Pular para o conteúdo
publicidade
Alexandre de Moraes ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) | Foto: Pedro França/Agência Senado
Edição 122

Um tribunal que joga para Lula

Moraes proibiu que qualquer brasileiro diga nas redes sociais uma única palavra sobre as possíveis ligações que existem entre Lula, o PT, o PCC e o assassinato do prefeito Celso Daniel

J. R. Guzzo

-

Prepara-se neste momento no Brasil, à vista de todo mundo e com a falsificação da lei por parte dos que têm a obrigação de garantir o seu cumprimento, o que tem toda a cara de ser o roubo de uma eleição — ou algo tão parecido com isso, mas tão parecido, que fica difícil dizer qual seria a diferença. Podem não conseguir. Podem desistir no meio do caminho. Pode até ser, dentro do princípio geral de que tudo é possível, salvo prova científica em contrário, que acabe havendo eleições limpas para a escolha do próximo presidente da República daqui a dois meses e meio. Mas provavelmente nunca, nos 522 anos de história deste país, uma facção política que controla a eleição e a apuração dos votos fez tanto esforço para dar a impressão que está usando o aparelho do Estado com o propósito de fazer exatamente isso: garantir, antes da votação e seja lá qual for a vontade dos eleitores, a vitória do seu candidato à presidência. Esse candidato é o ex-presidente Lula.

Não basta que uma eleição seja honesta. Ela tem de parecer honesta, como a mulher de Cesar
Não há nisso tudo nenhum mistério ou problema incompreensível de física nuclear. Vota-se, no Brasil, com um sistema eleitoral que essencialmente só é utilizado em dois outros países, Butão e Bangladesh — e não se admitiu até agora a mínima sugestão para dar mais segurança ao processo. Encerrada a votação, um funcionário do Estado que preside o “tribunal eleitoral”, uma aberração que não existe em nenhuma democracia séria do mundo, vai dizer quem ganhou — sem que haja, por parte de ninguém, a possibilidade material de verificar se a apuração dos votos corresponde à vontade que a maioria dos eleitores registrou nas urnas eletrônicas. Esse funcionário é o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, com o apoio fechado de oito entre os seus dez colegas de função pública — é ele quem vai chefiar o TSE nessas eleições. Acontece, muito simplesmente, que o ministro Moraes dá a entender todos os dias, pelas decisões oficiais que está tomando, que não é imparcial. Ao contrário: age como inimigo aberto de um dos candidatos, o presidente da República, e como militante também aberto do seu adversário. Não é uma questão de achar ou não achar isso ou aquilo. É o que está nos despachos do ministro. Como evitar, assim, que cresça dia a dia a desconfiança geral na honestidade dessas eleições? Não basta que uma eleição seja honesta. Ela tem de parecer honesta, como a mulher de Cesar. Essa aí não está parecendo, nem um pouco.

publicidade

Newsletter

Seja o primeiro a saber sobre notícias, acontecimentos e eventos semanais no seu e-mail.