O economista e empresário Paulo Kogos (PTB), 36 anos, foi um dos primeiros brasileiros a disseminar as ideias libertárias no Brasil. Seu canal no YouTube, Ocidente em Fúria, tem aproximadamente 160 mil inscritos.
Em razão da escalada autoritária no país, Kogos abandonou temporariamente a carreira na iniciativa privada e decidiu entrar na política. Ele foi candidato a deputado estadual por São Paulo nas eleições deste ano, mas não conquistou uma vaga no Legislativo do Estado. “Não podemos pecar pela omissão”, afirmou o economista, em entrevista a Oeste. “Estamos caminhando no sentido contrário ao da política sábia, que é o fortalecimento da sociedade e a redução do poder centralizador dos governos.”
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Ao ser interpelado se não seria um contrassenso a participação de libertários na política, Kogos respondeu: “Um policial libertário pode fazer parte de uma corporação estatal, desde que aplique a força somente contra criminosos reais, como sequestradores, e não confisque a mercadoria de ambulantes honestos”. Segundo o economista, um político libertário precisa apenas revogar as leis injustas e promover leis justas. “Não há contradição nisso”, argumentou.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
— Por que o senhor se tornou libertário?
Mesmo antes de minha conversão formal à fé católica, em 2016, já tinha uma concepção cristã de Estado. O Estado deve evitar o caos, promover a ordem e proteger a sociedade. A construção da civilização deve ficar por conta das famílias, dos indivíduos, das comunidades e das empresas. O Estado implica coerção, e coerção implica risco moral. Essa ideia é o oposto do que defendem engenheiros sociais e planejadores centrais. Quando tive meus primeiros contatos com as ideias libertárias, nunca as concebi como formas de chegar a uma sociedade perfeita. Nunca pensei a política assim. Penso a política como a melhor forma de garantir que a lei natural seja respeitada, de modo a proteger os direitos naturais das pessoas e gerar harmonia social.
— Quando o senhor teve acesso a essas ideias?
Em 2005, quando servi ao Exército, no curso de formação de oficiais da reserva. Aprendi, por exemplo, a admirar as virtudes militares e o patriotismo. Contudo, percebi que algo tão importante quanto a defesa de uma nação não poderia ser gerenciado de uma forma centralizada e burocrática. Então, fiquei com a ideia de que as práticas empresariais pudessem contribuir para uma melhor gestão de defesa. Quando comecei a estudar economia, percebi que as aulas eram de engenharia social, desprovidas de qualquer fundamentação ética e epistemológica. Depois, encontrei a Escola Austríaca de Economia, cujos principais autores eram anarcocapitalistas e libertários. Percebi que uma sociedade só pode florescer quando todas as suas dimensões têm base em uma ética voltada para a promoção das virtudes. É nesse lugar onde as lideranças e as autoridades precisam se provar por seus méritos e não por imposições e decretos. De lá para cá, combato todos os monopólios estatais em todas as áreas, inclusive defesa e Justiça. De forma alguma rejeito a hierarquia e a ordem, que são as primeiras necessidades de uma civilização.
— Por qual motivo o senhor decidiu entrar na política?
Não podemos pecar pela omissão. O modernismo de fato centraliza muito poder nas mãos dos políticos. É fato concreto que as falsas autoridades possuem influência muito grande na vida das pessoas. Os cidadãos não podem ser deixados nas mãos daqueles que querem expandir esse poder ilegítimo. É preciso que a sociedade tenha uma proteção, assegurada por pessoas que usam o poder político para fortalecer a sociedade e reduzir o poder do Estado. Uma sociedade pautada pela educação das virtudes e pela construção de uma rede mercadológica de bens e serviços requer tempo para ser restaurada. Mas o poder estatal pode destruí-la em pouco tempo, como vimos na ditadura sanitária que teve início em 2020. Logo, é preciso uma proteção de curto prazo. É preciso que alguém detenha o Leviatã Estatal, para dar tempo de a sociedade se regenerar. E como detê-lo, se não com a arma mais poderosa que nos foi deixada, que é, lamentavelmente, a política?
Um político libertário precisa apenas revogar as leis injustas e promover leis justas
— Alguns estudiosos argumentam que é um contrassenso libertários participarem da política. Com o senhor avalia essa questão?
É preciso ler autores libertários consagrados, como o economista Murray Rothbard. Ele diz muito bem que são as atitudes erradas que contradizem os princípios libertários, não as posições que se ocupam. Um policial libertário pode, sim, fazer parte de uma corporação estatal — desde que aplique sua força somente contra criminosos reais, como sequestradores, e não confiscando mercadoria de ambulantes honestos. Um professor libertário, por sua vez, só precisa ensinar a verdade para continuar fiel a seus princípios. Já um político libertário precisa apenas revogar as leis injustas e promover leis justas. Não há contradição nisso. Ademais, um libertário vai adotar estratégias para promover a liberdade, não ficará parado. Seu objetivo não é parecer o mais puro dos libertários, e sim fazer algo concreto pela liberdade. Por isso, o filósofo e economista Hans-Hermann Hoppe estabelece uma série de estratégias para a ocupação de cargos políticos nas administrações locais.
— Qual é a diferença entre liberalismo e libertarianismo?
Pautas liberais são opostas à liberdade. Liberalismo significa rompimento com a verdade, com a autoridade que advém dela e com as hierarquias. A tirania estatal é um processo de substituição das justas hierarquias pelas falsas hierarquias. As pautas liberais nada adiantarão, servirão apenas para tornar o Estado ainda mais eficiente em aplicar a tirania e reduzir o indivíduo a uma peça isolada, sem amparo das instituições naturais e dos corpos intermediários, vulnerável a um aumento do poder estatal. Um político libertário pode aumentar a liberdade econômica de maneira que a sociedade possa ter mais recursos materiais e consiga promover o exercício das virtudes. Um político libertário também pode difundir suas ideias na tribuna e expor as intenções dos verdadeiros oligarcas, que odeiam o povo. Um político libertário pode revogar as regulações que impedem o livre mercado. Um político libertário pode combater na guerra cultural usando sua voz política, desfazendo as falácias esquerdistas. Um político libertário pode proteger as liberdades individuais, impedindo que certas instituições aparelhadas passem por cima dos pilares do Direito Ocidental, como o ativismo judicial tem feito ao promover censura e inquéritos ilegais. O libertário, na política, funciona como um muro de proteção. Uma barragem.
hAVEREMOS DE AVANÇAR. O H não é minúsculo.