Durante a campanha eleitoral de 2022, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva repetiu, à exaustão, um levantamento divulgado em junho por uma ONG esquerdista de que 33 milhões de pessoas — o correspondente a três vezes a população de Portugal — passavam fome no país no ano passado.
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O dado já tinha sido desmentido pelo governo de Jair Bolsonaro, com base em projeções oficiais, e desacreditado em razão de um dado do Banco Mundial que, em novembro do ano passado, mostrou que a pobreza no Brasil caiu consideravelmente em 2020, o primeiro ano da pandemia, e, portanto, o número de famintos não poderia corresponder a um sexto da população brasileira dois anos depois do auge da crise sanitária.
Agora, o próprio Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) do governo Lula desmente aquele dado divulgado em junho pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Pensann), formada por entidades como Ação da Cidadania, Actionaid, Ford Fundation, Oxfam e Vox Populi.
Segundo a Síntese de Indicadores Sociais, divulgada pelo IBGE na quarta-feira 6, a extrema pobreza no Brasil em 2022 caiu 34%, de 9% em 2021 para 5,9% em 2022 (3,1% pontos porcentuais). Isso significa que no último ano de Jair Bolsonaro 6,5 milhões de pessoas deixaram essa condição, que significa viver com menos de US$ 2,15 por dia, conforme critério adotado pelo Banco Mundial e utilizado pelo IBGE na pesquisa.
O IBGE também mostrou que o número de pessoas que vivem na pobreza, com menos de US$ 6,85 por dia, também diminuiu. A queda foi de 36,7% para 31,6% (5,1 pontos porcentuais), ou seja, 14%. Ao todo, 10,2 milhões de pessoas saíram da pobreza em 2022, mesmo ano em que Lula alardeou que 33 milhões passavam fome.
O levantamento da ONG esquerdista
O dado do IBGE mostra que em 2022 havia 12,7 milhões na extrema pobreza, número quase três vezes menor que o número de pessoas com “insegurança alimentar grave” divulgado pela ONG Penssan.
Quando o Banco Mundial divulgou os dados sobre a pobreza em 2020 — de que havia 4 milhões de pessoas, ou 1,9% do total da população, em extrema pobreza, o menor número desde 1980, que se reduziu provavelmente pelo auxílio emergencial implantado por Bolsonaro na pandemia —, especialistas disseram a Oeste que não era possível comparar os dados objetivos da instituição com a coleta de dados subjetivos da ONG financiada por órgãos esquerdistas.
A pesquisa do Penssan/Vox Populi se baseia em respostas dadas por 12,7 mil entrevistados a oito perguntas em que o morador da residência deveria dizer sim ou não. Todas as perguntas se referiam aos três meses anteriores à entrevista. A primeira pergunta, por exemplo, quer saber da preocupação do morador sobre a falta de alimentos ou se comeu menos do que achou que devia, porque não havia dinheiro para comprar comida. Para considerar um entrevistado em situação de fome grave, eram necessárias pelo menos seis respostas positivas.
Além disso, havia a expectativa de que a extrema pobreza poderia crescer em 2021 e 2022 na comparação com 2020 justamente em razão do fim do auxílio emergencial. “Esse índice de 1,9% de 2020 deve crescer em 2021, porque houve corte do auxílio emergencial, mas não será nesse patamar (da Penssan/Vox Populi)”, disse a Oeste o economista Igor Lucena em novembro do ano passado.
Falta clareza sobre o que é fome e insegurança alimentar
Além disso, havia outras controvérsias em torno da pesquisa da Rede Penssan, como a falta de clareza sobre o que é fome, conforme demonstrou reportagem publicada por Oeste.
Os 33 milhões se referem ao que está definido no termo técnico “insegurança alimentar grave” na Escala Brasileira de Insegurança Alimentar, usada desde 2004 pelo IBGE e aplicada ao estudo.
No entanto, ao contrário da conotação usada pela Penssan e na campanha eleitoral, não é comum o IBGE usar a classificação de “insegurança alimentar grave” como sinônimo de fome.O ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, havia desmentido a informação dos 33 milhões de brasileiros passando fome, citando um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
“O Ipea fez um trabalho mostrando que o teto disso [da extrema pobreza] seria de 7 milhões”, afirmou o ministro ao Programa Pânico, da Jovem Pan, em setembro de 2022. “Se tivéssemos 33 milhões de brasileiros passando fome [era quando] nós estávamos na pandemia. O dado de 33 milhões passando fome é um número completamente despropositado”, completou Guedes, na época.
Leia também: A mentira da fome no Brasil, reportagem publicada na Edição 140 da Revista Oeste.
Quando se trata de números a esquerda é campeã em maquiar, aumentar, falsear, sempre a favor das narrativas deles.