Negociações para definir regras de comércio e aduana com a União Europeia sofreram forte atraso devido à pandemia de coronavírus
“Pensar que você poderia então adicionar a esta situação extraordinária [a negociação de acordos comerciais do Brexit] uma saída muito desordenada, para mim não é imaginável”, aponta o presidente de Relações Exteriores do Bundestag (equivalente à Camara dos Deputados da Alemanha), Norbert Röttgen. “Acho que todo mundo dirá que isso não é do interesse britânico nem de qualquer um de nós.” O discurso sintetiza o que pensa o aliado de Angela Merkel sobre uma possível transição do Brexit ainda em 2020.
Apesar de oficialmente marcada para 31 de dezembro, a negociação pode ser adiada por mais dois anos. Isso porque, ficou acordado que a saída seria feita mediante reuniões de transição entre o Reino Unido e os países pertencentes à UE. Porém, com a chegada da pandemia do coronavírus, as autoridades tentaram manter os encontros virtualmente. Foram malsucedidos.
“Antes da atual crise do coronavírus, acho que seria possível ter um acordo mínimo com o Reino Unido sobre as linhas gerais para evitar um colapso [do Reino Unido, sem um acordo], com negociações mais detalhadas ocorrendo depois”, explicou Röttgen. “Agora não consigo imaginar que isso seja possível, considerando que todos os países da UE, Bruxelas e Londres estão tão absorvidos pela pandemia”. Por isso, o legislador vê como única solução a extensão no prazo de transição do Brexit.
A transição começou quando o Reino Unido deixou a UE em 31 de janeiro. O acordo – segundo o qual o Reino Unido está fora da União Europeia, mas continua sujeito às suas regras e membro do mercado único e da união aduaneira – foi negociado pelos dois lados para facilitar a saída do Reino Unido.
Ela também foi projetada para permitir que o Reino Unido continuasse grande parte de seu relacionamento anterior com a UE, enquanto os detalhes de um futuro relacionamento comercial e cooperação de segurança eram negociados.
Autoridades da UE disseram que concluir acordos sobre questões tão complexas – já um processo demorado e tortuoso – é muito mais difícil sem as reuniões presenciais.
O Reino Unido também transferiu alguns de seus funcionários que foram destacados para as negociações comerciais da UE para a resolução de problemas com o coronavírus, desde que a pandemia da covid-19 se desenvolveu.
A questão de pedir uma extensão agora está emergindo como um enorme problema adicional para o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, que se orgulha de ter “feito o Brexit”. Até agora, Downing Street disse que não pensava em solicitar uma extensão à UE sob nenhuma circunstância.
Para fazer isso, Johnson teria que reverter a legislação que o impede de estender o prazo, e teria de concordar com contribuições financeiras adicionais à UE para pagar por essa extensão. Por tudo isso, as negociações se transformaram em uma enorme dor de cabeça para o Reino Unido, que terá de tomar decisões duras tão logo o primeiro-ministro se recupere, ele mesmo tendo sido infectado pelo coronavírus.
Cabe notar que qualquer pedido de extensão do prazo de transição deve ser feito ate 1º de julho. Depois disso, é a legislação da União Europeia que deixa de permitir que o prazo seja mais longo.
Se a pandemia não tivesse existido, a transição já estaria em sua quinta etapa. No entanto, ela chegou apenas até sua segunda reunião.