A justiça de Andorra, pequeno país europeu localizado entre a França e a Espanha, investiga se a construtora Odebrecht pagou € 237 milhões em comissões ilegais, informa o jornal El País.
Um juiz local acompanha o envolvimento do empresário Marcelo Odebrecht e seu grupo em supostas negociações irregulares. A construtora emprega perto 170 mil trabalhadores e opera em 28 países, em que participa de obras públicas de grande porte.
Andorra investiga caso desde 2015
As investigações rastreiam o empresário e sua empresa e tentam comprovar a prática de um possível crime de lavagem de dinheiro. O caso chegou aos tribunais de Andorra em 2015.
Na época, a Banca Privada d’Andorra (BPA), instituição financeira que abrigava contas secretas para pagamento de comissões da Odebrecht, sofreu intervenção por suspeita de lavagem de dinheiro.
Propinas favoreceram 145 pessoas, diz juíza
O Meinl Bank, que opera nas ilhas caribenhas de Antígua e Barbuda, foi outro banco participante do mecanismo corrupto. De acordo com as autoridades, Marcelo Odebrecht teria praticado “suborno, corrupção e lavagem de dinheiro em toda a América Latina”, escreveu uma juíza.
As propinas foram parar nos bolsos de 145 dirigentes, funcionários públicos e “laranjas”. Essas pessoas participavam de processos de licitação em obras públicas da construtora no Equador, Peru, Panamá, Chile, Uruguai, Brasil e Argentina.
Esquema contou com o silêncio das autoridades
Os novos documentos a que o jornal teve acesso revelam a rede de empresas e de contas por onde os € 237 milhões em comissões fluíram e abasteceram o sistema.
A justiça acredita que a fraude espalhou-se com a cumplicidade e o silêncio de autoridades em países como Panamá, Áustria, Suíça, Portugal e Antígua e Barbuda.
Uma das duas empresas usadas pela Odebrecht para pagar subornos foi a Barbuda Klienfeld Services. Em operação desde em 2005 em Antígua, ela aparece como proprietária de uma conta na ABP que recebeu o milionário valor corresponde às comissões.
A segunda empresa inativa, a Odebrecht usou para comprar a vontade dos políticos. Neste caso, o Grupo Aeon do Panamá abriu uma conta no BPA para arrecadar e repassar mais de € 71 milhões.
Pagamentos para serviços inexistentes
Por meio de transferências internas, dentro de um sistema que buscava não deixar rastros, a Odebrecht enviou o dinheiro para depósitos no mesmo banco que a construtora abriu para políticos, funcionários e empresários envolvidos na corrupção.
Para mascarar estas transações, os pagamentos referiam-se, principalmente, a serviços que, na verdade, não existiam. Posteriormente, o dinheiro seguia em contas criptografadas ou registros em nome de empresas panamenhas.
No Brasil, Toffoli barrou investigação
A lista dos favorecidos com comissões ilegais da Odebrecht inclui, principalmente, Demetrio Papadimitriu, ex-ministro do Panamá na gestão 2009-2014. A construtora pagou aos pais de Papadimitriu pelo menos € 2,1 milhões de euros, afirma o jornal.
Em junho deste ano, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), barrou pedido de informações do Ministério Público Federal à Odebrecht (atual Novonor).
+ Leia mais notícias de Política na Oeste
A solicitação referia-se a contas mantidas pela empreiteira em Andorra com a suposta finalidade de mascarar o pagamento de propinas.
O ministro entendeu que os dados requisitados eram do Setor de Operação Estruturadas, o antigo departamento de propinas da Odebrecht. Assim, não podiam ser acessados, pois o STF invalidou as informações e as descobertas sobre o setor.