A vez do podcast

O site de monitoramento Listen Notes registra hoje 2,8 milhões de podcasts pelo mundo, somando mais de 128 milhões de episódios. O Brasil aderiu à onda e se tornou (segundo pesquisa da empresa americana Voxnest) o país onde a produção de podcasts mais cresceu desde 2020. Ainda de acordo com o Listen Notes, existem 20.780 podcasts brasileiros.

Se você não for um usuário, talvez esteja fazendo a inevitável pergunta: afinal, o que é um podcast? Neste artigo vamos responder a essa e outras dúvidas para quem quer entrar nesse universo em expansão. Vale a pena, e muito. Essa mídia ainda está na infância, e tende a ficar cada vez melhor.

O que é podcast?

Como comparação, pense no filme que passa na TV sem que você possa controlar, e no filme que está no serviço de streaming, a que você pode assistir quando desejar, pausar, adiantar e rever quantas vezes quiser. O podcast faz a mesma coisa com um programa de rádio. É uma rádio sob controle do ouvinte, que você pode ouvir na hora ou baixar para assistir mais tarde.

Então podcast é uma mídia sonora?

Já foi exclusivamente sonora. Hoje não é mais. Muitos podcasts são gravados com câmeras e exibidos de forma audiovisual e passam a ser chamados de “videocast”. Geralmente são produções mais simples, bate-papos e entrevistas ao redor de uma mesa. O YouTube anunciou nesta semana que vai oferecer de US$ 50 mil a US$ 300 mil para que criadores de podcasts sonoros criem versões visuais de seus programas e os transmitam na plataforma.

O que significa “podcast”?

O nome mistura as palavras “iPod” e “broadcast”. iPod era o player de música da Apple, que fazia enorme sucesso no início dos anos 2000. Broadcast quer dizer “transmissão”. O nome sugere algo como “rádio para iPod”, que foi o mais popular e cobiçado tocador de arquivos musicais MP3 da época. O termo foi inventado num artigo de Ben Hammersley para o jornal britânico The Guardian, em fevereiro de 2004.

Como surgiu o podcast?

Segundo a Wikipedia, o podcast nasceu no serviço de distribuição de notícias via internet, conhecido como RSS. Até lá, o RSS só distribuía textos. Em outubro de 2000, Tristan Louis e Dave Winer criaram o conceito de usar o RSS para distribuir também arquivos de áudio. Em agosto de 2004, o ex-VJ da MTV Adam Curry ampliou a ideia produzindo o Daily Source Code, um programa sonoro de variedades focado no desenvolvimento da mídia podcast. Em um ano, grandes empresas, como a NPR, BBC, CBC, Bloomberg e Financial Times, passaram a produzir programas para o novo formato. 

Que tipo de assunto é tratado nos podcasts?

Qualquer um. Coloque o nome “Brasil” num mecanismo de buscas de podcasts e você vai ter uma ideia da variedade dos assuntos tratados — saneamento, tecnologia, música regional, arquitetura, rock brasileiro, filosofia, religião, óvnis, paraolimpíadas, indígenas, forró, cerveja, investimento, fitness… A grande maioria dos podcasts trata de assuntos específicos.

Podcast dá dinheiro para quem produz?

Isso vai depender de vários fatores, como qualidade da produção, interesse pelo assunto tratado, carisma dos apresentadores — e muita sorte. O podcast mais famoso do mundo — The Joe Rogan Experience — é apresentado por um humorista e ex-comentarista esportivo sem grandes qualidades como apresentador. Ele recebe US$ 100 milhões por ano para ser exclusivo do serviço de streaming Spotify. Recentemente, envolveu-se numa grande polêmica por se colocar contra a obrigatoriedade da vacinação para covid. 

O podcast de maior sucesso do Brasil — o Flow — também enfrentou uma onda de revolta quando um de seus apresentadores disse (confessadamente bêbado) que partidos nazistas deveriam ser legalizados no país. O que se pergunta é como um podcast tão desleixado e precário como o Flow pode fazer sucesso e ganhar dinheiro. A resposta: existe um vasto campo de oportunidades a explorar nesse mercado, ainda no início de sua evolução.

Alguns podcasts já disponibilizam centenas de episódios, produzidos durante anos

Onde se ouve/assiste a um podcast?

Você precisa de um player, no seu celular ou no computador. Através desse player, o programa poderá ser transmitido também para sua TV. Existem dezenas de aplicativos gratuitos à disposição em lojas virtuais, como Google Play e Apple Store. Entre as opções, estão o Google Podcast, Podcast Player, Stitcher, iHeart, Podcast Republic, AntennaPod, Podcast Go etc. Os principais serviços de streaming musical, como Spotify, Deezer e Tidal, também já transmitem podcasts. O YouTube está cheio de videocasts.

Como eu escolho um podcast?

Basta abrir um desses players e digitar o programa que você quer no campo de busca. É como dar um Google. Você pode também colocar um tema e as opções vão aparecer. Quando achar o que você quer, “assine” o programa, geralmente clicando num sinal de “+” ou num coraçãozinho. A cada novo episódio do programa escolhido, você será avisado, com a opção de download automático. Mas você não precisa baixar: ele pode ser acessado pela internet, como um filme da Netflix.

Quanto dura um podcast?

Em termos de número de episódios, não há limite. Alguns podcasts já disponibilizam centenas de episódios, produzidos durante anos. Quanto à duração de cada episódio, isso varia. Grandes empresas jornalísticas internacionais costumam lançar boletins em formato de podcast com dez minutos ou menos. Já alguns podcasts do tipo “bate-papo informal entre entrevistador e entrevistado” chegam a durar mais de duas horas por episódio.

Todo podcast é de bate-papo?

Boa parte deles é, porque esse formato é o mais fácil de ser produzido. Mas a mídia acomoda muitos outros gêneros. Existem podcasts de reportagem, com entrevistas, depoimentos, narrativas do repórter etc. Existem podcasts de ficção, que revivem o tempo do radioteatro e da radionovela. Outros reproduzem programas de rádio do passado, funcionando como um acervo. Há podcasts musicais, de assessoria financeira, reunião de fãs de uma série, de casos policiais, de piadas, podcasts sobre filosofia, conselhos sobre pets, orientações médicas, resenhas de aplicativos. A imaginação é o limite.

É difícil produzir um podcast?

Depende do que você pretende. Com um aplicativo como o Anchor é possível produzir um podcast simples no celular. Se o objetivo for um videocast de nível profissional, aí vai ser necessário um estúdio com microfones, câmeras, um programa de edição etc. Acabou o tempo em que era necessário ter uma licença do governo para conseguir uma emissora de rádio. Qualquer um hoje pode ter seu próprio programa transmitido para o mundo inteiro.

Para começar a explorar o universo dos podcasts, confira algumas indicações:

Sinapse (do canal Ciência Todo Dia, no YouTube)

O podcast, apresentado por Pedro Loos e Greg de Souza, trata de temas como “o que existia antes do Big Bang” e viagens para Marte.

 

Mesa Pra Quatro

Bate papo informal sobre finanças, com Dan Stulbach, Teco Medina, Caio Mesquita e convidados.

 

Intelligence Matters

Um podcast sobre organizações de Inteligência, militares e espionagem. Apresentado pelo ex-diretor da CIA Michael Morell.

 

The Moth

Desde 1997, pessoas comuns contam suas histórias reais a uma plateia de estranhos, formando uma rede de narrativas.

 

Like a Boss
Um podcast brasileiro sobre startups e empresas inovadoras.

 

Hangar 18

Óvnis e casos estranhos. Apresentação de Cristiano Zoucas e Fernando Ribas.

 

Inovação Sem Filtro

Podcast sobre “inovação, estratégia, colaboração e criatividade”, com Raúl Javales e Fábio Morais.

 

Elefantes na Neblina

Neste podcast anônimo, três amigos conversam sobre assuntos filosóficos, espirituais e “sobre o que é ser um humano em nossos curiosos e complexos tempos”.

 

Inteligência Ltda.

Entrevistas bem-humoradas com Rogério Vilela, “comediante, quadrinista e aeromoça”.

 

Canal do Negão

Alessandro Santana, o “Negão”, que se nega a ser vítima, em conversas informais sobre sua vida na periferia de São Paulo.

 

Field Recordings

Um podcast sem fala. Apenas sons coletados pelo mundo — sinos numa igreja da Ucrânia, uma relojoaria de Londres, uma tempestade de neve na Rússia etc.

 

Culture Wars

Os conflitos culturais contemporâneos (com temas como cancelamento, militância etc.), pela equipe da revista Spiked.

 

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