(Por J.R. Guzzo, publicado no jornal Gazeta do Povo em 4 de novembro de 2021)
O senador Davi Alcolumbre, do Amapá, é um desastre.
Foi eleito para o seu cargo, onde tem igualdade com qualquer outro colega, com um punhado miserável de votos — não conseguiria ser prefeito de Londrina, com a votação que teve.
Seu suplente, que ficará em seu lugar caso ele seja cassado ou renuncie, é pior ainda: é seu irmão, e não teve um único voto. Isso mesmo: nenhum. Suplente, no Brasil, não precisa ser eleito por ninguém.
Há meses o senador Alcolumbre se comporta com um arruaceiro. Por rancor, mesquinharia e interesses pessoais contrariados, recusa-se a pôr em votação no plenário, como presidente da Comissão de Justiça, o nome indicado pelo presidente da República para ocupar o cargo que está vago no Supremo Tribunal Federal. Não há precedentes, no Senado, de prevaricação grosseira como essa.
Para completar, o senador acaba de ser acusado de comandar uma “rachadinha” gigante, uma das piores de que se tem notícia — funcionárias de seu gabinete, para as quais você paga salários de R$ 14 mil por mês com os seus impostos, recebem, na verdade, pouco mais de R$ 1 mil. O resto — bem, imagine-se para onde está indo o resto.
Alcolumbre é uma prova da falência terminal das instituições democráticas no Brasil. Como falar em “democracia” e “Estado de direito”, se o sistema político, legal e eleitoral do país produz calamidades como ele — uma nulidade que frauda seu mandato, insulta o público e paralisa o país, na cara de todo mundo?
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco — que quer, imaginem só, ser presidente da República — e seus colegas senadores, não se mostram, neste episódio de sabotagem, melhores que Alcolumbre. Permitem, com um show inédito de conformismo e de pusilanimidade explícita, que ele se recuse flagrantemente a cumprir seu dever legal; dizem que não querem “interferir”.
Um país montado desse jeito, onde os Alcolumbres e os Pachecos mandam, e todos os demais pagam, não pode dar certo.
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