O brasileiro Ricardo Trajano foi o único passageiro que sobreviveu à queda do voo 820, da Varig, em Paris, em 1973. “Quem olhava a radiografia do meu pulmão, dizia: ‘esse cara já morreu'”, conta Trajano que, 50 anos depois do acidente, ainda surpreende ao contar sua história.
“Por que só eu escapei? Na época, 123 pessoas morreram. Todos os outros passageiros e sete tripulantes não resistiram. Só sobreviveram os tripulantes e eu. Me sinto um caro privilegiado e agradeço todo dia ao cara lá de cima”, conta Trajano.
Causa do acidente
Ainda não se sabe, até hoje, qual foi a real causa do acidente. De acordo com um relatório do governo francês, a principal hipótese da queda do avião foi uma ponta de cigarro que havia sido deixada acesa na lixeira do banheiro da aeronave. De acordo com o portal UOL, o documento apontou também uma possível falha elétrica, porém essa seria a causa menos provável do acidente.
‘Eu me despedi da vida’
Atualmente, Trajano tem 71 anos de idade, e é pai de duas filhas: Júlia e Marina. Ele conta como tudo aconteceu.
“Eu tinha 21 anos e queria muito conhecer Londres. Fazia faculdade de engenharia, era músico e roqueiro. E, naquela época, as bandas de rock não vinham para a América do Sul, só tocavam na Europa e nos Estados Unidos. Então, fui atrás de um sonho. Antes, eu só tinha feito dois voos domésticos. Internacional, foi o primeiro da minha vida”.
No dia 11 de julho de 1973, o jovem universitário Ricardo Trajano chegou cedo ao aeroporto a fim de tomar algumas precauções antes do embarque.
“Nunca tive medo de viajar de avião e nem superstição. Mas, tinha o conhecimento e meus amigos sempre me alertavam que o ideal era viajar na última fileira da aeronave, caso ocorresse um desastro aéreo. Naquela época, os voos para o exterior eram sempre noturnos. Cheguei cedo porque queria escolher o meu lugar, na cauda do avião”.
Trajano não escolheu sua poltrona
A escolha do assento no avião não foi como ele imaginava: “Quando fui comprar a passagem, falei que queria a última poltrona do avião. Mas, fui alertado que não seria possível, pois naquela época a última fileira da aeronave era destinada à tripulação. Antigamente, 17 pessoas trabalhavam a bordo. Eram engenheiros, piloto, copiloto, comissários, chefe dos comissários e uma mulher que ficava fiscalizando se estava tudo correto no voo”.
“Fiquei na janela, e ao meu lado sobraram duas poltronas. Até que foi confortável”.
A queda do avião
Faltando apenas cinco minutos para o avião pousar no aeroporto de Orly, em Paris, Trajano percebeu uma fumaça na região dos banheiros. Ele levantou e foi para a frente da aeronave, ignorando o pedido do comissário para permanecer sentado — e colocar o sinto de segurança. “O avião virou uma câmara de gás. Me veio a sensação de morte, e comecei a pensar na minha família e amigos. Só me lembro de cair no chão de bruços. Depois, acordei no hospital”.
Depois do acidente, Trajano foi diagnosticado com queimaduras de terceiro grau, e um edema pulmonar generalizado. Ele teve também hemoptise — expectoração de sangue. Ele já escreveu 13 capítulos do seu relato em livro que deve ser publicado brevemente.