Programadas em 259 cidades, cerca de 200 aderiram ao movimento; número é maior que o registrado nos mais recentes atos pró-governo
Apesar das estimativas preocupantes de casos de coronavírus para o Brasil nos próximos meses, movimentos democráticos se reuniram em todo o país ontem, domingo 15, para protestar contra parlamentares do Congresso Nacional e ministros do Supremo Tribunal Federal. O presidente Jair Bolsonaro fez um pronunciamento em rede nacional na quinta-feira 11 e pediu aos manifestantes que repensassem os protestos.
“Os movimentos espontâneos e legítimos marcados para o dia 15 de março atendem aos interesses da nação. Balizados pela lei e pela ordem, demonstram o amadurecimento da nossa democracia presidencialista e são expressões evidentes de nossa liberdade. Precisam, no entanto, diante dos fatos recentes, ser repensados. Nossa saúde e a de nossos familiares devem ser preservadas”, afirmou Bolsonaro.
Inicialmente, os organizadores programaram mobilizações em 259 cidades. Contudo, elas ocorreram em 200, segundo pesquisa do Instituto FSB. O movimento Nas Ruas decidiu cancelar o ato previsto para acontecer na Avenida Paulista. O número de locais que aderiram ao movimento, porém, é bem maior do que o registrado nos mais recentes atos pró-governo (a análise do instituto informa que “a impressão majoritária foi de baixa adesão”).
Confira
- Em 25 de agosto de 2019, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que pediram o veto à lei que trata do abuso de autoridade, mobilizaram pessoas em 36 cidades;
- Dois meses antes, em 30 de junho de 2019, a manifestação em defesa da CPI da Lava Toga foi maior e mobilizou pessoas em 88 cidades de 26 Estados mais o Distrito Federal.
Repercussão na internet
A internet ficou bastante agitada. Monitoramento feito por Oeste concluiu que, no Twitter, #BolsonaroDay, lançada na véspera da manifestação, ocupou os trending topics daquela noite. Por quase todo o domingo, a hashtag oscilou entre o primeiro e o terceiro lugar. Ao término da manifestação, o número de menções foi de 1 milhão e 349 mil. No Instagram, mais de 5 mil. Neste 15 de março, o FSB registrou que o Facebook do presidente somou 1,1 milhão de reações, 182 mil comentários e 371 mil compartilhamentos de conteúdo.
O movimento nas redes e nas manifestações era esperado por Oeste. Uma hora depois do discurso do presidente na quinta-feira anterior a revista identificou que #DesculpaJairMasEuVou entrou para os assuntos mais comentados do Twitter. A hashtag ocupou os trending topics da rede social por toda aquela noite e, também, durante as primeiras horas da manhã de sexta-feira 12. O número de menções chegou a 119 mil, enquanto no Instagram, mais tímido, foram mais de 1000 publicações usando a hashtag.
O presidente Jair Bolsonaro compartilhou nas redes algumas filmagens das manifestações. Veja:
– São Paulo -SP: pic.twitter.com/VtzALcLDo6
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) March 15, 2020
Seguidores também compartilharam:
RT conexaopolitica: AO VIVO | Manifestantes continuam chegando em Parcão, no Rio Grande do Sul, para ato em apoio à agenda de governo que elegeu o presidente Jair Bolsonaro.#BolsonaroDay pic.twitter.com/KadhPRzp5I
— Jhouserᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠᅠ (@eliezerxp) March 16, 2020
https://twitter.com/ana_duart1/status/1239378730331619331?s=20
Ausente nas manifestações, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) replicou um registro:
Florianópolis-SC também marcou presença neste domingo.#BolsonaroDay pic.twitter.com/R50O1bUQHN
— Carla Zambelli (@Zambelli2210) March 16, 2020
Oeste apurou nos últimos 30 dias que a busca no Google pelo termo “manifestação do dia 15” vem ganhando força desde 24 de fevereiro, a despeito de algumas oscilações. A data coincide com a decisão dos movimentos democráticos (Nas Ruas e Vem Pra Rua) de marcar nas redes sociais os protestos por causa do pedido do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno. Em 19 de fevereiro, o titular da pasta afirmou que o Congresso “chantageava” o governo e que só o povo na rua resolveria o impasse entre os dois poderes.
Na ocasião, houve aumento repentino de 300% no número de pesquisas pelo termo envolvendo a manifestação, sobretudo em Mato Grosso do Sul. Cresceram naquela data o interesse pela figura do presidente Jair Bolsonaro, para saber a localidade dos atos e, também, a busca por veículos de comunicação. No dia 15, a procura por “manifestação domingo” tomou a dianteira e ocupou o segundo páreo do termo mais pesquisado no Google no Brasil todo. Santa Catarina liderou entre os Estados interessados, seguido de Rondônia e Goiás.
No sábado, véspera dos protestos, o termo “Bolsonaro” foi o primeiro mais pesquisado na plataforma de buscas em todo o país.
Entenda a origem das manifestações pró-governo
O posicionamento do Planalto pró-manifestações se tornou público a partir de declarações do general Heleno. Durante uma transmissão ao vivo pelas redes sociais, ele afirmou que o Congresso Nacional “chantageava” o Executivo. O chefe do GSI se referia à decisão dos parlamentares de tomar do presidente da República 30 bilhões de reais em emendas parlamentares.
As declarações do ministro ganharam respaldo nas redes sociais entre apoiadores do presidente. Depois, Bolsonaro usou seu WhatsApp pessoal para divulgar vídeo que conclamava a população para os protestos. O presidente se posicionou publicamente a favor dos atos pela primeira vez no último dia 7 de março, ao ressalvar que não se tratava de um ataque aos demais poderes da República.
As manifestações, portanto, tiveram uma pauta que confronta os interesses fisiológicos de congressistas, sobretudo do bloco chamado Centrão.