Onze minutos. Esse foi o tempo que Yevgeny Prigozhin, líder do Grupo Wagner, usou para justificar a revolta dos milicianos contra o Ministério da Defesa da Rússia.
Em áudio divulgado nas redes sociais, Prigozhin disse que seu objetivo não era derrubar o governo, mas protestar contra a forma como Moscou trata os mercenários do Grupo Wagner.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que os participantes da rebelião traíram o país. “Ao mesmo tempo, sabíamos e sabemos que a grande maioria dos combatentes e comandantes do Grupo Wagner também são patriotas da Rússia, dedicados a seu povo e ao Estado”, ressalvou.
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Depois do cessar-fogo, o Kremlin agiu para manter o ar de normalidade no país. O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, apareceu em vídeo publicado nesta segunda-feira nas redes sociais. Ele é o principal alvo da ira dos mercenários.
Já o primeiro-ministro da Rússia, Mikhail Mishustin, disse que o país terá de enfrentar um desafio à sua estabilidade. Para tanto, pediu união entre os Poderes.
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O prefeito de Moscou, Sergey Sobyanin, derrubou as medidas contraterrorismo que havia imposto enquanto os paramilitares seguiam em direção à capital russa. Os mercenários usaram tanques para danificar aproximadamente 10 mil metros quadrados de estradas.
Reportagem do Wall Street Journal mostra que o fracasso da Rússia em conter o avanço do Grupo Wagner na cidade de Rostov é um sinal da crise de liderança no país. Prigozhin também reforçou essa ideia, ao dizer que a marcha de seus soldados em direção a Moscou é um exemplo de como as Forças Armadas da Rússia enfrentam problemas de eficiência.
Líder do Grupo Wagner fez acordo com o governo da Rússia
Prigozhin conseguiu se livrar da acusação de “traição à pátria” e se mudará para Belarus, que fica mais próximo da Ucrânia. As medidas fazem parte do acordo firmado com Putin.
O Kremlin anunciou as tratativas no sábado 24, depois de ambas as partes selarem a paz. A Justiça da Rússia prometeu encerrar o processo contra Prigozhin, e as tropas de seu grupo estão isentas de responsabilidade.
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De acordo com o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, os soldados do Grupo Wagner que rejeitaram participar da insurgência contra Moscou receberão ofertas de contratos do Ministério da Defesa da Rússia.
“O processo legal será retirado”, comunicou Peskov. “Ninguém vai julgar os combatentes, tendo em conta seus méritos na frente do conflito com a Ucrânia.”
O porta-voz do Kremlin afirmou que o motim não frustrará a ofensiva russa contra os ucranianos. “A operação militar especial continua”, salientou Peskov. “Nossos militares conseguiram repelir a contraofensiva ucraniana.”
O intermediário improvável
O principal intermediário da negociação é o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko. Este último é aliado de Putin.
Depois do acordo, Prigozhin anunciou que ordenaria o recuo das tropas do Grupo Wagner, que marchava em direção a Moscou. A intenção do cessar-fogo é conter a escalada de crise entre os milicianos e o Exército da Rússia.
À tarde, os mercenários desocuparam o quartel-general militar da cidade de Rostov, que haviam tomado de assalto momentos antes.
O que aconteceu na Rússia?
Desde a noite da sexta-feira 23, muito se perguntou sobre o que aconteceu no país. Em 24 horas, uma rebelião de um ajuntamento fortemente armado ameaçou a autoridade de Putin, forçando-o a aceitar um acordo de cessar-fogo com o Grupo Wagner.
Em 10 de junho, o Ministério da Defesa da Rússia emitiu uma ordem obrigando todos os grupos mercenários que lutam no conflito contra a Ucrânia a assinar contratos formais com o governo.
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O líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, um dos ajuntamentos aliados de Putin, viu a medida como abusiva. Dessa forma, Prigozhin se recusou e pediu a imediata demissão do ministro Sergei Shoigu, o que não ocorreu.
Dias depois, Prigozhin acusou Shoigu de comandar ataques a acampamentos controlados pelo Wagner. A partir de aí, o mercenário rompeu com Putin.
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