O jornalista português Sérgio Tavares declarou nesta terça-feira, 23, que teve medo de ser levado para o Complexo Penitenciário da Papuda ao ser detido pela Polícia Federal (PF) ao desembarcar no Aeroporto de Guarulhos (SP) em 25 de fevereiro para a manifestação pela liberdade de expressão no país, apoiada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Já visitei os cinco continentes da Terra”, iniciou o jornalista português em audiência da Comissão de Segurança Pública do Senado. “Já vivi três anos na África e três anos na Ásia. Morei em países complicadíssimos, como Indonésia, Angola e outros semelhantes. Mas nunca senti o medo que senti quando vim para o Brasil.”
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O jornalista português afirmou que foi a “primeira vez” que chorou ao se despedir dos filhos de 10 e 9 anos. Disse ter sentido “medo de não voltar”, porque “centenas de brasileiros me avisaram e falaram: ‘Não vá. Você vai ser preso. Vão te fazer mal’. Eu não queria acreditar”.
“Eu defendo a liberdade de expressão, e como o Brasil está privado dessa liberdade, quis vir”, explicou Sérgio Tavares. “Mas me despedi dos meus filhos com lágrimas nos olhos. Parece que eu estava sentindo alguma coisa”, disse.
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“E, naquele terminal, quando vão todos aquelas milhares de pessoas a passarem, pessoas de todos os países, de todas as cores, todos entraram. Menos um. O português Sérgio Tavares”, afirmou.
O jornalista português disse ter se visto “sozinho, com o passaporte privado e a Polícia Federal na porta”, sem ter noção do que “poderia acontecer”. Disse que não sabia se seria agredido, interrogado ou preso.
“Não sabia se iam me levar para a Papuda, como foram os patriotas do 8 de janeiro, sem terem feito nada. Imaginei-me na Papuda sem poder me comunicar com a minha família. Sem poder sequer me defender. Eu imaginei, porque é nesse ponto que estamos. Portanto, eu senti o que nunca tinha sentido na minha vida. Estamos a falar do Brasil”, declarou.
‘Portugal sabe o que acontece no Brasil’
O jornalista português Sérgio Tavares disse ter sido alertado novamente para que não retornasse ao Brasil. “Recebi mensagens dizendo: ‘Não volte ao Rio de Janeiro. Não vai, Sérgio’”, falou. “Depois do que te aconteceu, vão fazer ainda pior, porque foi a Washington e a Bruxelas denunciar as atrocidades. Agora vai preso.”
Afirmou que, embora tenha entrado novamente no Brasil sem nenhum problema por um “divino milagre do Espírito Santo”, sente medo do momento que for deixar o país.
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“Embora esteja nesta Casa, do Senado, eu sei que estou dizendo tudo aquilo que nenhum brasileiro pode dizer. Se algum brasileiro dissesse lá fora aquilo que eu disse hoje aqui, já tinha sua conta cancelada, já tinha sua prisão, armas apontadas à sua cabeça, como fizeram ao Carlos Jordy”, declarou.
Sérgio Tavares falou que os brasileiros não precisam “se enganar”, uma vez que “os portugueses sabem bem o que está acontecendo aos brasileiros e sabem os nomes. Os portugueses até já sabem que o responsável não é Lula, é Alexandre de Moraes.”