Bruna Torlay é professora de filosofia e diretora de conteúdo da Revista Esmeril. Em seu canal no YouTube, com mais de 200 mil inscritos, publica diariamente vídeos sobre literatura, arte, filosofia e ciências políticas. “A minha vocação sempre foi de formar pessoas”, disse, em entrevista a Oeste.
Mas sua capacidade de ensinar crianças, jovens e adultos transcendeu as salas de aula, as telas dos computadores e as redações jornalísticas. Bruna atuou como comentarista política no programa 3 em 1, da TV Jovem Pan News. Ela ficou na emissora por 11 meses, antes de retornar para seu habitat natural.
Na entrevista, a professora de filosofia analisou o fenômeno do fanatismo político, ressaltou a importância da aquisição de cultura, rechaçou a tese de suposto racismo estrutural no país, avaliou o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) e criticou os modelos de educação formal.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
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Como a senhora avalia o fanatismo político?
Ele está ligado à falta de equilíbrio emocional. As pessoas que exprimem um fanatismo político estão simplesmente projetando sobre um cenário de convívio com o próximo a tinta de seu desespero. Pessoas desesperadas, que sentem um medo profundo, tendem a mostrar um comportamento fanático. Nas eleições presidenciais de 2018, percebi esse medo por parte da esquerda. Eles temiam que Jair Bolsonaro pudesse ser eleito. Ali, o fanatismo político se traduziu em uma série de preconceitos contra aquela figura política que estava surgindo. Acabaram criando uma figura que não tem nada a ver com o presidente. Aí, houve um movimento de reação por parte das pessoas que acreditam que Bolsonaro é a única esperança possível. Mas essa responsabilidade não deve ser jogada sobre os ombros de um único homem. O Brasil tem problemas políticos há cem anos. Ninguém sozinho é capaz de resolver nossos problemas políticos. Isso é algo que deve ser feito por todos os brasileiros. No país, tanto a esquerda quanto parte desse movimento novo, que não chamarei de conservador, têm comportamentos fanáticos.
Qual seria a postura adequada de um conservador diante da política?
O conservador não tem ódio da realidade. Ele simplesmente busca compreendê-la. Ao mesmo tempo, o conservador não se deixará levar por receitas miraculosas. Ele é cético, sempre desconfia das coisas. O conservador sabe que a tentação das receitas miraculosas está aí. Elas seduzem. Uma atitude conservadora na política jamais colocará todas as fichas em um único governo. Aquilo que é transitório não define os rumos de uma civilização. Os rumos de uma civilização são definidos pelas lideranças morais e culturais. Jamais um conservador preferirá repetir propaganda de políticos a respeitar os princípios norteadores da civilização. É evidente que, no cenário eleitoral, todos são obrigados a fazer escolhas. Fazer escolhas não tem nada a ver com você repetir aquilo que a esquerda fez ao longo do governo Lula. Eles fizeram aquela palhaçada chamada “o silêncio dos intelectuais”. Um conservador que reprime a liberdade de consciência em nome de uma força política é alguém que abriu mão de sua alma. É alguém que abriu mão da força do indivíduo, da tradição e da cultura. A atitude política de um conservador é não dar bola demais para a política. É não achar que a política resolverá todos os problemas do mundo. É, simplesmente, preocupar-se com aquilo que ele pode fazer pelo próximo e por si próprio.
Mudando de assunto. Por que é importante cultivar referências literárias, históricas e filosóficas?
Se não tivermos essas referências, não seremos capazes de entender absolutamente nada do que está acontecendo. Quando falo “absolutamente nada”, estou sendo literal. Não seríamos capazes de entender sequer as razões pelas quais repetimos um conjunto de ideias. Termos como “existencialismo” e “iluminismo”, por exemplo, servem para mapear as diversas contribuições que surgiram ao longo da história da cultura. Isso nos permite ter um mapeamento das realizações humanas. É assim que podemos analisar o mundo em que vivemos. Sem as referências, apenas repetimos propaganda.
Por que a senhora considera o Dia Internacional da Mulher é uma tolice?
É uma tolice no sentido de que todos os dias são o Dia da Mulher. Qual família fica de pé sem uma mulher? A mulher é o pilar da casa. O escritor britânico G. K. Chesterton, no livro O Que Há de Errado Com o Mundo, trata especificamente das mulheres em um dos capítulos. É maravilhoso. Não quero dar mais direitos às mulheres, quero dar mais privilégios, dizia Chesterton. As mulheres carregam um fardo nas costas muito pesado. Elas carregam esse fardo por sua natureza e por sua vocação. Esse fardo é tão pesado que é natural que as mulheres tenham privilégios. E canalhas seriam os homens se não tivessem concedido esses privilégios — um dos quais, não ser obrigada a participar da cadeia produtiva. Quando falo da cadeia produtiva, refiro-me àquele trabalho de dez horas por dia. Você sofre, envelhece mais cedo, ganha muito mal e abandona seus filhos em casa. Esse Dia Internacional da Mulher tem muito a ver com a absorvição da mulher pelo mercado de trabalho, pelo mercado industrial. Isso tem a ver com a desagregação das famílias. Então, comemorar o momento em que a mulher vira as costas para a sua vocação, que é de formar seres humanos fortes e dignos, só poderia soar como uma tolice. A natureza da mulher é especial demais para ser reduzida a uma mão de obra barata.
A senhora afirma que a ausência de beleza na arte está condicionada à decadência moral. Por quê?
A obra de arte é um objeto do campo da imaginação. Ela pertence ao campo da vontade humana, que se orienta para uma finalidade. Quando a finalidade é produzir o belo, significa que você reconheceu o valor do belo no mundo. E o belo é fruto da ordem. Quando você reconhece a virtude da ordem, portanto, reconhece a virtude do belo. No entanto, quando você é unicamente capaz de assimilar o caos na sua frente, está manifestando uma incapacidade de perceber a virtude da ordem. Quando não percebe a virtude da ordem, acaba por manifestar um profundo desarranjo moral. Isso significa que você tem dificuldade de compreender a si mesmo, porque o princípio de ordem é absolutamente vital para entendermos a natureza humana.
Como funciona a relação entre beleza e ordem?
Se tudo aquilo que você projeta é feio e carente de ordem, é porque ainda não compreendeu a virtude do ordenamento. Dentro de nós, a ordem é moral. Do lado de fora, isso pode ser convertido em ordenamento estético. Esse vínculo entre o bom, o virtuoso, o justo, o belo e o verdadeiro, que compõem a filosofia platônica, permaneceu em todas as sociedades. Essas ideias separam as pessoas que exprimem emoções confusas, que serão traduzidas em obras de arte feias, das pessoas capazes de exprimir sentimentos com base na ordem. Quando digo “feio”, não estou falando do objeto em si — estou falando de algo desordenado. Se você é capaz de criar algo feio de maneira precisa e ordenada, está produzindo uma obra de arte fantástica. Isso ocorre porque a ordem está presente ali. Quando você não é capaz de produzir uma obra de arte que tenha sentido para os outros, é porque sua alma está presa ao seu próprio umbigo.
Voltando para a política. A senhora recebeu um convite do PTB para ser candidata a deputada. Por que recusou?
O PTB me convidou quando fui demitida da Jovem Pan, em fevereiro. Eles perceberam que houve um pequeno movimento de comoção popular das pessoas que gostavam de me ouvir. Disse ao PTB que não tenho perfil para a política. Temos de saber qual é nossa vocação. A minha vocação sempre foi de formar pessoas. Jamais trocaria isso. O PTB insistiu um pouco, sobretudo o Adrilles Jorge, meu colega na Jovem Pan. Mas não quero me candidatar.
O que a senhora pensa da participação de libertários na política?
Considero uma excelente ideia, principalmente no Brasil. Com microfone em mãos, e podendo criar uma confusão benéfica no Parlamento, seria extraordinário. O Estado brasileiro é um elefante branco. Na cultura, os libertários já fazem um trabalho excelente. Se entrarem na política, darão um chacoalhão nos políticos profissionais.
Qual seria o melhor sistema de governo?
Sempre repito um dito de dom Pedro II, que provavelmente não era dele: “O melhor sistema de governo é aquele com o qual uma nação se constitui”. A tradição é fundamental na política. Nosso personalismo na política é uma das heranças daquele sentimento de orfandade em relação ao rompimento Monarquia-República. Goste-se ou não, o republicanismo era artificial para a maior parte do povo brasileiro. Era um movimento de elite. Quando toma o lugar da Monarquia, observamos que há uma série de golpes sucessivos. Perdemos a estabilidade. Ao mesmo tempo, fica o personalismo. Tanto que, quando aparece, Getulio Vargas se coloca como uma grande figura política. Ele promove a centralização, preenche o anseio popular de confiar em um líder máximo. O problema é que o Brasil está mergulhado em uma confusão absurda. E o melhor sistema político para um país deste tamanho seria um federalismo parecido com o dos Estados Unidos. Considerando o tamanho do nosso território, não dá para termos uma única Constituição e um único Código Legal para o país inteiro. Precisaríamos de códigos penais estaduais, descentralização de poder. Ao mesmo tempo, como temos essa herança imperial-monárquica de centralização, seria necessário manter o governo central. Temos de casar aquilo que é imperioso do ponto de vista do território com aquilo que alimenta a imaginação política. O presidencialismo combina esses elementos. Mas o fato de termos reeleição torna os governos reféns do desejo de conservação de poder. Assim, não saímos do buraco.
Como a senhora avalia o governo Bolsonaro?
Começou muito bem, com uma proposta liberal-conservadora. O primeiro ano foi excepcional. Os ministros foram nomeados pelo mérito. Mesmo aqueles ministros com vínculo político, como Tarcísio Gomes de Freitas, fizeram bons trabalhos. Tarcísio combinou com o governo Bolsonaro, ainda que seja herança do Temer. Bolsonaro foi eleito com o apoio de vários grupos: o lavajatismo, os conservadores, os círculos intelectuais que detestavam a esquerda e os libertários. A população e os produtores rurais também o apoiaram. Para que o governo fosse consistente do início ao fim, seria necessário manter a representação desses grupos. Isso ocorreu no primeiro ano, mas diminuiu no segundo. Os militares entenderam que seria melhor para o governo ter relação com os políticos mais hábeis do centrão. Depois, passamos a observar uma descaracterização do projeto original. Com isso, ainda que Bolsonaro mantenha sua popularidade, o governo vai perdendo apoio e entusiasmo. Vários setores começam a observar que o governo Bolsonaro não usou a força inicial para manter sua coesão até o fim.
Por que motivo o governo não conseguiu manter sua coesão?
Essa demonstração de fragilidade se deveu ao fato de Bolsonaro abrir mão dos vários grupos que o elegeram. Ficaram apenas os militares, usando como recurso político o pessoal do centrão. Bolsonaro se vê como alguém que evitará que a esquerda sente na cadeira presidencial. Legal, e o que mais? A Infraestrutura deixou um legado excepcional. A economia começou bem, mas perdeu o rumo com a pandemia. Quanto aos gastos públicos, Rogério Marinho [ex-ministro do Desenvolvimento Regional] levou a melhor sobre Paulo Guedes. Muitos ministérios foram descaracterizados, como o das Relações Exteriores. Começamos no eixo Ocidente e terminamos no eixo China-Rússia. É deprimente. Trata-se de um governo de altos e baixos, que, infelizmente, rendeu-se à tentação de reeleição. É um governo que se tornou cada vez mais assistencialista e perdeu sua característica principal. Cabe aos conservadores ler o cenário e tentar entender o que aconteceu. Esse governo foi um aprendizado. Ele mostrou que os conservadores não têm quadro suficiente para governar.
Como a senhora avalia o cenário político para os próximos anos?
Da mesma maneira que a esquerda emburreceu quando Lula ceifou lideranças, a direita tem de tomar cuidado para não focalizar em apenas uma pessoa. Um movimento só cresce por cisão, divisão. Quanto mais grupos direitistas concorrentes tivermos, mais cresceremos. Quanto mais partirmos do princípio de que deve haver um único grupo e não deve haver concorrência, mais perderemos a oportunidade de crescer. A esquerda perdeu o contato com a sociedade por essa razão. Um grupo majoritário ceifou os demais grupos, não permitiu que participassem do poder. A direita deve aprender com os erros da esquerda. Veja quem eles têm como liderança: o Lula. É uma coisa vexaminosa. Iremos por esse caminho? Vamos nos dar mal. Vejo figuras muito boas surgindo, como Douglas Garcia, Luiz Philippe de Orléans e Bragança, Ana Caroline Campagnolo, Caroline de Toni e Paulo Eduardo Martins. Essas figuras têm se destacado, mas, por uma questão de prudência política, se veem obrigadas a se associar à figura principal do Bolsonaro. Tornou-se proibido ser direitista e não necessariamente estar ao lado do Bolsonaro. Isso é perigoso para todos nós; ninguém tem de carregar esse peso sozinho.
Saindo da política. Como a senhora avalia a questão do racismo, especialmente no Brasil?
Racismo estrutural é a atualização do conceito marxista de luta de classes. É um sofisma, uma ideia falsa. Esse conceito quer dizer que toda a estrutura da sociedade é construída de forma que os negros sejam desprezados. O problema é que, se observamos a história do mundo, perceberemos que raça, fenótipo e características físicas não têm nada a ver com escravidão. Há escravidão desde que o mundo é mundo. Não é uma coisa bonita. Felizmente, o cristianismo ajudou muito nessa parte e se posicionou de maneira absolutamente contrária à escravidão. Mas, na Antiguidade, não tinha essa de ser branco ou negro. Era Mediterrâneo, África do Norte e Palestina. Ninguém reparava na sua cor, todos poderiam ser escravos. O que tento dissociar é a falácia de que racismo tem a ver com escravidão. Errado. Escravidão tem a ver com a estrutura econômica da sociedade. Racismo tem a ver com o ser humano afastar de si qualquer coisa que seja diferente de seu círculo cultural.
Quais povos eram preconceituosos em tempos passados?
Os gregos eram xenófobos. Os romanos viam com maus olhos os estrangeiros. Os judeus permaneceram em seus círculos, para se preservarem. Essa desconfiança de tudo aquilo que é estrangeiro é algo permanente na história do mundo. O racismo tem a ver com isso. Se você observar uma sociedade com um tipo físico predominante e trazer até essa mesma sociedade pessoas de um tipo físico totalmente diferente, poderá haver um choque. Mas houve segregação? No Brasil, vimos alguma legislação diferenciando brancos e negros? Isso aconteceu nos Estados Unidos. Aqui, não. Temos de ser gratos por nossa tradição política. Nosso maior escritor [Machado de Assis] é filho de uma portuguesa e de um ex-escravo.
A senhora argumenta que, atualmente, a escola é irrelevante para a educação. Por quê?
A escolarização, ou seja, a obrigação de que todas as crianças entre 4 e 18 anos de idade devem cumprir um currículo, não tem nada a ver com educação. A formação integral de uma pessoa tem a ver com a observação da vocação, com especificidades do ensino, com vários tipos de escolas possíveis. Tem a ver com liberdade, com querer, com vontade. A escolarização é obrigatória; os alunos não estão lá porque querem. Se você não quer estar na escola, o aprendizado não ocorre. A palavra educação tem a ver com o fato de você querer se polir, querer se aprimorar. A formação técnica obrigatória não considera o elemento da liberdade com premissa, mas como acessório.
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Realmente a Bruna não possui a percepção política nos acontecimentos! Por que o Bolsonaro deixou o viés inicial e partiu para se cercar de pessoas com quem pode instaurar a confiança e ficar longe dos traíras politiqueiros? A Bruna não tem essa percepção portanto infeliz em sua avaliação política! Também não deve acompanhar os atos dos trabalhos dos ministros em suas ações pelo Brasil! Deve olhar às vezes a Band e a “Globb”! O povo simples percebeu toda a tramoia dos mancomunados com o espírito marxista que a todo o custo tentam sufocar o trabalho e a intenção do Bolsonaro de pôr o Brasil nos eixos! Mas em 2023 haverá uma melhora substancial! Os das instâncias superiores que não querem seguir diretrizes da Constituição estarão sendo vencidos com as mudanças que acontecerão! Se mesmo a esquerda tentar subornar o voto aí o bicho vai pegar pois, os desmamados, estão em polvorosa que estão, ficaram anêmicos com a falta do “leitinho” que bebiam em seus desgovernos! Portanto o Bolsonaro não é o bom mas é a melhor solução para o Brasil continuar dando certo como tem sido até agora! Ele, o Bolsonaro é patriota e é isso que a esquerda não o é! Todos acasalados com a ideologia da destruição que é o espírito marxista em marcha!
A Bruna não lembrou de comentar do absurdo dos 500 e tantos deputados dos quais nem 30 foram eleitos pelo voto popular! O que essa maioria espúria considera sobre o País? Nada! Não foram eleitos e portanto estão nem aí com o seu próprio País! ISSO VAI MUDAR!
Muito Top.
Vale a pena ler/ouvir sobre idéias e opiniões de gente educada, mesmo que hajam divergências.