicos e a infraestrutura muito antiga impactam negativamente os esforços de desenvolvimento de energia renovável, o que levou a perdas de energia e a danos significativos à economia iraniana.
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As quedas de energia no país podem custar à economia local um prejuízo entre US$ 5 bilhões e US$ 8 bilhões por ano.
O Irã pretende aumentar sua capacidade de energia renovável para aproximadamente 30 gigawatts até 2030, com vistas a expandir significativamente seu uso de fontes de energia limpa, como energia solar e eólica. Contudo, dificuldades financeiras e sanções econômicas estão afetando o fluxo de investimentos estrangeiros e o desenvolvimento de tecnologias avançadas.
Ambições geopolíticas são parte da crise
Nos últimos três anos, o Irã faturou US$ 144 bilhões com vendas de petróleo para o exterior. Um imenso fluxo de dinheiro, cujos benefícios não foram vistos pela população local.
Teerã sempre alocou recursos de acordo com uma ordem de prioridades que não coincide com as necessidades dos cidadãos.
Pelo menos US$ 25 bilhões teriam ido para a Síria de Bashar al-Assad ao longo dos últimos anos, principalmente sob a forma de carregamentos de petróleo.
Bilhões de dólares também foram enviados pelo regime iraniano para o Líbano, como forma de suportar o grupo terrorista islâmico xiita Hezbollah.
A crise energética é o indicador de um paradoxo: o regime dos aiatolás quer liderar o Oriente Médio, mas não consegue garantir luz e gás nas casas dos iranianos durante o dia todo.
O Irã culpa as sanções ocidentais pelos seus problemas, pois proibiriam a exportação de petróleo em retaliação ao programa nuclear executado para fins supostamente militares.
Todavia, nos últimos anos, Teerã ignorou o embargo e decidiu exportar petróleo bruto quase exclusivamente para a China.
Subsídios elevados e poluição
Uma das causas dos problemas do Irã é o elevado nível de subsídios, que mantém o custo do combustível artificialmente baixo.
No entanto, esse sistema aumenta a demanda acima dos níveis da oferta.
Dada a impossibilidade de satisfazer o consumo interno com gás e petróleo, utiliza-se o “mazut“, um combustível de baixa qualidade e altamente poluente, que deixa o ar nas cidades iranianas entre os mais poluídos do mundo.
Crise energética transforma o Irã em importador de combustíveis
A situação tornou-se tão paradoxal que o Irã foi forçado a recorrer ao Turquemenistão para importar gás, apesar de ser um dos principais produtores mundiais da matéria-prima.
O governo pretende reduzir os subsídios para aumentar os preços dos combustíveis e da energia e, assim, tentar diminuir a demanda . Mas não é fácil num país com elevados níveis de pobreza e com a inflação por volta dos 34,5%.
Existe o risco de revolta social. E a crise energética não é o único grande problema interno.
O dólar está disparando em relação ao rial, a moeda local. Mais de 770 mil rials são necessários para comprar US$ 1, em comparação com menos de 500 mil um ano atrás. Um colapso de 35%, que, por sua vez, se traduz em custos mais elevados para as importações, mais inflação e sinaliza a crescente desconfiança dos cidadãos iranianos relativamente à gestão económica de seu próprio governo.