O Gigantopithecus blacki tinha quase a mesma altura de uma cesta de basquete (3,05 m) e o peso de um urso pardo, e foi o maior primata que já existiu. Durante mais de um milhão de anos, no Pleistoceno, o Gigantopithecus viveu no sul da China.
Quando os seres humanos chegaram à região em que ele vagava, o maior macaco da história já tinha desaparecido. Recentemente, um grupo de cientistas decidiu analisar pistas preservadas em dentes de Gigantopithecus e sedimentos de cavernas para descobrirem como esses primatas morreram.
No início de janeiro, as descobertas dos pesquisadores foram publicadas na revista Nature. Elas revelaram que os Gigantopithecus morreram por causa de uma dieta especializada e pela incapacidade de se adaptaram a um ambiente em constante mudança.
Gigantopithecus blacki perdeu as florestas densas em que vivia
O Gigantopithecus foi descoberto em meados da década de 1930, em um boticário de Hong Kong onde seus molares excepcionalmente grandes estavam sendo vendidos como “dentes de dragão”.
O maior macaco da história foi batizado em homenagem a Davidson Black, o cientista canadense que estudou o homem de Pequim, um ancestral humano primitivo. Décadas a seguir, pesquisadores descobriram cerca de 2 mil dentes de Gigantopithecus e um punhado de fósseis de mandíbulas em cavernas no sul da China.
A falta de ossos fossilizados dificulta a reconstrução do Gigantopithecus. Por isso, os paleoartistas o retratam como um macaco parecido com um orangotango (seu parente vivo mais próximo) cruzado com um gorila de costas prateadas, mas maior, segundo o jornal norte-americano The New York Times.
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Yingqi Zhang, paleontólogo do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia, em Pequim, e um dos autores do novo artigo, estudou os fósseis do primata por mais de dez anos. Zhang precisava determinar exatamente quando o Gigantopithecus desapareceu para descobrir porque ele foi extinto. Por isso, ele se uniu a Kira Westaway, geocronologista da Universidade Macquarie, na Austrália.
Os cientistas analisaram materiais do primata recolhidos de 22 cavernas do sul da China, isótopos e pólen nas amostras para recriar o ambiente da região na época em que o Gigantopithecus desapareceu. Eles também compararam os padrões de desgaste dos dentes do macaco com os dentes fossilizados do Pongo weidenreichi, um orangotango extinto que viveu ao lado do Gigantopithecus.
Eles descobriram que o Gigantopithecus foi extinto entre 295 mil e 215 mil anos atrás. As datas são muito mais recentes do que as estimativas anteriores. Elas também combinam com um período dinâmico de mudanças ambientais.
Os cientistas também descobriram que antes da janela de extinção, o ambiente local era dominado por árvores sempre verdes, em florestas de dossel fechado. O Gigantopithecus estavam bem adaptado a esses ambientes, e se alimentava de plantas fibrosas, frutas e flores.
Há cerca de 600 mil anos o clima da região começou a mudar com as estações do ano, e florestas densas deram lugar a um mosaico de florestas abertas e pastagens, o que resultou em “períodos secos em que era difícil encontrar frutas”, disse Westaway.
Diferente dos antigos orangotangos, que se adaptaram com uma dieta diversificada de brotos, nozes, sementes e insetos, o Gigantopithecus passou a se alimentar alternativas menos nutritivas, como cascas e galhos.
O tamanho do Gigantopithecus passou a trabalhar contra ele. Enquanto o orangotango percorria distâncias maiores por meio das copas das árvores e em ambientes abertos para comer, o Gigantopithecus terrestre ficava restrito a trechos cada vez menores de floresta.
As mudanças climáticas já estavam presentes neste tempos ancestrais