(Artigo de J. R. Guzzo publicado no jornal Gazeta do Povo em 26 de setembro de 2022)
A Europa, definitivamente, não se cansa de oferecer aos países inferiores mais e mais lições sobre como as sociedades devem se comportar — e como devem ser governadas, é claro, porque os seus burocratas e os seus governos sabem fazer isso melhor do que ninguém. Quanto mais civilizada, responsável e globalista se torna, mais instruções a Europa tem a transmitir. A última delas é francamente assombrosa: a ministra do Meio Ambiente da Suíça propôs que as pessoas passem a tomar banho juntas, para economizar a energia gasta com o aquecimento da água. Não especificou quantas pessoas deveriam tomar esse tipo de banho solidário. Duas? Três? Mais? O que ela disse é que a Suíça tem de reduzir em 15% o seu consumo para evitar cortes de energia neste inverno que vem chegando. Isso mesmo: banho junto. Que tal?
Imaginem se o presidente Jair Bolsonaro fizesse uma proposta dessas — o que o mundo iria dizer? É melhor nem imaginar. Mas como a coisa vem da Suíça, é considerada o máximo de sabedoria, consciência ambiental e boa governança que a humanidade pode pretender. É tudo um perfeito disparate. Uma das definições mais precisas que já foram dadas sobre o papel dos governantes diz que a única função útil de sua existência é tornar a vida das pessoas mais cômoda — o resto é conversa trapaceira de ciência política. Temos, então, o seguinte exercício em demência: em pleno ano 2022 do século XXI, uma dirigente de um dos países tidos como um dos mais avançados do mundo propõe que a sua população se submeta ao incômodo diário de gastar menos água no banho, ou tomar menos banhos. Para que esse exagero de tomar banho todo dia? E qual será o próximo passo da ministra ecológica: dizer que as pessoas devem ir menos ao banheiro, para economizar a água de descarga das privadas? Já se pensou nisso.
Figuras como essa ministra, e soluções como as suas, são o resultado inevitável de anos seguidos de submissão automática dos governos civilizados, virtuosos e inclusivos da Europa ao fanatismo crescente da “causa ambiental”. Na sua aflição sem limites para parecerem ambientalmente corretíssimos com o “planeta”, caíram na irresponsabilidade — em benefício de grupos politicamente desajustados, que não firam eleitos por ninguém e querem impor uma conduta a todos, abandonaram seus deveres na busca e na manutenção de fontes de energia. Fingiram, para agradar à militância ecológica, que era possível manter a população nos mesmíssimos níveis de conforto, sem ninguém abrir mão de nada, e ao mesmo tempo reprimir a produção de energia — um dos demônios atuais da histeria ambiental. Deu na única coisa que poderia dar: crise. Com a suspensão no fornecimento russo de combustíveis, a Europa se vê agora, às portas do inverno, no desespero de encontrar energia para e aquecer. Os governos terão, até o fim do ano, de gastar 500 bilhões de euros para conter os aumentos brutais nas contas de energia. Só conter: os aumentos dispararam, e já atingiram alturas que o consumidor mal consegue pagar, quando consegue. É um desastre, para economias que já vêm sofrendo com crescimento baixo, inflação em alta, desemprego e o resto.
Enquanto isso, continuam todos de joelhos diante das seitas que militam contra “a mudança no clima”, o “consumo”, a “destruição da Amazônia” etc. — e escutam as recomendações da ministra suíça para tomar banho junto.