No último dia 11, o motoboy Wellington Luiz Firmino recebeu a notícia que mais temia: o Supremo Tribunal Federal (STF), com relatoria do ministro Alexandre de Moraes, o condenara a 17 anos de prisão por crimes multitudinários. Ou seja, ocorridos em multidão sem que houvesse uma descrição precisa de sua conduta específica.
Como mostrou a Edição 210 da Revista Oeste, Firmino foi denunciado pelos atos de 8 de janeiro. Ele poderá cumprir pena por associação armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração do patrimônio tombado.
O Ministério Público Federal (MPF) não descreveu o que, de fato, Wellington Luiz Firmino fez no 8 de janeiro. “Não apontaram quem estava com fogos de artifício, quem estava com cacetete”, explicou o motoboy. “Eles simplesmente colocaram ‘foi encontrado cacetete, foram encontrados fogos de artifício’. Então, todo mundo é responsável. Mas não vi nada disso, todos foram revistados. Como entrou, não sei.”
Firmino foi solto em novembro, depois de 11 meses no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal. Agora aguarda o recurso judicial em sua cidade, Sorocaba, no interior de São Paulo.
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Com um senso de humor peculiar, entre a resiliência e o riso, Wellington Luiz Firmino recorre a piadas sobre si mesmo e seu drama em vários momentos. Confira alguns trechos da entrevista do motoboy.
De Sorocaba à Praça dos Três Poderes, como foi sua participação no ato de 8 de janeiro?
Eu iria de ônibus, mas precisei fazer uma entrega em um Haras e dei minha passagem. Na sexta-feira, dia 6, um rapaz que estava no QG de Sorocaba propôs irmos de carro. Fomos em três pessoas na intenção de voltar no domingo à noite, porque na segunda-feira eu teria trabalho. Acampei em Brasília e não vi mais os rapazes. Na manhã do dia 8, fui para a frente do QG. Tinha um policial militar do DF, acho que era segurança de trânsito, usava colete refletivo verde, nos convidando para ir até o Congresso. A viatura estava parada embaixo, e ele subiu no caminhão para convidar as pessoas, falando que a gente sairia ao meio-dia e que eles escoltariam os 8 quilômetros a pé. E assim foi. Se a polícia vai escoltar, não há motivo para você dizer “não”. A polícia literalmente conduziu todo mundo até os Três Poderes. A cerca de 100 metros da rodoviária, tinha uma barricada revistando, abrindo bolsas. Todos foram revistados. No meu celular tinha vídeo disso. Até a Praça dos Três Poderes, eram mais uns 300 metros. Quando chegamos, estava tudo aberto. As pessoas já estavam na laje e nas rampas.
O que aconteceu com os vídeos que o senhor gravou do 8 de janeiro?
A Polícia Federal entregou o que interessava para eles. Ao que interessava para mim, deram fim. Se quisessem pegar bandido, seria lindo. Me vincularam a 45 mil contatos para chegar ao Bolsonaro. Como se Bolsonaro fosse mandante ou algo do tipo. Então, é assim: eu conheço fulano, fulano conhece sicrano, que conhece Bolsonaro, e assim fizeram elos de ligação. Estão com arquivos meus feitos desde 2013, quando comecei a participar dos movimentos “Fora, Dilma!”. Votei na Dilma e me arrependi, naquela época nem sabia o que era esquerda e direita. Estão usando meus vídeos para alegar um golpe de Estado. Se eu estava feliz por estar lá dentro? É óbvio. Mas não quer dizer que eu queria um golpe de Estado. Era uma manifestação pacífica como todas as outras, não tinha uma organização. Eram pessoas se manifestando para todos os lados. A gente tinha que, no mínimo, ter armas e alguém para colocar no lugar do presidente. E a gente não tinha nada. Quem bagunçou não foi preso.
O que aconteceu quando entrou no Congresso?
Fiquei no Salão Verde [saguão da Câmara dos Deputados], sentei no chão para carregar meu celular. Fiquei conversando com uma policial legislativa, loura de cabelo encaracolado. Até aquele momento eu não sabia que existia uma Polícia Legislativa Federal, a mais remunerada do país. Aí fiquei pesquisando sobre eles. Passados uns 40 minutos, abriram a porta e outra polícia de choque começou a jogar bomba de dentro para fora. Não consegui filmar, mas consegui olhar: já estava quebrado lá dentro. E ninguém tinha entrado lá ainda. Não sei o que estava quebrado, mas deu para ver cadeiras reviradas. Naquele momento, corri para a escada de incêndio. Já estavam jogando bombas lá fora. Então, as pessoas estavam recuando para dentro, só que estavam jogando bomba dentro também. Fiquei preso sozinho na escada de incêndio. Aí eles cortaram a energia. Como fiz um vídeo ironizando, estão alegando que eu desliguei os geradores. Como alguém sem conhecimento da planta vai saber onde está o gerador? Nisso, subi até o décimo andar e, 20 minutos depois, fui para a torre da direita. Fiquei sozinho em todos os lugares por que passei e não tinha nada quebrado. Fiquei lá em cima fazendo vídeos e lives para o Instagram, e balancei uma bandeira. Tentei descer algumas vezes, mas era muito gás.
O assinante pode ler a entrevista completa ao clicar neste link.
Eu me lembro de estar assistindo ao vivo pela JP news (outrora confiável) uma tropa de policiais jogando bomba e um dado momento gritaram “ele eh um dos nossos”, será q ninguém viu isso tb?
Pela que ele diz na entrevista, parece que foi tudo armado para esse fim; baderna generalizada, discurso de atentado a democracia e pisão em nome de um Brasil democrático. A guerra não se ganha só com armas, mas com propagandas e disseminação de mentiras!!!