Em junho de 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, Hitler surpreendeu o mundo ao invadir a Rússia e rasgar o pacto de não agressão (Molotov-Ribbentrop Pact) entre a União Soviética e Alemanha, empurrando o país comunista para ser um aliado da Grã-Bretanha. Winston Churchill, primeiro ministro britânico e um anticomunista de longa data, então disse: “Se Hitler invadisse o inferno, eu faria pelo menos uma referência favorável do diabo no Parlamento”, referindo-se ao fato da Grã-Bretanha se aliar à Rússia para lutar contra um mal maior, o nazismo.
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Guerras levantam bandeiras de trégua entre povos e nações, empurram grupos antagônicos para fora de qualquer zona de conforto em prol do bem maior, para uma batalha que se não combatida em conjunto.
Independentemente do espectro político e ideológico de cada um, elas podem ser letais para todos.
Seria leviano querer comparar guerras em verdadeiros campos de batalha com a nova guerra contra a covid-19, inimigo invisível que vem assolando países numa pandemia histórica. No entanto, fica cada dia mais óbvio que o coronavírus chegou para escrever um capítulo triste na história da humanidade sobre doentes e mortos em hospitais enquanto políticos se digladiam em suas arenas com discursos pré-fabricados em seus comitês apenas para fins políticos.
Os abutres do caos
Entre o que é realmente pandemia ou histeria, há um gigantesco hiato sendo preenchido por hipocrisia e sensacionalismo para que agendas ideológicas sejam empurradas em meio ao caos, milimetricamente alimentado por abutres que veem em cada desgraça a sua carniça de cada dia. A sensatez e a cooperação, qualidades esperadas e praticadas em momentos históricos em que todos estão no front e qualquer um pode ser atingido, parecem exceções num mar de platitudes e proselitismo barato visto todos os dias nas redes sociais e na grande mídia.
Em meio a tanta incerteza no campo do desconhecido que vem ceifando vidas, o presidente americano Donald Trump tem sido uma voz que vem norteando a nação mais rica e poderosa do mundo, mas que também está sendo obrigada a encarar o medo do frenético contágio viral da covid-19 do que pode trazer o colapso hospitalar até para este próspero país.
Antes de prosseguir, é preciso fazer uma confissão: Donald Trump não era meu candidato nas primárias republicanas em 2016 por várias razões que agora não vêm ao caso. No embate pela Casa Branca com a democrata Hillary Clinton, obviamente a opção mais racional era ele, já que políticas como um Estado mínimo e enxuto, estímulos para o livre mercado, reformas tributárias e a proteção à liberdade individual, por exemplo, fazem parte da agenda do Partido Republicano.
Três anos se passaram após a eleição do “controverso” agente russo, de infinitas conspirações holywoodianas e a terceira guerra mundial não veio como prometeram. Pelo contrário, os números do novo inquilino da Casa Branca amorteceram minha inicial apreensão ao mais novo “nazista, fascista, taxista,…” do partido Republicano. Há exatos três anos, testemunhamos aqui nos Estados Unidos, sob um bombardeio de notícias falsas, acusações e pedidos de impeachment desde o primeiro dia de seu governo. Hoje, a economia americana apresenta números impressionantes, como a menor taxa de desemprego desde 1969 — com o menor índice da história para negros e latinos — e com a incrível marca de 7 milhões de empregos criados desde 2017.
Depois de marcas expressivas na economia, e com o pragmatismo do americano focado no bem-estar de suas famílias, a reeleição de Trump parecia certa, principalmente diante de candidatos democratas que empurraram a agenda do partido para uma esquerda radical que defende, entre outras pautas absurdas, o aborto em qualquer fase da gestação, fronteiras abertas, direito de voto para presidiários, mais impostos, regulações e mais Estado na vida dos cidadãos.
Logo após o show de um pedido de impeachment vazio e sem sustentação pelos democratas, a popularidade de Trump aumentou entre eleitores independentes, normalmente os que podem definir eleições, e a reeleição começava a ser pavimentada. E então veio o vírus.
O inimigo invisível se alastrou pelo mundo, ceifando preciosas vidas e importantes pilares econômicos.
Em poucas semanas, os números da pandemia tornaram-se não apenas alarmantes na esfera humana, mas também no âmbito econômico, trazendo índices vistos apenas durante a Grande Depressão. Alertas foram acionados e forças-tarefas formadas para ações coordenadas com o propósito de proteger vidas humanas e dar algum oxigênio para a economia que sustenta milhões de famílias. O Congresso americano foi convocado para aprovar pacotes de emergência robustos para evitar o colapso do sistema de saúde e da economia, de modo a bloquear um efeito dominó no mundo de proporções catastróficas.
E eis que surge Nancy Pelosi. Líder democrata na Câmara, Pelosi foi responsável pelo fiasco do impeachment de Trump e pela perda de popularidade e confiança do eleitor democrata moderado no partido. Há mais de uma semana, o Senado tenta votar um pacote de ajuda financeira de US$ 2 trilhões que serão destinados a pequenas empresas e cidadãos americanos afetados pela crise que paralisou as atividades comerciais vitais na sociedade.
Nancy Pelosi, que há três anos tenta tirar Donald Trump da Casa Branca, entrou na negociação e fez algumas exigências para “ajudar” na aprovação do pacote emergencial. Na lista de socorro para a nação da líder democrata, bondades vitais e ajuda imediata como: “autorização para tirar título de eleitor no mesmo dia da votação”; “autorização para votar pelo correio sem precisar apresentar documento de identidade”; “limitar o poder de ação da Polícia Imigratoria (ICE)”; “aprovação de créditos fiscais para empresas de painéis solares e modificação dos padrões de emissões de carbono para companhias aéreas”. Respira, não acabou, não. “Orçamentos corporativos dedicados a iniciativas para diversidade e inclusão”; “extensões automáticas para vistos de trabalho para imigrantes”; “US$ 25 milhões para ‘Despesas e Salários’ na Câmara”. E, entre outros pontos cruciais para socorrer cidadãos e hospitais, por que não “US$ 25 milhões para o Centro de Artes Kennedy”?
Diante do desconhecido
A politização do vírus vai tomando conta de quem não aceitou até hoje perder as eleições e quer de todo jeito um terceiro turno, nos Estados Unidos e no Brasil. Há críticas pontuais para ambas as administrações no decorrer dos eventos dessa crise histórica, mas não é justo jogar toda a devastação humana e econômica no colo dos atuais gestores — principalmente no Brasil, onde herdamos uma recessão também histórica dos governos petistas. Nos últimos dias, o número de desempregados nos Estados Unidos, onde a economia pulsante mostrava os melhores números em décadas, bateu recorde. Chegou a três milhões em apenas uma semana. Imaginem o que vem por aí no Brasil…
Não há e não haverá soluções fáceis para problemas complexos.
O mundo está diante do desconhecido e com mais perguntas do que respostas. Urge que políticos e jornalistas desçam de seus palanques e pedestais. As soluções pedirão sensatez e honestidade intelectual e virão o quanto antes apenas se houver cooperação e não a atual dicotomia burra e cega pela politização da infectologia. As que nos tirarão do escuro, das camas de hospitais, dos respiradores e dos necrotérios não podem ser “isso OU aquilo”, e, sim, “isso E aquilo”.
Para os que andam pegando carona no corona e estão em alta velocidade apostando no “quanto pior, melhor” para ganho eleitoral, não se animem. A conta do fã-clube do vírus pode demorar, mas ela vai chegar, ela sempre chega. E aí, não há respirador que salve da morte política. Como Winston Churchill dizia: “A verdade é incontestável. A malícia pode atacá-la, a ignorância pode ridicularizá-la. Mas, no final, lá está ela.”
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