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Foto: Shutterstock
Edição 111

Bancos digitais: a chegada do Revolut e a bola fora do Nubank

Um russo e um ucraniano se preparam para invadir o país. E elogiam a tecnologia financeira do Brasil

Bruno Meyer
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O executivo Glauber Mota, escolhido para ser o CEO da operação brasileira do Revolut, saiu impressionado com a empolgação do russo Nik Storonsky (patrimônio: US$ 7 bilhões) e do ucraniano Vlad Yatsenko (patrimônio: US$ 1 bilhão). Storonsky e Yatsenko fundaram o Revolut, hoje considerado o banco digital mais valioso do mundo, com um valor de mercado de US$ 33 bilhões. Em recente conversa presencial, a dupla apontou dois motivos para o banco europeu desembarcar no Brasil: a receptividade do brasileiro com os bancos digitais e a soma de mão de obra talentosa em várias áreas. 

Com 3 mil funcionários e sede em Londres, o Revolut já tem brasileiros no staff. “Eles estão apostando muito no pool de talentos que o Brasil tem”, diz Mota. “O brasileiro tem se destacado muito e é capturado por empresas de fora. O país exporta talentos. Precisamos agora dar oportunidades para os talentos daqui, para que eles tenham as mesmas condições que as empresas gringas oferecem, mas para trabalhar no Brasil e para o brasileiro.” 

Glauber Mota, CEO do Revolut | Foto: Divulgação

Mais um?

Com mais de 18 milhões de clientes em 35 países, o Revolut chegará ao país com uma sensação cética entre muitos de que “mais um banco digital na área vem aí”. O cenário, afinal, é de ampla competição: o Nubank tem 52 milhões de usuários no país; o Inter, 16 milhões; o C6, outros 16 milhões. Fintechs dos bancos tradicionais Itaú e Bradesco, o iti e o Next, vão bem, igualmente, com 10 milhões cada um em suas bases. 

A acirrada concorrência não assusta os fundadores: “A grande competição torna o Brasil mais atrativo ainda, porque as pessoas já experimentaram a novidade digital”, diz Mota. “Não tem mais a barreira de entrada que tinha antigamente.” O executivo diz que o brasileiro tem, em média, de três a quatro aplicativos financeiros para resolver problemas diferentes — e quer acabar com isso. 

A tática

A grande tacada do Revolut será oferecer o primeiro aplicativo global, o que vai possibilitar ao usuário fazer viagens internacionais sem o oneroso IOF do país, que cobra 6,38% de compras feitas no exterior. O cliente que vai para os Estados Unidos ou Europa pode mandar automaticamente dinheiro em dólar para wallets de mesma titularidade e tendo uma cobrança de 1,1% de imposto, com acesso direto a mais de 28 moedas automaticamente. 

Esse é o primeiro passo a ser lançado de preferência antes da Copa do Mundo do Catar. O banco digital quer ampliar os serviços — como investimentos no exterior, em criptomoedas e na área de seguros. Almeja ser um hub de tecnologia da instituição para desenvolver toda a América Latina e um dos cinco maiores mercados da companhia no mundo.

Habemus vagas

A necessidade atual da operação brasileira é preencher 50 vagas de trabalho imediatas. Mas, de acordo com Glauber Mota, a ambição é ter muito mais profissionais do que esse número. Como todo líder de uma empresa tecnológica, a preferência é por candidatos da área. “Sem dúvida, é o setor com mais demanda, mas com mais competição no mercado”, diz Mota. Profissionais ligados à controladoria — como compliance, prevenção, gestão de riscos e lavagem de dinheiro — também serão requisitados. 

“Um mix de controle e tecnologia é o carro-chefe das próximas contratações”, diz Mota. O executivo está em busca também de um escritório de 1,2 mil metros quadrados, de Pinheiros ao Brooklin, bairros paulistanos que ligam de ponta a ponta a tradicional Avenida Faria Lima. Para os novos contratados, uma dica: Mota é entusiasta do trabalho híbrido. “Trabalho 100% remoto não funciona”, diz.

Vanguarda brasileira

Formado em engenharia elétrica no Instituto Militar de Engenharia (IME), e com passagens por instituições como Itaú e BTG Pactual, Mota foi um dos diversos nomes que apareceram na lista de possíveis CEOs para a operação brasileira. Só foi aprovado depois de muitos meses de um árduo processo seletivo. 

A abordagem para a vaga máxima brasileira sucedeu três anos depois de ele bater na porta do banco digital em Londres atrás de informações para uma ampliação da área digital do BTG Pactual, banco do qual foi sócio por seis anos. No período de estudos na Inglaterra sobre fintechs no mundo, ele trouxe uma definição, inclusive defendida na conversa com os fundadores do banco inglês: “O Brasil está na vanguarda do mercado de tecnologia financeira”, diz. “Nós desenvolvemos o Pix, o open finance, e o Banco Central tem feito um ótimo trabalho de incentivar a chegada de mais competição e benefícios para o brasileiro”. 

David Vélez, fundador do Nubank | Foto: Divulgação

Fora do tom

Pegou mal, muito mal no mercado a remuneração programada para um seleto time do Nubank. A previsão é que os oito integrantes da diretoria possam receber neste ano mais de R$ 804 milhões. 

Os valores fazem parte do formulário de referência do Nubank, documento que companhias de capital aberto têm de entregar todos os anos à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Maior banco da América Latina, o Itaú Unibanco prevê destinar R$ 425 milhões para a remuneração dos 25 membros da diretoria neste ano. 

Em comunicado ao mercado, o Nubank se justificou nesta semana pela má repercussão. Alegou que o pacto é composto de R$ 678 milhões do plano de entrega de ações ao fundador, o colombiano David Vélez. Está condicionado ao cumprimento de metas ambiciosas e deverá representar praticamente 100% da remuneração total do executivo nos próximos cinco anos.

Como gastar R$ 100 milhões?

Não há problema algum em remunerar bem executivos que entregam grandes resultados. Acontece que o banco digital, lançado em 2013, ficou no vermelho até o fim do segundo semestre de 2021. Desde o IPO, em dezembro, perdeu 40% do valor e viveu uma semana para ser esquecida ao fechar na mínima histórica. Como diz um meme que circulou no Twitter: “Enquanto o banco opera com prejuízo e você perde nas suas ações quase 50% desde o IPO, os diretores do banco ganham R$ 100 milhões por ano e os donos dizem não saber como gastar tanto dinheiro que possuem ????“. Vélez tem dito que vai doar a maior parte de sua fortuna e aderiu, em agosto de 2021, ao programa de filantropia de Bill e Melinda Gates. 

Os 5 mais

Com a remuneração anunciada do Nubank, ficou assim a lista dos cinco executivos mais bem pagos no Brasil:

David Vélez (Nubank): R$ 678 milhões;

Milton Maluhy (Itaú): R$ 52 milhões;

Gilson Finkelsztain (B3): R$ 51,2 milhões; 

Mario Leão (Santander): R$ 41,3 milhões; 

Gilberto Tomazoni (JBS):  R$ 32,1 milhões.

Empresa Movida | Foto: Wikimedia Commons

A vez dos seminovos

A Movida, terceira maior do setor de locação de veículos e gestão de frotas no Brasil, movimentou cerca de R$ 1 bilhão nos três primeiros meses de 2022 com a venda de carros seminovos. 

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Leia também “Vinhos de todos os tipos, para todos os gostos”

3 comentários
  1. Atilio Alvares Monteiro
    Atilio Alvares Monteiro

    Encerrei minha conta no Nubank assim que soube da contratação de Anitta para o conselho administrativo.
    Cada dia que passo vejo que foi uma decisão acertada.
    Aguardando o Revolut para ter novamente uma conta digital em um banco decente.

  2. ERANDIR BARROSO DE SOUSA
    ERANDIR BARROSO DE SOUSA

    Que esse novo Banco Digital possa provocar uma melhoria nos serviços oferecidos. Os banqueiros estão preocupados só em ganhar bons salários, às vezes nem ligam se os acionistas estão ganhando algo. Menos taxas e um serviço mais personalizado é o que os brasileiros querem.

  3. Joviana Cavaliere Lorentz
    Joviana Cavaliere Lorentz

    Me poupe. Mas violar regras tributárias é crime no Brasil. Aliás crime bem grave.

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