A invasão da Ucrânia pela Rússia saiu pela culatra, segundo o analista Luke McGee, da CNN. Mas uma das consequências mais desastrosas para o presidente Vladimir Putin é a perspectiva cada vez mais provável de a Finlândia se juntar à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
O país nórdico deve anunciar seu interesse em aderir à aliança militar nesta semana, visto que seu Comitê de Relações Exteriores já deu sinal verde. Depois de o pedido ser formalizado, o Parlamento finlandês realizará um debate extraordinário sobre o tema.
A esta altura, é provável que a Otan convide a Finlândia. E isso deve acontecer em breve, porque o país atende à maioria dos requisitos. Nesse momento, é improvável que algum integrante da aliança militar se oponha.
Apoio popular
As pesquisas de opinião que foram realizadas recentemente mostram que pelo menos 60% dos finlandeses são a favor da adesão à Otan. Isso representa um grande salto, em comparação com os 30% verificados em anos anteriores.
Se tudo caminhar como o esperado, o país de menos de 6 milhões de habitantes deve redesenhar o mapa europeu de uma forma que antes era inconcebível, o que pode gerar consequências tremendas para a Rússia.
Ameaça a Moscou
Antes de invadir a Ucrânia, Putin deixou claro sua discordância sobre o suposto avanço da Otan em suas fronteiras. Atualmente, a Rússia compartilha a fronteira terrestre com quatro membros da aliança — Noruega, Estônia, Letônia e Lituânia. “A adesão da Finlândia significaria que um país com o qual a Rússia compartilha uma fronteira de 1,2 mil quilômetros se tornaria formalmente alinhada aos Estados Unidos”, observa McGee.
Isso não seria apenas uma péssima notícia para o Kremlin, mas também uma ótima vantagem para a Otan. Apesar de sua população ser relativamente pequena, a Finlândia é uma potência militar alinhada — não oficialmente — aos países ocidentais. De acordo com o analista da CNN, os militares finlandeses usam há décadas equipamentos comprados dos Estados Unidos.
Instinto de sobrevivência
“A segurança finlandesa sempre se baseou em dois conceitos: primeiro, geografia e história; segundo, idealismo e realismo”, explicou Alexander Stubb, ex-primeiro-ministro da Finlândia, em entrevista concedida à CNN.
“Em um mundo ideal, queremos cooperar com a Rússia, da qual não podemos deixar de ser vizinhos geográficos. Mas também sabemos, pela História, que a maior ameaça à nossa segurança nacional é Moscou. Com o tempo, a realidade que a Rússia está disposta a criar o caos em nossa região ficou mais claro. Então, ingressar na Otan se torna uma opção pragmática.”
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Além da política de recrutamento (todos os homens finlandeses podem ser convocados para o serviço militar) e dos altos gastos com defesa, os políticos do país têm vendido ao público a ideia de que o modo de vida da Finlândia deve ser mantido a todo custo.
“A ideologia padrão da Finlândia tem sido de sobrevivência”, disse Charly Salonius-Pasternak, pesquisador do Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais. “Nos últimos cem anos, nos tornamos um país forte e soberano, com alto padrão de vida. Tivemos de sacrificar terras para manter a paz. É de vital importância que nosso modo de vida sobreviva, seja pela diplomacia pragmática, seja pela postura mais dura contra nossa maior ameaça.”
Leia mais: “Autoritarismo ou liberdade”, artigo de Ubiratan Jorge Iorio publicado na Edição 109 da Revista Oeste