Lula não está preparando uma “reforma ministerial”, como se noticia, subestimando-se a inteligência alheia. Ele está é promovendo um loteamento do governo com partidos do Centrão. Para não variar na receita da geleia geral, a justificativa é manter aquela governabilidade que nada mais é do que a ingovernabilidade do toma-lá-dá-cá.
Em democracias avançadas, reformas ministeriais costumam ocorrer no meio do mandato de um presidente. O ministro é avaliado pelo presidente segundo o desempenho no cargo e o grau de desgaste político. Se a avaliação for ruim, ele é substituído; se for boa, ele é mantido. É o que ocorreu recentemente na França.
Aqui no Brasil, em pleno século XVI, a prática do loteamento ministerial permanece em vigor, como se fosse a coisa mais natural do mundo — e a imprensa noticia a pouca-vergonha como se vergonha muita não fosse, quase sempre acompanhada de “análises políticas”, com o jornalista fazendo aquele ar sério de quem apura no cafezinho do Senado ou recebe plantação de notinhas via WhatsApp.
Ontem mesmo, li uma reportagem sobre “o que se sabe até agora sobre a reforma ministerial de Lula”. Está escrito, até com candura, que o PP quer tirar o ministério do Desenvolvimento Social do PT e que o Republicanos almeja ter o Ministério do Esporte, hoje comandado pela ex-jogadora de vôlei Ana Moser.
A reportagem diz ainda que “está na mesa a hipótese de entregar a pasta social ao Centrão, mas retirar do escopo dela o Bolsa Família — marca das gestões do PT” e que “nenhuma possibilidade de rearranjo ministerial está descartada. A única pasta que está efetivamente blindada, segundo auxiliares palacianos, é a da Saúde”.
Uma das perguntas básicas que deveriam ser respondidas na reportagem é por que o PP quer tanto a pasta do Desenvolvimento Social. É para salvar mais criancinhas pobres? Outra indagação lógica: por que o PT não incluiria o Bolsa Família no pacote? É por achar que o PP vai salvar menos criancinhas pobres? Terceira questão: o Republicanos tem algum projeto especial de difusão da esgrima ou do hóquei sobre a grama, para tamanha querença pelo Ministério do Esporte? Por fim, qual é a necessidade de “blindar” a Saúde? Blindar como se blinda carro para evitar assalto?
Não é porque todos sabemos os motivos dos políticos, que as perguntas não devem ser feitas — e respondidas — neste magnífico século XVI do mercantilismo em que o Brasil se desencontra.
Leia também: “A castração no Legislativo”, artigo de Alexandre Garcia publicado na Edição 176 da Revista Oeste
Mario Sabino está voltando ao normal?
Sempre gostei de seus artigos até o momento em que decidiu avermelhar.
Espero que depois do que ele está assistindo, não volte a trer outra diarréia mental…
Esse Mário Sabino é muito interessante. Dá leveza aos artigos, com boa dose de ironia. O que ele é do Fernando Sabino, grande escritor de crônicas? Os estilos se parecem. Parabéns à Oeste…. e ao Mario