(J.R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 6 de fevereiro de 2022)
Se alguém está precisando responder rápido qual é a safadeza número um do Brasil dos dias de hoje, dentro da calamidade permanente que marca o dia a dia da nossa vida pública, dificilmente vai errar se disser: “É a hipocrisia”. Sempre foi, é claro, mas em certas horas fica pior; acaba de ficar pior, mais uma vez.
Dias atrás, num espetáculo que há 50 anos, ou mais, se repete com a regularidade da troca do dia pela noite, desabaram dezenas de casas num dos muitos purgatórios sem esperança que compõem a periferia de São Paulo. Muita gente perdeu o pouquíssimo que tinha. Podem ter morrido mais de trinta pessoas. Foi uma tragédia.
Nessas horas sempre querem dizer ao público, em cinco segundos, o que aconteceu – e, principalmente, quem é o culpado. Já disseram, é claro. O culpado, segundo a sabedoria em vigor na praça, foi o presidente da República. Ele não tem “políticas sociais” corretas, dizem — e sem isso as pessoas morrem quando o tempo fica ruim. Outros, mais agitados, jogaram a culpa também no governador do Estado.
Pois então: eis aí, com todos os seus holofotes, a hipocrisia fundamental, automática e histérica da elitezinha que quer pensar por todos neste país, o tempo todo e em todos os assuntos. As casas do fim de mundo paulistano não caíram por falta de uma política social. Caíram porque foram construídas em terrenos de morro onde não se pode construir uma casa. Estão dentro de ângulos em que nenhuma construção fica de pé. Carregam um peso que o solo não aguenta. Seus materiais são de quinta categoria. É impossível que não venham abaixo.
A Grande São Paulo, pelo que se informou, tem no momento 750.000 casas em situação de risco, e quase 1.000 áreas onde moradias correm perigo de desabar – uma vergonha que não foi construída em 15 minutos, e por nenhum governo individualmente, mas que o Brasil civilizado nem vê.
De que jeito a culpa poderia ser só de um, ou de dois? Basta olhar os números. Os jornalistas, urbanistas e peritos em “questões habitacionais”, diante dessa demência, se lançam a discursos contra “a política social” do presidente. Faz bem para eles, mas é a melhor garantia de que jamais haverá solução real para o problema.
Há duas leis no Brasil. Da classe média para cima, as pessoas precisam de licença da Prefeitura, alvará, “habite-se” e sabe lá Deus mais o que para construir um metro de parede; daí para baixo a autoridade pública não toma conhecimento. Nem poderia: se abrisse a boca, a esquerda, o MP e o padre iam sair gritando “inimigo do pobre”, “higienista”, e daí para pior. Fica assim, então.
Excelente análise da realidade das grandes cidades no Brasil.
Essas tragédias nos revelam quanta gente vive nessas condições de moradia, por não ter recursos sequer para voltar para suas origens. Vi um dos sobreviventes e esposa com pequeno filho no colo que deseja urgentemente voltar ao seu estado do Para, para prosseguir sua vida próximo a parentes. Quantos gostariam de retornar às suas origens? Creio que um planejamento dos governos federal e estaduais poderiam criar estrutura para moradores dessas comunidades voltar aos seus Estados, a produzir no campo ou cidades próximas seu sustento e moradia com saneamento, dignidade, educação, saúde e segurança. Assim, paulatinamente essas grandes comunidades iniciando por aqueles sob grave risco poderiam ser recuperadas para outra ocupação não habitacional, possivelmente agrícola ou reflorestadas.
como sempre o Dorialixo verme se faz de morto e ainda tenta por a culpa no presidente
Infelizmente essa é a nossa realidade. O maior culpsdo foi quem deixou construir. Os morros do Rio de Janeiro estão cheios de moradias que desafiam a Engenharia Civil.
O interessante é que devido a área da cidade de São Paulo, a mesma foi dividida em sub-prefeituras. Quem são os subprefeitos? indicados pelo prefeito de plantão. Portanto, as construções em locais inapropriados são em última análise resposabilidade do prefeito.
Ah! qual é mesmo o nome do atual prefeito de São Paulo?
Se a culpa é sempre do Presidente então estamos enchendo as barrigas de governadores e prefeitos á toa. Nós também somos hipócritas em votar em pessoas com caráter duvidoso como esses governadores que estão aí. Resumo todos nós erramos, por anos desprezamos a política, resultado votamos errado.
Não se preocupem tanto, passada a temporada das chuvas, todo mundo esquece disso. A imprensa será a primeira.
E de onde vc acha que vem 90% dos 35 mil NÓIAS que vivem nas ruas destruido diariamente SAMPA?!?!
Todo mundo faz sacrificios para ter dinheiro e construir suas vidas…SÓ que tem gente que ganha dinheiro e gasta tudo em butecos, drogas, puteiros ou fazendo um monte de filhotes..que vão reproduzir os erros de papai e mamãe tudo de novo.
NÃO TENHO DÓ!
É exatamente isso que está relatado o que acontece. Só não posso confirmar sobre o assunto da culpabilidade do governo federal em não providenciar um programa de construções populares para abrigar essas pessoas. Muitas das vezes, esses conjuntos habitacionais estão muito distantes do local que a maioria das pessoas deseja, então elas preferem se arriscar nessas arapucas que acabamos de ver. O governo federal, na medida do possível tem feito lançamentos de conjuntos residenciais mas a mídia pouco faz para divulgar, creio.
Infelizmente são tragédias anunciadas em construções irregulares que sempre ocorreram no Brasil inteiro e exploradas pelos politiqueiros de plantão que fazem vista grossa ou até incentivam essas construções para depois apontarem o dedo podre com acusações falsas e com terceiras péssimas intenções.