Estabelecimento da quarentena forçada no país asiático criou um grave problema social, já que milhões de indianos vivem e comem onde trabalham
Milhões de trabalhadores migrantes nas cidades indianas vivem e comem onde trabalham. Diante disso, o fechamento dos negócios produziu um problema social, não apenas econômico.
Em uma das maiores migrações da história moderna da Índia, centenas de milhares de trabalhadores começaram longas jornadas a pé para chegar em casa, tendo sido desabrigados e desempregados pelo bloqueio nacional imposto pelo primeiro-ministro, Narendra Modi, para conter a disseminação do coronavírus no país.
Com as empresas fechadas nas cidades de toda a Índia, um grande número de migrantes consequentemente ficaram sem comida e abrigo. “Você tem medo da doença, vivendo nas ruas. Mas temo mais a fome, não o coronavírus”,disse Papu, 32 anos, que veio a Delhi há três semanas para trabalhar e está tentando voltar para sua casa em Saharanpur, no estado de Uttar Pradesh, a 250 quilômetros de distância.
Enquanto dezenas de países em todo o mundo estão trancados para conter a propagação do vírus, em lugares lotados e empobrecidos como a Índia, muitos temem que as medidas possam provocar agitação social. Milhões de pessoas vivem em favelas indianas, e ficar em casa por três semanas – como Modi ordenou – é uma perspectiva assustadora nesses lugares. Motivo: dezenas de membros da família costumam dividir alguns quartos.
Trabalhadores migrantes protestaram contra o bloqueio na Índia, mas o governo central ordenou que os Estados fechassem suas fronteiras, obrigando que os migrantes fiquem onde estão.
THIS- Scenes from Anand Vihar bus station. Disheartening.
Video courtesy: @furquansid #CoronaLockdown #MigrantsOnTheRoad #SocialDistancing
— Zeba Warsi (@Zebaism) March 28, 2020
Religião e comida
Normalmente, os desabrigados são alimentados pelas instituições religiosas da Índia: templos hindus, gurdwaras sikhs e mesquitas. Mas agora tudo está fechado e os abrigos estão sentindo a tensão. “A pressão aumentou drasticamente. As pessoas não podem andar pelas ruas e, se continuar assim, a situação vai explodir”, disse Nishu Tripathi, 29 anos, supervisor de uma cozinha aberta pela Safe Approach, uma organização não governamental com sede em Délhi. “Nunca vi tanto desespero”, disse Ricky Chandael, coordenador de outro abrigo. Um vídeo divulgado nas redes sociais da jornalista indiana Tabeenah Anjum mostra uma família caminhando em direção à vila de Etawah, que fica distante 364 quilômetros da cidade de Jaipur, de onde partiram.
One can hear the sound of their footsteps. Shalu & her family walks towards their village in Etawah, 364 kms from #Jaipur
In their uncertain journey, #Covid is the least concern. All they need is, food for the kids, a place to rest & a vehicle to hitch a ride#MigrantsOnTheRoad pic.twitter.com/lSQ0PoMsVB
— Tabeenah Anjum (@TabeenahAnjum) March 29, 2020
O primeiro ministro disse que o bloqueio por três semanas é a única esperança da Índia evitar uma epidemia devastadora: 980 pessoas já testaram positivo para o coronavírus, 24 morreram.
Os supervisores de um abrigo para mulheres e crianças em Nizamuddin, um bairro no centro de Délhi, disseram que o governo fez doações de sabão pela primeira vez e que receberam ordens de ensinar sobre o vírus aos que procuravam abrigo e obrigá-los a lavar as mãos e tomar banho. “É difícil; eles não estão acostumados a lavar as mãos o tempo todo ”, disse Rajesh Kumar, supervisor.
Na internet é possível encontrar relatos e fotos do caos social que a Índia enfrenta, com a hashtag: #MigrantsOnTheRoad, que significa “Migrantes Na Estrada”, os internautas compartilham histórias e críticas ao governo. “Esta é a situação em um posto de controle em Andhra Pradesh, estado indiano. Quase 2 mil pessoas foram paradas desde a noite passada…”
This is the situation at a checkpost in Andhra Pradesh. Nearly 2,000 people have been stopped since last night
If the PM cared, he would’ve thought more about planning the lockdown than about publicising it. #CitizensAboveCitizenship #MigrantsOnTheRoad pic.twitter.com/QOZqlqxmEU— We The People of India (@ThePeopleOfIN) March 28, 2020
“Cenas na Delhi. Possivelmente, estamos vendo a maior migração humana da história a pé após a partição. Sem comida | Sem água | Pobre sofrimento.”
Scenes at the Delhi UP Border!
We are possibly seeing the histories biggest human migration on foot after partition.
Without Food | Without Water | Poor suffering#COVID19 #MigrantsOnTheRoad pic.twitter.com/cQaanhyxtC— Syed Shajiullah Naveed (@Dr_SSNaveed) March 28, 2020
“Milhares no terminal rodoviário de Anand Vihar. Um bloqueio de 21 dias muito bem planejado. Estamos condenados!”
Thousands at Anand Vihar ISBT.
A very well+planned #21daysLockdown at play here. We are DOOMED! #coronavirusindia #CoronaLockdown #COVID19 #MigrantsOnTheRoad pic.twitter.com/8H5GhR4GVX— فرقان أمين | furquan ameen (@furquansid) March 28, 2020
Além de uma pandemia, o mundo pode estar prestes a assistir uma crise humanitária.
Fonte: The New York Times
As soluções não são fáceis e nem sei se são soluções. O Brasil não é a Índia que não é os EUA ou a Alemanha. O que se observa até aqui é que só a quarentena pode diminuir o número de infectados e de mortos; cabe a cada governo aplicá-la segundo a realidade de cada país e, na minha opinião que não passa da minha opinião mesmo, é que a vida deve ser sempre preservada. Para ter fome ou perder o emprego, é preciso estar vivo. Só acho.
Uma crise humanitária, tudo indica, “fabricada”
A outra face da quarentena. Não irá demorar para o caos se instalar aqui no Brasil também. ótima matéria.