No início de abril, o jornalista Gabriel de Arruda Castro ouviu a proposta de Oeste: acompanhar no Canadá o dia a dia de uma reserva indígena e contar como vivem seus habitantes. Há muito tempo, a comunidade trocou o comércio primitivo, baseado na venda de peles de animais, pela extração de petróleo. Previsivelmente, Gabriel topou dedicar-se a uma reportagem que poderia alongar-se no tempo. Ele sempre apreciou investigações complicadas.
Horas depois do convite, Gabriel tinha duas informações a transmitir. Primeira: a passagem pelo Canadá seria retardada por numerosas exigências decorrentes da pandemia de covid-19. A segunda era uma boa notícia: ele descobrira que nos Estados Unidos, onde mora, havia uma comunidade semelhante. Melhor ainda: já providenciara o orçamento, cuidara da logística e, portanto, poderia embarcar na mesma semana. Repórteres comuns teriam estacionado nas dificuldades e derrubado a pauta. No jargão jornalístico, essa expressão avisa que a reportagem morreu no nascedouro.
Aos 34 anos, jornalista há 12, esse paulista de Mogi das Cruzes trocou Brasília pelo Kansas em 2019. Insatisfeito com a qualidade dos programas universitários brasileiros, faz doutorado em ciências políticas nos Estados Unidos, ao lado da mulher, Bruna, mãe de suas três filhas. Pouco inclinado a mudanças drásticas nos costumes, Gabriel também não simpatiza com agudas transformações no visual. Nos últimos dez anos, o aparecimento de alguns fios grisalhos foi a única mudança na barba e no cabelo castanho-escuro. Tampouco mudaram o olhar franco e o suave sorriso.
A passagem pela reserva indígena incluiu voos cancelados por mau tempo, carros alugados às pressas para viagens de até oito horas. Numa delas, Gabriel enfrentou uma tempestade de neve. “Valeu a pena”, diz o repórter vocacional.
Em 2012, num dos melhores momentos da revista Veja, Gabriel trabalhava na sucursal de Brasília quando se tornou uma peça essencial nos mais de 200 debates sobre o julgamento do Mensalão pelo STF, que reuniram colunistas e notáveis figuras do mundo jurídico. Ele alimentava as análises transmitidas pela internet com notícias que colhia nos subterrâneos da capital federal. “Gabriel Castro fez um trabalho brilhante”, resume Augusto Nunes, que participou dessa maratona jornalística. A definição é confirmada pela reportagem de capa desta edição de Oeste. O material que colheu baliza o caminho a ser seguido por tribos brasileiras, condenadas por gente que nunca viveu numa oca a sobreviver para sempre num Brasil estacionado em 1500.
Boa leitura.
Branca Nunes
Diretora de Redação
Isso eh imprensa construtiva. Parabens
esperando acontecer aqui no Brasil
Gabriel brilha por onde passa.
Nesta semana, foi um enorme prazer reencontrá-lo aqui na Oeste.
As excelentes matérias de Gabriel de Arruda Castro e Ana Amália Bernardi, parabéns a ambos, são elucidatoras dos caminhos, se não iguais, a serem seguidos pelos povos indígenas para conquistar os direitos que os povos indígenas tem para melhorar sua qualidade de vida. Falta vontade política dos nossos legisladores para fazer o que deve ser feito do ponto de vista de regulamentar essa questão e o nosso Sistema Judiciário e o Ministério Público entender que não são eles que sabem o que é ou não bom para esses povos, e ficar calados.
Parabéns a Revista Oeste, pela iniciativa. Essas matérias precisam ser valorizadas e divulgadas entre as pessoa que querem um Brasil cada vez melhor para TODOS os brasileiros, isso significa a inclusão de nossos povos nativos.